Charles se torna chefe da Igreja da Inglaterra; o que isso significa?
Ao se tornar rei dos britânicos, Charles 3º também assumiu o cargo de Governador Supremo da Igreja da Inglaterra. Na teoria, portanto, o monarca governa a igreja cristã oficial do Estado britânico. Mas, na prática, o que isso significa?
A Igreja da Inglaterra e a Comunhão Anglicana
Primeiramente, é importante dizer que, ao contrário do que muitos acreditam, Charles 3º não será o chefe da Igreja Anglicana como um todo. Isso porque, ao contrário da Igreja Católica Apostólica Romana, que é a mesma em qualquer canto do mundo, o anglicanismo é uma religião formada por muitas igrejas nacionais e todas elas estão unidas por meio da Comunhão Anglicana.
A Igreja da Inglaterra é considerada a igreja-mãe da Comunhão Anglicana, mas isso não significa que exerça um poder sobre as demais.
"É uma relação de parceria e de horizontalidade. Dividimos com a Igreja da Inglaterra as práticas litúrgicas e doutrinárias, por exemplo", explicou o bispo Cézar Fernandes Alves, da diocese anglicana de São Paulo, parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Portanto, Charles agora é o governador específico dessa Igreja. No entanto, ele não tem qualquer influência religiosa ou litúrgica sobre ela. O bispo-primaz da Igreja da Inglaterra é o Arcebispo da Cantuária, atualmente Justin Portal Welby. É ele quem, de fato, exerce a liderança espiritual sobre a Igreja da Inglaterra.
"É meio paradoxal. Você vai nas igrejas e todos oram pelos monarcas. Os bispos da Igreja da Inglaterra são eleitos por clérigos, leigos e uma comissão do primeiro-ministro. Só que essa nomeação episcopal quem faz é o rei", contou bispo Cézar Fernandes Alves. "Portanto, o cargo do rei é muito mais simbólico do que real. A autoridade dele é simbólica. Quem toma as decisões da igreja é o sínodo, que é o corpo administrativo da igreja", completou.
Como a Igreja da Inglaterra, a realeza e o poder caminham de forma junta, o bispo-primaz também tem uma certa liderança de Estado como membro da Câmara dos Lordes. Ele também é o líder espiritual de toda Comunhão Anglicana, mas com uma autoridade limitada sobre as igrejas nacionais.
"Estamos em comunhão com o Arcebispo de Cantuária, mas ele não exerce uma autoridade como a do papa (no catolicismo). Ele pode aconselhar, propor, mas ele não tem uma jurisdição aqui no Brasil", explicou o bispo Cézar Fernandes Alves.
O rei exerce influência entre os anglicanos brasileiros?
Sem dúvida, muitos anglicanos ao redor do mundo nutrem simpatia pela realeza britânica até pelo fato de compartilharem a mesma religião. Em suas redes sociais, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, por exemplo, manifestou pesar pela morte da rainha Elizabeth 2ª. No entanto, o monarca britânico não exerce nenhuma influência sobre a Igreja no Brasil.
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é a 19ª província das 42 que formam a Comunhão Anglicana e é dirigida por um bispo-primaz, eleito por um período de quatro anos. Ele precisa trabalhar em comunhão com os demais bispos e com os sínodos.
O rei desconsidera as outras religiões?
Apesar do cargo na Igreja da Inglaterra, o rei precisa respeitar a liberdade religiosa em todo Reino Unido. O Estado pode até ter uma religião, mas isso não significa que seus cidadãos não possam livremente ter sua própria fé. Em seu primeiro discurso como rei, Charles 3º enfatizou o fato de ser responsável pela Igreja da Inglaterra, mas deixou claro que irá servir a todos seus súditos "qualquer que seja sua origem ou crença", o que reforça o respeito pela liberdade religiosa.
Afinal, o que é o anglicanismo?
A religião anglicana surgiu na Inglaterra e se separou do catolicismo romano em 1534, após o papa excomungar o rei Henrique 8º. Porém, até hoje, a religião possui traços que a aproximam liturgicamente dos católicos. Isso significa que uma missa anglicana se parece mais com uma missa católica do que com um culto evangélico.
"O que caracteriza o anglicanismo é que é uma igreja ponte entre a tradição católica e a tradição reformada do protestantismo. Ela é católica e reformada. É uma igreja em que os clérigos, homens e mulheres, podem se casar, que tem ordens monásticas, uma liturgia profundamente bíblica e ao mesmo tempo próxima da liturgia católica, e um sistema de governo muito democrático. Nós costumamos dizer que é uma igreja católica reformada", explicou o bispo Cézar Fernandes Alves."
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