Após ataque na Crimeia e avanços da Ucrânia, Rússia muda comandante militar
Poucas horas depois de uma explosão derrubar a ponte que liga a península da Crimeia ao território continental da Rússia, o governo de Vladimir Putin decidiu mudar o comando das forças que atuam na invasão da Ucrânia.
De acordo com o jornal americano New York Times, o general Sergei Surovikin, da Força Aérea russa, assumirá o comando das forças russas na Ucrânia. A mudança foi anunciada pelo ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, por meio de uma publicação no aplicativo de mensagens russo Telegram.
"O general do Exército Sergei Surovikin foi nomeado comandante do grupo de tropas na zona de operação militar especial na Ucrânia", escreveu Shoigu.
Até esse momento, o governo Putin não anunciava publicamente o nome do comandante da operação militar especial —forma como a Rússia chama a invasão à Ucrânia. Contudo, a inteligência britânica havia constatado que o cargo era ocupado até ontem pelo general Alexander Dvornikov, segundo a agência Reuters.
A troca no comando ocorre em um momento de fragilidade das tropas russas na Ucrânia, com seguidos revezes no fronte e crescente pressão interna contra a guerra.
Quem é o novo comandante russo? Surovikin, 55, lidera as Forças Aéreas e Espaciais da Rússia desde 2017. De acordo com o site do ministério, ele comandou uma divisão de guardas estacionada na Chechênia em 2004, durante a guerra de Moscou contra os rebeldes islâmicos, e recebeu uma medalha por seu serviço na Síria em 2017.
Ele também lutou na guerra civil do Tadjiquistão, na década de 1990, e na segunda guerra da Chechênia, nos anos 2000, de acordo com o NYT.
Antes de ser promovido, ele flanco sul das tropas da Rússia em território ucraniano.
Rússia sob pressão. Nas últimas semanas, uma contraofensiva ucraniana recuperou milhares de quilômetros de território antes controlados pelas tropas russas.
As derrotas fizeram com que Putin determinasse a convocação de 300 mil reservistas para atuar no esforço de guerra. A medida provocou uma onda de protestos em cidades russas e a fuga em massa de homens em idade militar pelas fronteiras com países vizinhos, como Finlândia e Cazaquistão.
Por conta das perdas, Putin já havia demitido no início desta semana dos comandantes de duas das cinco regiões militares da Rússia.
Alas mais radicais dentro da política russa aumentam a pressão para que o país utilize armas nucleares táticas no conflito com a Ucrânia. Esse tipo de armamento tem um poder de destruição menor e são projetadas para destruir alvos específicos, como bases militares, fileiras de blindados ou frotas navais.
As ogivas com maior poder de destruição, como as utilizadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagazaki, são chamadas de armas nucleares estratégicas. Este tipo de bomba atômica é capaz de destruir cidades inteiras.
Quem explodiu a ponte? A ponte atingida pelas explosões neste sábado liga o território russo à península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia mas foi anexada por Putin em 2014. A obra foi inaugurada em 2018, para consolidar o domínio da Rússia sobre a região.
Oficialmente, o governo ucraniano não assumiu a autoria do ataque, mas várias autoridades do país comemoraram a explosão da ponte nas redes sociais, inclusive Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, e Emine Dzheppar, vice-ministra de negócios estrangeiros do país.
Mykhailo Podolyak, conselheiro do chefe de gabinete, publicou no Twitter uma imagem da ponte destruída com os dizeres: "Tudo ilegal deve ser destruído, tudo roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo ocupado pela Rússia deve ser expulso". Mais tarde, porém, ele divulgou outra mensagem, sugerindo que os russos estariam por trás do incidente.
Já o serviço postal da Ucrânia anunciou no Twitter e em seu site oficial o lançamento de um selo comemorativo sobre a explosão. O selo mostra os personagens Jack e Rose, protagonistas do filme Titanic, à frente da ponte em chamas.
Qual a importância da ponte? Construída em 2018 ao custo de US$ 3,6 bilhões, a ponte é um símbolo da anexação da península da Crimeia pelo governo russo.
Após o início da guerra, em fevereiro, a obra se tornou a principal rota de abastecimento para as forças russas que lutam para manter o território capturado no sul da Ucrânia.
A Crimeia tem ligação terrestre com Kherson, uma das quatro províncias ucranianas que a Rússia anexou em setembro, após fazer plebiscitos que não tiveram reconhecimento internacional.
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