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Ursos pardo e polar estão criando raça híbrida devido ao aquecimento global

Urso-grolar: espécie híbrida entre ursos pardos e ursos polares torna-se mais comum com avanço das mudanças climáticas. - Getty Images/iStockphoto/Philippe Clement
Urso-grolar: espécie híbrida entre ursos pardos e ursos polares torna-se mais comum com avanço das mudanças climáticas. Imagem: Getty Images/iStockphoto/Philippe Clement

Do UOL, em São Paulo

21/11/2022 04h00Atualizada em 21/11/2022 07h58

As alterações no clima do planeta trazem repercussões para a natureza e para os animais, cada vez mais impactados em seus habitats. A recente aproximação geográfica que vem ocorrendo entre ursos polares e ursos pardos na Rússia, como informa a agência russa Tass, é um exemplo dessas consequências. Por conta do contato mais próximo em um mesmo ambiente, as duas espécies distintas estão mais propícias a acasalarem entre si, dando origem a uma híbrida: os pizzlies, também conhecidos como ursos grolar.

Estudos indicam que o derretimento do gelo da cobertura do Ártico, utilizado por ursos polares para caçar focas, seu principal alimento, os obriga a explorar novas regiões, mais ao interior dos territórios onde habitam. Ao mesmo tempo, com o aquecimento de áreas antes inabitáveis, ursos pardos exploram áreas mais ao norte do planeta, resultando na sobreposição do habitat das duas espécies.

No extremo oriente da Rússia, onde vivem os ursos polares, os cientistas constataram a presença de ursos pardos. Eles acreditam que esse compartilhamento tornará a hibridização mais frequente em um futuro próximo.

Pesquisas realizadas em outubro indicaram a existência de 60 ursos polares vivendo na região, que estão sendo protegidos como parte da Reserva Natural das Ilhas Bear.

"Os ursos pardos estão se movendo para a tundra. Eles foram vistos nos limites mais baixos do rio Kolyma, onde os ursos polares vivem", disse Innokentiy Okhlopkov, cientista da filial siberiana da Academia Russa de Ciências (RAS), à TASS.

Duas espécies x um híbrido

Os ursos polares são considerados os maiores predadores terrestres do planeta e sobrevivem com uma dieta específica à base de gordura. Já os pardos são mais flexíveis: eles estão adaptados para comer alimentos duros como tubérculos ou para procurar comida em carcaças em situações nas quais os recursos sejam limitados.

Agora, a espécie híbrida traz comuns características de ursos polares e pardos em um só animal. Isso facilitaria, em tese, a sobrevivência dos animais frente às mudanças climáticas. No entanto, conforme o tabloide britânico Daily Mail, especialistas alertaram que as características adaptativas dos ursos pardos podem fazer com que eles geneticamente "comam ursos polares", colaborando para extinção da espécie.

Registros anteriores

A primeira vez em que cientistas perceberam essa espécie na natureza foi em 2006. Cientistas canadenses analisaram um urso polar com características incomuns que havia sido abatido por caçadores. Seu pelo possuía marcas marrons e o focinho tinha uma anatomia diferente. Testes de DNA apontaram ser, na verdade, uma espécie híbrida entre urso polar e urso pardo, segundo a Tass.

Em 2010, outro urso foi morto na mesma região ártica do Canadá. Dessa vez, concluiu-se que o animal era o resultado do cruzamento de uma mãe híbrida e um pai pardo - o que indicava a existência de outros exemplares híbridos.

Desde então, as mudanças climáticas se intensificaram ainda mais no planeta - tema que vem sendo debatido nesta semana durante a COP 27. O Daily Mail destaca que um estudo de 2020 alertou para o risco que a maioria das populações de ursos polares morra até 2100, devido à diminuição do seu habitat com o derretimento do gelo marinho do Ártico.