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Juan soco e milpesos: como são os frutos amazônicos que salvaram crianças

As crianças que sobreviveram 40 dias na selva amazônica após a queda de um avião sobreviveram graças ao consumo de frutas silvestres, como o juan soco - Reprodução
As crianças que sobreviveram 40 dias na selva amazônica após a queda de um avião sobreviveram graças ao consumo de frutas silvestres, como o juan soco Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/06/2023 04h00

As quatro crianças que sobreviveram após a queda de um avião na Amazônia colombiana conseguiram permanecer vivas por 40 dias na selva graças a kits de sobrevivência deixados pelo Exército em pontos estratégicos, farinha de mandioca e a frutas próprias da mata.

Como foi a alimentação das crianças

Lesly Mucutuy, 13, Soleiny Mucutuy, 9, Tien Mucutuy, 4, e Cristin Mucutuy, 1, alimentaram-se principalmente de uma fruta conhecida localmente como juan soco e uma planta chamada na região de milpesos. A informação foi repassada pelo socorrista indígena Henry Guerrero ao jornal colombiano El Tiempo. Eles passaram pouco mais de um mês perambulando pela floresta até serem resgatados na semana passada.

As crianças precisaram recorrer às frutas silvestres depois que a comida que estava no avião e os kits de sobrevivência acabaram. Os socorristas chegaram a essa conclusão graças a vestígios deixados pelos irmãos e porque na boca de um deles foi encontrada a semente da fruta que dá origem à planta chamada milpesos.

Nativa da região amazônica, o fruto da milpesos (Oenucarpus bataua arecaceae) serve de alimento e, quando triturado, produz um suco saboroso. Segundo o Instituto de Pesquisas Científicas da Amazônia (Sinchi), essa planta é um tipo de palmeira muito comum em florestas úmidas, como é o caso da mata amazônica. No Brasil, a espécie ganha outros nomes populares.

A colheita dos frutos dessa palmeira ocorre entre fevereiro e junho — o avião com as crianças caiu na selva no dia 1º de maio.

O juan soco, nome local da espécie Couma macrocarpa, é uma fruta parecida com a ameixa, produzida por uma árvore de mesmo nome, de fácil crescimento em regiões úmidas, segundo o Sinchi.

Essa fruta tem polpa amarelada e é adocicada, com sabor semelhante ao de uma pera.

O consumo de farinha de mandioca também foi essencial para a sobrevivência dos irmãos. Eles se alimentaram de restos do alimento, tirados dos destroços da aeronave.

frutas colombianas - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
As frutas juan soco (Couma macrocarpa) e milpesos (Oenocarpus bataua arecaceae) serviram de alimentos para as crianças na Amazônia colombiana
Imagem: Reprodução/Twitter

Resgate

Lesly, Soleiny, Tien e Cristin foram encontrados 40 dias depois do acidente, a cerca de cinco quilômetros do local onde a aeronave caiu. Segundo o porta-voz das autoridades colombianas, Pedro Arnulfo Suárez, os quatro estavam "desnutridos, mas totalmente conscientes e lúcidos quando os encontramos".

Os irmãos foram levados para Bogotá, capital da Colômbia, e encaminhados para um hospital, onde recebem tratamento. Os quatro passam bem e estão fora de perigo, conforme relatório médico divulgado à imprensa.

A mãe das crianças, Magdalena Mucutuy Valencia, morreu dias depois da queda do avião. O piloto do monomotor e um líder indígena que estava dentro da aeronave morreram no momento do acidente.

Por que as crianças estavam no avião?

O objetivo da viagem era que a família se encontrasse com o pai das crianças, Manuel Ranoque. O homem estava sem ver a mulher e os filhos desde o início de abril, quando teve de fugir devido a ameaças de grupos armados ilegais.

Eles se encontrariam e depois partiriam para Bogotá para recomeçar a vida. O homem teria fugido de casa sem avisar a família e só entrou em contato no dia 1.º de maio, quando as crianças e a mãe embarcaram no avião monomotor.

O avião pousaria em San José del Guaviare, uma cidade a cerca de 400 km da capital da Colômbia, mas o destino das crianças era Villavicencio.

Operação

As operações de busca, apoiadas por helicópteros, mobilizaram 100 militares, com o auxílio de 84 voluntários indígenas.

Um cachorro chamado Wilson também ajudou nas buscas. Ele teria sido o primeiro a localizar as crianças, mas desapareceu e até o momento não foi encontrado.

Lesly Mucutuy disse que Wilson esteve com eles e que chegou a brincar com o animal. As forças militares decidiram continuar com a Operação Esperança em busca do cão, porque "jamais deixamos um companheiro".