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De Pablo Escobar a motim russo: como agem mercenários em ações pelo mundo

Membros do grupo Wagner em tanque nas ruas de Rostov, na Rússia - 24.jun.2023 - Stringer/AFP
Membros do grupo Wagner em tanque nas ruas de Rostov, na Rússia Imagem: 24.jun.2023 - Stringer/AFP

Do UOL, em São Paulo

29/06/2023 04h00Atualizada em 29/06/2023 07h50

A participação do Grupo Wagner em conflitos armados de interesse do governo russo, encerrada após o ataque do último sábado (24) contra a própria Rússia, dá destaque para a atuação de mercenários em ações militares sensíveis — isso ocorre há ao menos três décadas em todo o planeta.

Ações com mercenários

O grupo Wagner, milícia com 25 mil mercenários que desafiou o líder russo Vladimir Putin, foi batizado em homenagem a um ídolo de Adolf Hitler. O nome da empresa é em referência ao compositor Richard Wagner, o favorito do líder da Alemanha nazista.

A empresa militar russa paga o equivalente a R$ 48,5 mil mensais aos seus soldados, segundo o jornal britânico Daily Mail. Antes da participação na guerra da Ucrânia, o "salário" era de R$ 26,7 mil. Parte do armamento militar do grupo Wagner é fornecido pelo próprio governo russo.

Na Colômbia, mercenários foram usados para prender o narcotraficante Pablo Escobar no fim da década de 1980. O grupo "Bloco de Buscas", idealizado pelo governo colombiano, também contou com a presença de militares de elite e até de rivais do fundador do Cartel de Medellín, que acumulou uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões - o equivalente a R$ 145,2 bilhões na cotação de hoje.

Pablo Escobar foi morto em uma operação ocorrida no dia 2 de dezembro de 1993 em Medellín. Apontado como um dos traficantes mais conhecidos no mundo, Escobar foi o responsável pela explosão de um avião que matou 107 passageiros em 1989 e por atos terroristas, como a detonação de carros-bomba, matando dezenas de civis na Colômbia.

Na África do Sul, a empresa militar privada Executive Outcomes foi criada em 1989 para atuar em ações no continente. A atuação do grupo de mercenários inspirou o filme "Diamante de Sangue", com Leonardo DiCaprio, que retratou a guerra civil em Serra Leoa e a exploração de um campo de mineração de diamantes.

Já a empresa militar privada norte-americana Blackwater foi fundada em 1997 e tem recebido financiamento do governo dos EUA. A empresa ficou conhecida pelo massacre da praça Nissour, em Bagdá, quando foram mortos 17 civis iraquianos enquanto um comboio da embaixada dos EUA era escoltado. Os mercenários também foram contratados pelo governo norte-americano para participar das guerras do Iraque e Afeganistão.

O que dizem os especialistas

Existe uma terceirização dos conflitos até por potências militares, para evitar a declaração de guerra. A Blackwater e o grupo Wagner se envolveram em polêmicas, como tortura de prisioneiros, execuções extrajudiciais e repressão contra a população civil. Essas empresas utilizam veteranos de outras guerras, com grande qualificação no meio militar. A guerra também se torna um negócio."
Tito Lívio Barcellos Pereira, especialista na atuação de forças armadas no mundo

O grupo Wagner defendia os interesses da Rússia em ações no continente africano, em países como Mali, Líbia e Sudão, onde cometeram genocídios. São realmente mercenários, que não têm ética e estão nessas áreas para ganhar dinheiro. E, mesmo após a tentativa de golpe na Rússia, soldados do grupo vão continuar atuando nesses países da África [não mais bancados pelo governo russo]."
Mahfouz Ag Adnane, doutor e mestre em História

O Bloco de Busca que matou Pablo Escobar também foi usado para desmantelar o Cartel de Cali em ações com apoio das forças especiais dos EUA. Houve a utilização de mercenários com conhecimento do terreno. Não eram aqueles combatentes clássicos, com farda, bota e colete. Eles se vestiam como civis e tinham treinamento militar."
Sandro Teixeira Moita, professor do programa de Pós-Graduação em Ciências Militares