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'Escudos humanos': por que Israel diz que Hamas guarda armas em hospitais?

Prédios residenciais danificados perto do hospital Al-Quds em Gaza Imagem: REUTERS/Mohammed Al-Masri

Colaboração para o UOL

01/11/2023 04h00

Depois que o Ministério das Relações Exteriores da Turquia emitiu na segunda-feira (30) uma declaração condenando veementemente um ataque realizado por Israel contra o Hospital Oncológico da Amizade Turco-Palestino, que fica em Gaza, as Forças de Defesa de Israel (FDI) argumentaram que o grupo extremista Hamas utiliza hospitais como 'escudo humano' e quartel de comando —o que o Hamas nega.

"O cerco e estes ataques desumanos, que visam privar o povo palestiniano em Gaza dos seus direitos mais básicos, violam claramente o direito internacional", acrescenta a declaração. Segundo a Convenção de Genebra, os ataques a hospitais são estritamente proibidos.

Mas não é a primeira vez que um ataque israelense atinge hospitais na região. Também na segunda, áreas próximas dos hospitais Al-Shifa e Al-Quds foram atingidas. Antes disso, a explosão do hospital al-Ahli Arab, o mais antigo de Gaza, transformou-se em um dos episódios mais contestados do conflito entre Israel e Hamas. Embora até o momento ninguém tenha assumido o ataque, o resultado foram centenas de civis mortos.

O que são escudos humanos

Segundo as Forças de Defesa de Israel, os extremistas utilizariam os civis como "escudos humanos", ou seja, pessoas inocentes seriam utilizadas para proteger algumas áreas ou outras pessoas de operações militares.

Para defender a ordem de evacuação na área onde ficam os hospitais, as Forças de Defesa de Israel divulgaram fotos, diagramas e gravações de áudio que mostrariam como o Hamas está usando o sistema hospitalar —e o Hospital Al Shifa em particular— para esconder um quartel-general de comando debaixo do prédio.

"O Hamas transformou os hospitais em centros de comando e controle e em esconderijos para os terroristas e comandantes", disse o contra-almirante Daniel Hagari, principal porta-voz militar de Israel, em entrevista coletiva.

As Forças Israelenses divulgaram ainda o que seriam supostamente imagens do interrogatório de dois membros do braço armado do Hamas. Em um dos trechos, um deles afirma que os túneis estão, em sua maioria, sob hospitais. Questionado sobre o motivo, o homem diz "assim vocês não bombardeiam [os túneis]".

Ezzat El-Reshiq, membro do comitê político do Hamas, disse no Telegram: "Não há nenhuma base de verdade no que foi relatado pelo porta-voz do Exército inimigo", acusando Israel de espalhar mentiras como "um prelúdio para cometer um novo massacre contra nosso povo".

Os túneis na Faixa de Gaza têm cerca de 500 quilômetros, profundidade de até 70 metros e dois andares. Destruí-los pode ser um passo importante para Israel, mas um risco tremendo — há cerca de 200 reféns que, estima-se, estão em poder do Hamas nos túneis.

Há ainda o perigo de que o Hamas tenha colocado milhares de bombas e explosivos ao longo dos túneis, e uma explosão pode fazer edifícios inteiros desabar.

Crise humanitária

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, criticou a ordem de evacuação do hospital Al-Quds pelo exército de Israel. A unidade de saúde conta com 400 pacientes e mais de 12 mil pessoas que ficaram desabrigadas por conta dos bombardeios israelenses em retaliação ao ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro.

Em uma publicação no X (antigo Twitter), ele disse ter recebido "relatos alarmantes" sobre a situação na unidade de saúde.

"Como a OMS destacou repetidamente, é impossível para estes hospitais superlotados evacuarem os pacientes com segurança. Eles devem ser autorizados a desempenhar suas funções de socorro. Eles devem ser protegidos", afirmou o diretor-geral.

Disturbing reports about evacuation order to Al-Quds Hospital.

As @WHO has repeatedly stressed, it is impossible for these overcrowded hospitals to safely evacuate patients.

They must be allowed to perform their lifesaving functions.

They must be protected. https://t.co/dCnMJtmnv3

-- Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) October 20, 2023

A organização humanitária Crescente Vermelho, que atua nos hospitais palestinos, definiu como "ameaça iminente" a ordem de evacuação.

"Nós clamamos à comunidade internacional para que aja com urgência, para evitar outra catástrofe como a do Hospital Al-Ahli", disse a organização, em referência ao hospital bombardeado nesta semana.

Nos últimos dias, os primeiros 20 caminhões com ajuda humanitária aos palestinos entraram pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, numa remessa que a ONU já definiu a remessa como insuficiente — a estimativa da organização é de que são necessários ao menos cem caminhões por dia.

"O apagão está impossibilitando ambulâncias de chegarem até os feridos. Continuamos sem contato com nossas equipes e instalações de saúde. Estou preocupado com a segurança deles", escreveu Ghebreyesus.

Autoridades da ONU pediram uma pausa nos combates para permitir a entrada de ajuda e alertaram que talvez tenham que interromper as operações se não houver fornecimento de combustível.

Nesta terça (31), as Forças de Defesa de Israel comunicaram ter atingido 300 alvos do Hamas. O comandante do batalhão Beit Lahiya do grupo extremista foi morto durante um ataque aéreo, segundo os israelenses.

O número de mortos na Faixa de Gaza se aproxima dos 8.000, segundo o Ministério da Saúde palestino.

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