Equador não tem moeda própria, mas dólar: como isso impulsiona o crime?

Além de estar próximo geograficamente dos maiores produtores mundiais de cocaína —Colômbia e Peru—, o Equador também é um país atraente para a lavagem de dinheiro e atividades vinculadas ao narcotráfico devido à sua economia dolarizada.

Dolarização em 2000

O Equador extinguiu sua moeda nacional, o sucre, e a substituiu pelo dólar norte-americano. A mudança ocorreu em 2000, na tentativa de superar a pior crise econômica do país, que provocou prejuízos de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 24,4 bilhões na cotação atual) e deixou milhares de pessoas perto da falência.

Operacionalmente, a mudança do sucre para o dólar aconteceu após uma espécie de "feriado bancário", somado a um congelamento temporário de 50% dos depósitos, em um cenário de crise financeira.

Investigar origem do dinheiro é mais difícil em economia dolarizada. Com o mecanismo, o Equador conseguiu registrar níveis de inflação baixos, incluindo períodos de deflação. No entanto, foi nesse contexto que o país se tornou o local ideal para a lavagem de dinheiro do tráfico internacional de drogas. Isso se explica porque, em uma economia dolarizada, é muito mais difícil investigar a origem do dinheiro.

O tráfico e a lavagem de dinheiro

Conjunção de fatores. A dolarização que o Equador sofreu no início do século não explica sozinha o aumento da violência e crise de segurança pública que o país vem sofrendo, mas facilita o tráfico de drogas.

Em entrevista ao UOL News, Sergio Florencio, ex-embaixador do Brasil em Quito, analisou a migração do comércio de cocaína da Colômbia para o Equador.

Esse fenômeno foi facilitado pelo fato de o Equador ser uma economia dolarizada [a partir de 2000], portanto, a dolarização não explica por si só a integralidade desse fenômeno, mas a dolarização facilita muito o comércio e exportações de cocaína porque elas se dão em dólar.
Sergio Florencio, ex-embaixador do Brasil em Quito

"Graças ao dólar, a economia criminal é mais fácil de desenvolver", afirmou também Diane Sarrade, professora na Universidade de Bordeaux, especialista em Equador e pesquisadora do Centro ibérico e ibero-americano da Universidade de Nanterre, à RFI.

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Lavagem de dinheiro representada no PIB local. Já o economista Alberto Acosta, autor do livro "Breve história econômica do Equador", disse ao jornal O Globo em reportagem de outubro de 2023 que cerca de 3% do PIB equatoriano, o equivalente US$ 3,5 bilhões (R$ 17 bilhões), são provenientes da lavagem de dinheiro do narcotráfico.

*Com RFI e AFP

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