Péssimo acordo, diz Macron em SP sobre negociação entre Europa e Mercosul

Em passagem pelo Brasil, o presidente francês, Emmanuel Macron, criticou o acordo entre União Europeia e Mercosul. "Não quero aqui dizer besteira, mas o Mercosul, tal como está sendo negociado atualmente é um péssimo acordo", disse.

O que aconteceu

Presidente da França esteve na Fiesp com Alckmin e Haddad. Macron participou do Fórum Econômico Brasil-França, na Fiesp, nesta quarta-feira (27), do qual participaram também o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "A transição para a economia verde" foi o tema do evento.

Macron disse que a forma como o acordo UE-Mercosul está sendo negociado é ruim tanto para o Brasil como para a França. "Quando é negociada uma regra antiga, pode tentar reanimar aquela chama, mas não é a mesma coisa. É preciso reconstruir tal como o mundo como ele é atualmente. É importante levar em conta a diversidade e o clima — por enquanto, não estão sendo considerados. Portanto esse acordo não pode ser defendido", disse.

O acordo, que teve negociação iniciada há 25 anos, prevê a promoção de comércio entre os dois blocos econômicos. A França, porém, já demonstrou oposição a negociação em diferentes ocasiões e hoje há um racha na União Europeia, conforme revelou Jamil Chade, colunista do UOL. A Alemanha defende o acerto, principalmente diante do interesse exportador do setor de carros.

Pressionado internamente, o francês propõe o alinhamento de uma nova proposta. "Um acordo comercial responsável, que tenha o desenvolvimento, clima e biodiversidade de suas atividades. Um acordo de nova geração, com cláusulas que permitam reciprocidade", disse.

Com Alckmin e Haddad à sua espera, Macron iniciou o discurso pedindo desculpas pelo atraso de mais de uma hora. Disse que passou mais tempo que o previsto com o presidente Lula, tratando de projetos de defesa. Depois afirmou que deixaria três mensagens: "As empresas francesas acreditam no Brasil. Elas têm razão", disse, completando que "as empresas brasileiras deveriam acreditar mais na França. E, através da França, entrar na Europa". Também afirmou que os desafios da transição energética são uma agenda em comum entre os dois países.

Destacou ainda a presença de empresas francesas no Brasil e geração de empregos. "As empresas que estão aqui querem ir mais longe e acho que têm razão", disse. "Quando vejo Brasil e França, e nos últimos dias, mais de perto, acho que podemos e devemos confiar na força do Brasil, no futuro do Brasil, não só como economia, mas como nação".

O Brasil conseguiu enfrentar períodos muito desestabilizadores nos últimos tempos como Covid, crise política. Tem crescimento sólido. Soube controlar inflação e soube resistir às agitações que às vezes sofrem as democracias do mundo.
Emmanuel Macron, presidente da França

'Compromisso do Brasil é desmatamento zero', diz Alckmin

Antes de Macron, Alckmin disse em discurso que o presidente Lula colocou o Brasil como protagonista no combate as mudanças climáticas. "Desmatamento na Amazônia caiu 50%. E o compromisso do Brasil é desmatamento zero. É a maior floresta tropical do mundo".

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Já o ministro Haddad reforçou o interesse de uma aproximação da América do Sul com a União Europeia. Disse que são feitos por Lula encontros e reuniões na Europa e no Itamaraty com esse propósito. "Com equilíbrio, buscando fazer um acordo benéfico para os dois lados. Afinal de contas temos os mesmos valores e princípios que norteiam e deveriam nortear nossa política e economia", disse.

Também afirmou que a pretensão do Brasil, na presidência do G20, é propor uma 'reglobalização sustentável'. "O mundo está se fechando e o Brasil entende que o que seria desejável para o futuro seria repensar a globalização em novos termos". Disse que o Brasil ainda sente efeitos da pandemia do Covid, com "vários soluços", e usa taxas de juros elevadas como exemplo, mas acredita em um crescimento acima das projeções para 2024.

A inflação está caindo ano a ano e 2024 não será diferente do ano anterior", disse Haddad. "Muitos analistas previam que o Brasil cresceria menos de 1% ano passado. Crescemos 2,9%.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

Passagem de Macron pelo Brasil

Macron chegou na terça (26) no Brasil. Sua primeira visita foi em Belém (PA) e junto ao presidente Lula fez um passeio de barco pela baía de Guajará, com parada na Ilha do Combu, onde encontram lideranças indígenas. O presidente francês concedeu a Ordem Nacional da Legião de Honra ao cacique Raoni Metuktire, líder indígena do povo Caiapó.

Ao lado de Lula lançou submarino no Rio de Janeiro. Na manhã desta quarta, Macron esteve em Itaguaí (RJ), com o presidente, para o lançamento do Tonelero (S42), fruto de uma parceria entre os dois países. A primeira-dama, Janja da Silva, foi convidada pela Marinha para ser madrinha da embarcação.

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Na noite desta quarta participa da inauguração no Instituto Pasteur na Universidade de São Paulo (USP). Na sequência, deve encontrar o ex-jogador Raí Oliveira, da Fundação Gol de Letra, e jovens atendidos pelo projeto.

Em São Paulo, o francês tem ainda jantar com personalidades brasileiras da cultura e esportes. Antes a previsão era que se encontrasse com membros da comunidade francesa. Amanhã, ele seguirá para Brasília, onde reencontrará o presidente Lula e visitará o Senado.

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