Eleições na França: o que significa ser de direita ou esquerda?
A coalizão de esquerda Nova Frente Popular impediu que a Reunião Nacional, grupo de extrema direita, vencesse a eleição legislativa na França. A NFP conquistou 182 assentos na Assembleia Nacional, seguida pela coalizão Juntos, do presidente Emmanuel Macron, com 168 cadeiras, e pela antes favorita Reunião Nacional, com 143 deputados.
O que é ser de direta, esquerda e extrema direita?
Posições políticas se originaram em Paris, em 1789, após a Revolução Francesa. Desde então, esses termos (esquerda e direita) passaram a ser usados para diferenciar ideias políticas entre grupos que defendem a manutenção do status quo ou querem transformações.
Não há critérios absolutos. Segundo especialistas, não existem critérios absolutos que definem conceitualmente todo o campo da esquerda ou da direita. Os sentidos dos termos são diferentes para cada pessoa, em cada local e época, e a diferença entre os dois lados é posicional —e não de uma definição teórica. Ainda assim, é possível diferenciar as posições na prática.
A direita preza pelo Estado mínimo. De acordo com o economista e cientista político Luiz Carlos Bresser-Pereira, a direita defende um papel do Estado mínimo, limitado à garantia da ordem pública, dando preponderância para o mercado na coordenação da vida social.
Direita tende a ser mais favorável ao corte de gastos. A direita, sobretudo a direita liberal, defende uma educação mais técnica, com profissões que possam ser mais úteis à economia. Grupo defende ainda a educação privada. Quanto à economia, tende a se preocupar mais com questões monetárias como a inflação. Por fim, a direita até aceita o papel da saúde para o Estado, no entanto, mais voltado para o investimento privado na área.
A esquerda busca por igualdade social. Em seu livro "Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política", Norberto Bobbio diz que a esquerda defende a igualdade, distribuição de renda mais proporcional e uma maior justiça social. Nesse contexto, é papel do Estado atuar para a redução das injustiças.
Esquerda é mais favorável a aceitar déficits fiscais. Desde que seja para investir em educação, saúde e políticas sociais. Na economia, a esquerda defende uma maior regulação do sistema financeiro e maior intervenção do Estado na economia; já na educação, apoia o investimento na educação pública e foca em uma educação mais emancipatória, que tende para a cidadania e para valores; por fim, acredita mais em saúde universal e gratuita para todos.
Direita ou extrema direita? Embora boa parte dos políticos se apresente como de direita, a ciência política passou a diferenciar os atores com ideias mais radicais, que se sobreponham aos consensos protegidos pela Constituição ou pela legislação penal, por exemplo. Essa é a chamada extrema direita, um movimento que cresce em diversos países, como França, Alemanha e Espanha.
Uma das maiores forças políticas do Brasil. Tratada como um grupo marginal da política até o início da década passada, a extrema direita se tornou uma das maiores forças políticas do Brasil. Para especialistas, esse grupo conseguiu normalizar posições que antes eram consideradas radicais e, com isso, puxou para a direita o eixo de todo o debate público no país.
E o centro? Os partidos de centro costumam ser aqueles que conciliam visões de igualdade, uma bandeira mais à esquerda, com preocupações como liberdade individual.
Fonte: Pablo Holmes, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB); Guilherme Arbache, cientista político da Universidade de São Paulo (USP); e Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
*Com reportagens publicadas em 29/09/2022 e 07/07/2024
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