Explosões no Líbano ferem embaixador do Irã, matam 9 e deixam feridos
Ao menos nove pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas, incluindo o embaixador do Irã em Beirute, nesta terça-feira (17), após os pagers usados pelos membros do grupo armado libanês Hezbollah para se comunicar explodirem. O número de vítimas foi divulgado pelo Ministério da Saúde do Líbano.
O que aconteceu
Explosões aconteceram de forma simultânea, por volta das 15h45 (horário local). O anúncio foi feito pela televisão estatal iraniana.
Uma fonte próxima ao Hezbollah atribuiu as explosões a um ataque cibernético "israelense". O ministro libanês da Saúde, Firass Abiad, disse à AFP que "centenas de pessoas ficaram feridas em diferentes regiões do Líbano" devido à explosão dos seus pagers.
Israel não se pronunciou diretamente sobre as explosões. No site das IDF (Forças de Defesa de Israel), há apenas um registro feito às 13h55 (horário local) sobre a identificação "vários terroristas do Hezbollah operando na estrutura militar da organização na área de Blaida, no sul do Líbano". "Fechando o círculo do ar, caças atacaram o prédio e mataram três terroristas que operavam lá", diz o registro.
Nove mortos e cerca de 2.750 pessoas ficaram feridas após as explosões. Uma menina de 10 anos, filha de um membro do Hezbollah no Líbano, está entre os mortos. Ela foi morta no leste do Líbano quando o pager de seu pai explodiu, segundo sua família. Entre os mortos também estão os filhos de dois deputados do Hezbollah, Ali Ammar e Hassan Fadlallah, disse à AFP uma fonte.
O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, ficou ferido em uma das explosões. De acordo com a televisão estatal iraniana, o diplomata "está consciente". Na Síria, 14 membros do Hezbollah também ficaram feridos, afirmou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Segundo o ministro, a maioria das vítimas apresenta ferimentos "no rosto, nas mãos, no abdômen e até mesmo nos olhos". Não houve comentário imediato das Forças Armadas israelenses, que vêm trocando disparos com o Hezbollah desde outubro passado, paralelamente à guerra de Gaza.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um dispositivo explodindo no bolso de um homem. Ele estava dentro de um mercado em Beirute. Fotógrafos da agência de notícias Associated Press nos hospitais da região descreveram que as urgências estavam sobrecarregadas de doentes, muitos deles com ferimentos nos olhos, na barriga e nas mãos e alguns em estado grave.
Pagers se popularizaram nos anos 1990. Os aparelhos e caíram em desuso devido à evolução dos celulares, mas ainda hoje são o meio de comunicação preferido pelo Hezbollah para evitar o risco de interceptação de mensagens. No Brasil, eles ficaram conhecidos como "bipes".
A agência oficial de notícias do Líbano relatou que o sistema "foi hackeado com alta tecnologia". "Um incidente de segurança sem precedentes nos subúrbios ao sul de Beirute e em várias regiões libanesas", afirmou a agência.
O movimento Hezbollah havia pedido aos seus membros que parassem de usar celulares. O objetivo era evitar o risco de intercepção por parte de Israel. Por isso, o grupo islâmico xiita instalou um sistema de pagers, que não necessita de cartões SIM ou conexão com a internet, para se organizar e convocar seus integrantes para ingressar em suas unidades.
Após as explosões, o Hezbollah pediu que membros joguem aparelhos fora. "Cada um que receber um novo pager, jogue-o fora", diz uma mensagem de voz que circulou entre os membros do Hezbollah, segundo um dos membros, que a compartilhou com o The Washington Post.
Cruz Vermelha em alerta máximo
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Quero receberA Cruz Vermelha libanesa informou que está em "alerta máximo" em um comunicado publicado na rede social X. Mais de 50 ambulâncias e 300 equipes médicas de emergência foram enviadas para ajudar no deslocamento das vítimas.
O Ministério da Saúde também pediu a todos os hospitais nas regiões afetadas que ativassem o nível de "alerta máximo". O órgão destacou que as unidades de saúde devem se preparar para lidar com uma "necessidade urgente de serviços de saúde de emergência". "O ministério pede a todos os cidadãos com dispositivos de comunicação sem fio que fiquem longe deles até que a verdade sobre o que está acontecendo seja revelada", acrescentou a nota.
O Hezbollah é aliado do grupo extremista Hamas, protagonista de uma guerra de quase um ano contra Israel na Faixa de Gaza. Um representante do Hezbollah afirmou à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato, que a detonação dos pagers foi a "maior falha de segurança" em quase um ano de guerra com Israel.
Hezbollah promete vingança
O grupo terrorista prometeu vingança após as explosões. "Agressão criminosa que também teve como alvo civis", diz comunicado do Hezbollah. O grupo afirmou que os seus "mártires e feridos" foram sacrificados. Os representantes anunciaram que a resposta virá "de onde o inimigo a espera e de onde não a espera".
O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, não ficou ferido após as explosões. A informação foi revelada por uma fonte importante do Hezbollah à Reuters.
Líbano anunciou que está preparando uma queixa no Conselho de Segurança da ONU. O Ministério das Relações Exteriores do país afirmou que começou a preparar uma queixa para apresentar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas depois que milhares de pessoas ficaram feridas em todo o país.
Os Estados Unidos afirmaram que não estão envolvidos nas explosões. A Casa Branca também destacou que não tinha conhecimento prévio de que o ataque, atribuído a Israel, ocorreria. "Posso dizer a vocês que os Estados Unidos não estiveram envolvidos nisso, que não tinham conhecimento prévio sobre este incidente e que, neste momento, estamos reunindo informações", declarou à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.
EUA advertem Irã para não aumentar 'tensões'
EUA instaram o Irã a não usar o ocorrido para aumentar o cenário de instabilidade na região. "Instamos o Irã a não aproveitar nenhum incidente para tentar acrescentar instabilidade e aumentar ainda mais as tensões na região", declarou em entrevista a jornalista o porta-voz voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller.
Miller também negou enfaticamente qualquer participação dos EUA nas explosões. "Posso dizer a vocês que os Estados Unidos não estiveram envolvidos nisso, que não tinham conhecimento prévio sobre este incidente e que, neste momento, estamos reunindo informações".
Hamas fala em "agressão sionista"
Grupo atribuiu as explosões no Líbano a Israel em nota publicada em seu site oficial. "Consideramos o governo de ocupação totalmente responsável pelas repercussões do grave crime que visou cidadãos libaneses ao detonar dispositivos de comunicação em várias áreas do território libanês, incluindo instalações civis e de serviço, sem distinguir entre combatentes da resistência e civis", diz trecho do comunicado.
Hamas falou em "atentado terrorista" incentivado pelos EUA. "Surge no quadro da agressão sionista abrangente contra a região a arrogância adotada pelo governo de ocupação, armado com o apoio americano, que fornece uma cobertura para os seus crimes fascistas. Afirmamos que esta escalada criminosa apenas levará a entidade de ocupação terrorista a mais fracassos e derrotas", acrescenta o grupo.
O grupo também declarou solidariedade ao Hezbollah. "Valorizamos a jihad e os sacrifícios dos nossos irmãos no Hezbollah, e a sua insistência em continuar a apoiar e apoiar o nosso povo palestino em Gaza. Afirmamos a nossa total solidariedade ao povo libanês e aos irmãos no Hezbollah, e oferecemos a nossa profundas condolências às famílias das vítimas."
*Com AFP e Reuters
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