Por que resultado das eleições nos EUA demora e quando deve ser anunciado?
Diferente do Brasil, que costuma levar poucas horas para declarar os resultados eleitorais, os Estados Unidos podem demorar dias para anunciar quem é o seu novo presidente eleito. Mas por que isso acontece?
Contagem dos votos não é sempre igual
Processo da apuração é variável. Em 2016, na manhã seguinte ao dia da eleição, já se sabia que Donald Trump havia sido eleito. No entanto, em 2020, levou cinco dias para que se chegasse ao resultado final. A diferença foi o fato de que a eleição de Biden foi mais apertada e, portanto, cada voto contou (quase) até o último segundo para fazer a diferença.
A maneira com que eleitores votaram muda o calendário. Nos EUA, é possível votar de três formas: na sua zona eleitoral no dia da eleição, como é feito no Brasil; antecipadamente, mas também na sua zona eleitoral; ou, ainda, pelo correio com dias ou semanas de antecedência. Eleições que têm mais votos pelo correio, como aconteceu em 2020, podem demorar mais para serem apuradas.
Por que o voto pelo correio "atrasa" o resultado? Cada estado tem suas próprias leis e isso também vale para a eleição. Uma reportagem do jornal britânico The Times apontou que estados como a Pensilvânia, por exemplo, causaram um imbróglio nos últimos anos porque neles só é permitido iniciar a contagem dos votos no dia da eleição. Ou seja, os mesários são obrigados a checar assinaturas e escanear as cédulas de papel em máquinas que fazem a contagem enquanto estão trabalhando para supervisionar o voto presencial, o que acaba atrasando o processo. Já em outros, como a Flórida, é permitido contar as cédulas em papel assim que elas chegam pelo correio.
'Miragem' é fator que pesa na conta. Republicanos tendem a votar mais presencialmente, aponta o The New York Times, enquanto eleitores democratas votam mais pelo correio do que os opositores. Com uma eleição mais acirrada, a apuração inicial em estados que permitem a contagem antecipada do voto pelo correio tende a apontar vitória local dos democratas, um fenômeno conhecido como "miragem azul" devido à cor do partido. Já em estados que não permitem a contagem antecipada, há a chance de "miragem vermelha" que aponta vitória inicial dos republicanos.
Casos excepcionais já atrasaram resultados
"Miragem vermelha" aconteceu na eleição acirrada de 2020. Pensilvânia e Michigan, noticiaram jornais à época, apontavam inicialmente uma vitória de Trump, mas conforme a contagem avançava, o jogo virou. Isso aconteceu porque 58% de todos os votos de 2020, no meio da pandemia, foram depositados pelo correio em Michigan, para evitar aglomerações durante a votação. Trump então começou a exigir que a contagem fosse interrompida, alegando que o resultado já havia sido determinado pela sua vantagem anterior. Depois, ele passou a afirmar, sem provas, que a eleição havia sido "roubada". A última eleição presidencial foi a mais segura da história dos Estados Unidos, segundo a Agência de Segurança de Infraestrutura e Cibersegurança.
Em casos extraordinários, novas contagens podem ser determinadas pela Justiça. Em 2000, George W. Bush venceu Al Gore na primeira contagem de votos na Flórida por uma margem tão estreita que a lei estadual obrigava uma nova contagem. O caso se arrastou na Justiça, foi parar na Suprema Corte e, mais de um mês depois, o candidato republicano foi declarado vencedor no estado por apenas 537 votos — uma margem de 0,009%. Uma análise pós-eleitoral publicada no American Political Science Review por estudiosos das Universidades Cornell, Northwestern, Harvard, e da Universidade da Califórnia em Berkeley um ano depois, no entanto, revelou que o condado de Palm Beach direcionou erroneamente 2.000 votos de Al Gore ao candidato "nanico" Pat Buchanan, o que deu a vitória a Bush.
Certificados falsos davam vitória a Trump em Michigan em 2020. Segundo a emissora pública PBS, o estado de Michigan levou aos tribunais 15 membros do partido Republicano após emitirem certificados falsos, inclusive com a assinatura da governadora Gretchen Whitmer, validando votos que Trump não recebeu na contagem. Portanto, há margem para recontagens e recursos judiciais em eleições apertadas e polarizadas no país.
Quanto deve demorar em 2024?
New York Times projeta mesmo tempo de apuração de 2020. O jornal não vê reformas significativas no sistema de contagem de estados considerados "pêndulo", ou seja, que costumam votar tanto em republicanos quanto democratas e, por isso, não possuem uma tendência clara de preferência nas pesquisas. Há exceções: Michigan, por exemplo, vai permitir que a contagem de votos enviados pelo correio ou feitos antes do dia da eleição se inicie antecipadamente em 2024. Mas a Pensilvânia, outro grande "atrasado", deve analisar estes votos em lotes segundo a Associated Press, e resultados não devem ser obtidos em apenas 24 horas, na análise de Alauna Safarpour, professora de ciência política da Gettysburg College.
Pesquisas mostram disputa mais acirrada entre candidatos do que em anos anteriores. Esta é, talvez, a eleição mais apertada desde 2000 e uma das mais apertadas da história do país, aposta a revista Newsweek. Analistas políticos não ousam apostar na vitória de Trump ou Harris. Portanto, se eleições passadas ensinaram alguma coisa é que, mesmo após modernizações e mudanças em procedimentos feitos nos últimos 24 anos, pode ser que sejam necessários alguns dias até que se conheça o próximo (ou próxima) presidente dos EUA.
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