O que é a 'agenda woke', que Trump diz querer combater nos EUA?
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A chamada agenda "woke", que se refere principalmente às pautas identitárias e de diversidade, tem sido alvo do presidente dos Estados Unidos, causando uma série de mudanças na indústria e na política norte-americanas.
O que significa o termo 'woke'
A expressão surgiu na comunidade afro-americana para transmitir a ideia de "estar alerta para as injustiças raciais". "Muitas pessoas acreditam que quem o cunhou foi [o romancista] William Melvin Kelley (1937-2017)", explicou Elijah Watson, do site americano Okayplayer e autor de uma série de artigos sobre a origem do termo.
Nos últimos anos, o termo ganhou um sentido mais amplo, principalmente após o movimento Black Lives Matter. A palavra "woke" tem seu significado literal derivado do verbo "wake", que significa acordar ou despertar, em tradução livre. Para o povo norte-americano, ser ou estar "woke" passou a se referir a posturas políticas liberais ou de esquerda, especialmente aquelas relacionados à conscientização social, como questões de igualdade racial, feminismo, movimento LGBTQIA+, vacinação, ativismo ecológico e direito ao aborto.
Em 2017, o dicionário inglês Oxford acrescentou um novo significado para "woke". O termo ficou definido como "estar consciente das questões sociais e políticas e preocupado com o fato de alguns grupos da sociedade serem tratados de forma menos justa do que outros". A definição do Oxford indica também que "esta palavra é frequentemente usada de forma depreciativa por pessoas que se opõem a novas ideias e mudanças políticas e pensam que outras pessoas se incomodam facilmente com estas questões".
Entre os republicanos e conservadores, o termo passou a ser utilizado de forma pejorativa e aplicado àqueles que apresentavam posição política de esquerda.
Os partidos de direita não demoraram a perceber que uma 'guerra ao estar desperto [woke]' pode lhes render votos
Definição do dicionário Oxford
Postura contra movimento 'woke' se dissemina a partir de Trump
O termo 'woke' nasceu nos Estados Unidos e tem se espalhado pelo mundo chegando, também, ao Brasil. Luciano Hang, dono da rede Havan, publicou uma análise em que descreve como Trump está "transformando os Estados Unidos em apenas 20 dias [período do início de seu mandato]". Segundo o empresário, Trump está usando "a lógica e o bom senso [...] acabando com os modismos e a agenda 'woke'". Hang alega que Trump pôs "fim às políticas de identidade, prevalecendo a meritocracia".
Donald Trump é abertamente contra o movimento 'woke' desde seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021. À época, o republicando afirmou que, durante sua administração, os Estados Unidos não teriam um exército "woke". Medidas impostas anularam, por exemplo, a decisão tomada anteriormente pelo governo de Barack Obama que havia autorizado alistamento de pessoas transgênero às Forças Armadas do país. Ainda durante a primeira passagem pela Casa Branca, Trump declarou que demitiria eventuais generais "woke" do Pentágono.
Atualmente, o governo dos EUA tem anunciado cortes e ameaçado diferentes setores ligados ao termo. Trump prometeu, por exemplo, suspender os subsídios federais para as escolas que promovem ideias relacionadas ao movimento "woke". No cenário internacional, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a suspensão de repasse de verba para programas internacionais como uma medida que visa bloquear "programas woke".
Gigantes da indústria seguem os passos de Trump
A postura de Trump tem feito com que diversas empresas mudem seu posicionamento em relação à agenda woke. A Disney, por exemplo, irá alterar o aviso de conteúdo que precedia seus filmes para contextualizar a época em que determinada obra foi criada. Até então, o texto explicava que o filme apresentava "representações negativas e/ou maus tratos de pessoas, ou culturas", reconhecendo o "impacto nocivo" do conteúdo. Com a mudança, a empresa passará a veicular uma mensagem mais curta, destacando que a obra pode conter "estereótipos ou representações negativas".
A Disney também realizou mudanças internas em reação contrária à agenda woke. A empresa substituiu a métrica "Diversidade & Inclusão" como fator de desempenho utilizado para avaliar a remuneração de seus executivos. Uma nova métrica, chamada "Estratégia de Talentos", foi implementada com um foco maior no sucesso dos negócios.
A Meta, dona Facebook, Instagram e WhatsApp, também encerrou seus programas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). A decisão foi um dos acenos ao governo Trump feitos por Mark Zuckerberg, CEO da empresa. Em novembro de 2024, o executivo afirmou que "deseja apoiar a renovação nacional da América sob a liderança do presidente Trump". Ford, Jack Daniel's e a rede de supermercados Walmart também anunciaram a redução de seus programas de diversidade.
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