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No século 21, os debates televisionados ainda são decisivos nas eleições dos EUA

 Norte-americanos acompanham em um bar de Washington (EUA) o debate eleitoral entre o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, candidato à reeleição, e o adversário dele, o republicano Mitt Romney. O encontro entre os candidatos ocorreu no dia 3/10/2012 - James Hill/The New York Times
Norte-americanos acompanham em um bar de Washington (EUA) o debate eleitoral entre o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, candidato à reeleição, e o adversário dele, o republicano Mitt Romney. O encontro entre os candidatos ocorreu no dia 3/10/2012 Imagem: James Hill/The New York Times

David Carr

16/10/2012 06h00

Em 1960, John F. Kennedy estava atrás de Richard Nixon ao chegarem à importante prova do primeiro debate televisionado para todo o país. Enquanto Kennedy decolou, Nixon tropeçou e não conseguiu se recuperar.
 
A rede de televisão teve um papel definitivo, mas aqueles eram tempos muito diferentes. Existiam apenas três redes de televisão, não 500 canais, e a internet para o consumidor estava ainda na prancheta de desenho do futuro.      

Meio século depois, os debates televisionados continuam relevantes, mas o ritual enfrenta um fluxo constante de informação que ganha força com mensagens políticas. A televisão está repleta de propagandas políticas pagas pelos US$ 2,5 bilhões gastos na eleição presidencial, a cobertura é contínua nos canais por assinatura e o número de pessoas acompanhando pelas redes sociais, no Facebook, Twitter e YouTube, cresceu dez vezes desde 2008. Tendo isso como fundo, um debate tradicional pode parecer bem menos consequente. A esta altura, os eleitores já foram visados, persuadidos e contados.

Exceto por isto: 67,2 milhões de espectadores assistiram ao primeiro debate, segundo a Nielsen, o que o faz perder apenas para o Super Bowl (a final do futebol americano) neste ano em audiência. Esse é um número impressionante de espectadores. Mais especificamente, Mitt Romney, o candidato republicano, "espancou" o presidente Barack Obama, no tipo de mudança com qual sonham os agentes políticos, e subiu de 4 a 6 pontos nas pesquisas.
 
A audiência costuma aumentar no segundo e terceiro rounds de ciclo de debates, e diante do alvoroço estilo Frazier contra Ali que cerca o confronto, não há como dizer quantas pessoas assistirão ao segundo round na Universidade Hofstra, na noite desta terça-feira (16).
 
Como um ritual tão antigo quanto Lincoln contra Douglas –ou Sócrates contra Górgias, se quiser voltar até os gregos– conseguiu mudar a balança em um momento em que o público está tão fragmentado?
 
O crédito é da televisão ao vivo, o último denominador cívico comum restante em um mundo atomizado. Enquanto a audiência de quase tudo na televisão despencou, grandes espetáculos que nutrem alguma promessa de espontaneidade –jogos de futebol americano, Jogos Olímpicos e as várias competições de cantores– continuam prosperando. O primeiro debate teve mais de 70 milhões de espectadores quando são contadas todas as plataformas, incluindo streaming pela Internet, quebrando um recorde de espectadores de 32 anos de debates presidenciais e nos lembrando de que a televisão pode influenciar o resultado como nenhum outro meio. (O número de espectadores do primeiro debate superou até o mesmo evento em 2008 em 28%, sugerindo que apesar de dizerem que a esta altura todo mundo já escolheu seu candidato, muitos optaram por assistir pessoalmente.) 

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“A televisão envolve drama, sejam os Jogos Olímpicos, o Super Bowl ou a série ‘Homeland’, e esses debates fornecem um bocado de drama”, disse Jeff Zucker, ex-presidente-executivo da NBC Universal, incluindo o debate vice-presidencial de quinta-feira (11)  em sua avaliação. “Isso prova a máxima de que se você colocar no ar um bom programa, e ambos os debates foram televisão de qualidade, o público assistirá.”
 
As campanhas políticas modernas buscam controlar todos os aspectos do processo, mas não há muito que os diretores de campanha possam fazer assim que o candidato está no palco. O público assiste para ver quem vencerá, o mais básico que a mídia de notícias consegue chegar.
 
“Os debates televisionados ainda fornecem algo que nenhum outro meio consegue, que é uma comparação cabeça a cabeça que permite discussão”, disse Matthew J. Dickinson, um professor de ciência política do Middlebury College que mantém um blog sobre as eleições chamado “Presidential Power”. Dickinson comentou que a análise após o debate entre Obama e Romney indicou que o público ficou igualmente dividido entre republicanos e democratas, o que sugere que o debate foi um caso raro no qual todo o espectro político estava olhando para a mesma coisa.
 
Obama teve um desempenho ruim não por causa do que disse ou não disse, mas em parte por causa de sua aparência quando não estava falando –entediado, régio e irritado. (Enquanto Obama era visto como o nerd mal-humorado da sala de aula, seu companheiro de chapa optou pelo estilo palhaço da sala de aula no debate ) Apenas a televisão, com seu ponto de vista de tela dividida, pode criar esse tipo de raio X do que se passa no interior do candidato, que é, em parte, o motivo para as pessoas assistirem.