No século 21, os debates televisionados ainda são decisivos nas eleições dos EUA
Em 1960, John F. Kennedy estava atrás de Richard Nixon ao chegarem à importante prova do primeiro debate televisionado para todo o país. Enquanto Kennedy decolou, Nixon tropeçou e não conseguiu se recuperar.
A rede de televisão teve um papel definitivo, mas aqueles eram tempos muito diferentes. Existiam apenas três redes de televisão, não 500 canais, e a internet para o consumidor estava ainda na prancheta de desenho do futuro.
Meio século depois, os debates televisionados continuam relevantes, mas o ritual enfrenta um fluxo constante de informação que ganha força com mensagens políticas. A televisão está repleta de propagandas políticas pagas pelos US$ 2,5 bilhões gastos na eleição presidencial, a cobertura é contínua nos canais por assinatura e o número de pessoas acompanhando pelas redes sociais, no Facebook, Twitter e YouTube, cresceu dez vezes desde 2008. Tendo isso como fundo, um debate tradicional pode parecer bem menos consequente. A esta altura, os eleitores já foram visados, persuadidos e contados.
Exceto por isto: 67,2 milhões de espectadores assistiram ao primeiro debate, segundo a Nielsen, o que o faz perder apenas para o Super Bowl (a final do futebol americano) neste ano em audiência. Esse é um número impressionante de espectadores. Mais especificamente, Mitt Romney, o candidato republicano, "espancou" o presidente Barack Obama, no tipo de mudança com qual sonham os agentes políticos, e subiu de 4 a 6 pontos nas pesquisas.
A audiência costuma aumentar no segundo e terceiro rounds de ciclo de debates, e diante do alvoroço estilo Frazier contra Ali que cerca o confronto, não há como dizer quantas pessoas assistirão ao segundo round na Universidade Hofstra, na noite desta terça-feira (16).
Como um ritual tão antigo quanto Lincoln contra Douglas –ou Sócrates contra Górgias, se quiser voltar até os gregos– conseguiu mudar a balança em um momento em que o público está tão fragmentado?
O crédito é da televisão ao vivo, o último denominador cívico comum restante em um mundo atomizado. Enquanto a audiência de quase tudo na televisão despencou, grandes espetáculos que nutrem alguma promessa de espontaneidade –jogos de futebol americano, Jogos Olímpicos e as várias competições de cantores– continuam prosperando. O primeiro debate teve mais de 70 milhões de espectadores quando são contadas todas as plataformas, incluindo streaming pela Internet, quebrando um recorde de espectadores de 32 anos de debates presidenciais e nos lembrando de que a televisão pode influenciar o resultado como nenhum outro meio. (O número de espectadores do primeiro debate superou até o mesmo evento em 2008 em 28%, sugerindo que apesar de dizerem que a esta altura todo mundo já escolheu seu candidato, muitos optaram por assistir pessoalmente.)
Saiba mais
“A televisão envolve drama, sejam os Jogos Olímpicos, o Super Bowl ou a série ‘Homeland’, e esses debates fornecem um bocado de drama”, disse Jeff Zucker, ex-presidente-executivo da NBC Universal, incluindo o debate vice-presidencial de quinta-feira (11) em sua avaliação. “Isso prova a máxima de que se você colocar no ar um bom programa, e ambos os debates foram televisão de qualidade, o público assistirá.”
As campanhas políticas modernas buscam controlar todos os aspectos do processo, mas não há muito que os diretores de campanha possam fazer assim que o candidato está no palco. O público assiste para ver quem vencerá, o mais básico que a mídia de notícias consegue chegar.
“Os debates televisionados ainda fornecem algo que nenhum outro meio consegue, que é uma comparação cabeça a cabeça que permite discussão”, disse Matthew J. Dickinson, um professor de ciência política do Middlebury College que mantém um blog sobre as eleições chamado “Presidential Power”. Dickinson comentou que a análise após o debate entre Obama e Romney indicou que o público ficou igualmente dividido entre republicanos e democratas, o que sugere que o debate foi um caso raro no qual todo o espectro político estava olhando para a mesma coisa.
Obama teve um desempenho ruim não por causa do que disse ou não disse, mas em parte por causa de sua aparência quando não estava falando –entediado, régio e irritado. (Enquanto Obama era visto como o nerd mal-humorado da sala de aula, seu companheiro de chapa optou pelo estilo palhaço da sala de aula no debate ) Apenas a televisão, com seu ponto de vista de tela dividida, pode criar esse tipo de raio X do que se passa no interior do candidato, que é, em parte, o motivo para as pessoas assistirem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.