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Conferência decide que comércio internacional de ursos polares é legal

Em Bancoc

07/03/2013 12h46

 Os países membros da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas) se negaram nesta quinta-feira (7) a proibir o comércio mundial de ursos polares, em uma reunião realizada em Bancoc, na Tailândia.

Apesar de todos os participantes terem reconhecido que o urso branco é vítima do aquecimento global, um intenso debate tratou da ameaça adicional que, para muitos, representa o comércio da pele, dos ossos e dos dentes do animal.

O maior carnívoro terrestre está inscrito no Anexo 2 da Cites, o que significa uma regulamentação rígida do comércio internacional, mas sem proibição.

Os Estados Unidos - que compartilham com Canadá, Rússia, Groenlândia e Noruega uma população de 20 mil a 25 mil exemplares - desejavam a inscrição do urso polar no Anexo 1 da convenção, o que significaria uma proibição do comércio. Mas a proposta, que precisava da maioria de dois terços para aprovação, foi rejeitada entre os 126 países participantes na votação: foram 42 votos contrários, 38 favoráveis e 46 abstenções.

"O urso polar enfrenta um futuro sinistro e o dia de hoje trouxe mais uma notícia ruim", lamentou Dan Ashe, diretor do serviço americano de pesca e vida selvagem. A espécie pode sofrer uma perda de dois terços da população até 2050.

Comércio ilegal de pele

Segundo analistas citados pelos representantes dos Estados Unidos, quase metade dos 800 ursos brancos mortos a cada ano alimentam o mercado internacional.

A Rússia e as diversas organizações militantes, que acolheram os delegados com ursos de pelúcia, também apoiavam o embargo. Os russos estimam que o forte aumento dos preços, de até US$ 50 mil (cerca de R$ 98 mil)  por uma pele de urso na Rússia, alimenta a caça ilegal.

No entanto, nem a secretaria da Cites nem algumas grandes organizações, como Traffic e WWF, apoiaram a iniciativa norte-americana.

"A diminuição do habitat devido ao aquecimento climático, e não ao comércio internacional, é a primeira razão do declínio antecipado da população" de ursos polares, sustentou a WWF.

O Canadá, que possui a maior população de ursos polares do mundo e único exportador, também se opôs firmemente.

"O urso polar provoca muita emoção, é um ícone do Ártico", reconheceu seu representante, Basile Van Havre. "O Canadá (...) se comprometeu com a proteção da espécie, mas isso não quer dizer que a emoção deva guiar" as decisões.

A lógica canadense está fortemente influenciada pelos Inuit, minoria autóctone que vive na região Norte do país, que enviou vários representantes à reunião em Bancoc.

Uma eventual proibição "afetaria a sustentabilidade de nossas comunidades nas próximas gerações", declarou Tagak Curley, membro da assembleia do território de Nunavut, antes da votação.

Há 40 anos, graças a uma gestão moderna, o número de ursos polares duplicou no Canadá, insistiu o representante, que fez valer a relação única entre seu povo e o animal.

Por sua vez, a conferência retirou seis espécies australianas do Anexo 1, pelo fato de já terem desaparecido. O caso mais emblemático é o do tigre da Tasmânia. A espécie foi massacrada pelos fazendeiros, que acusavam estes animais de matar seu gado. O último exemplar conhecido, capturado em 1933, morreu em 1936 em um zoológico de Hobart.