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Dilema: abrir Sobradinho (BA) para diluir mancha afetará geração de energia

Ermi Ferrari/IMA/Divulgação
Imagem: Ermi Ferrari/IMA/Divulgação

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

15/04/2015 14h31

Especialistas de órgãos ambientais estão enfrentando um dilema para dar início de uma operação para reduzir a mancha negra que foi encontrada na sexta-feira (10) no rio São Francisco. Eles estudam usar a água do reservatório da hidrelétrica de Sobradinho, no sertão da Bahia, para assim aumentar a vazão do rio e diluir o material tóxico que toma conta do rio.

Análise feita nesta quarta-feira (15) pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas) mostra que a mancha permanece estável em uma área de 25 km de extensão entre os Estados de Sergipe e Alagoas. Ainda não se sabe a causa do problema.

Segundo o superintendente substituto do Ibama em Alagoas, Mario Daniel Sarmento de Moraes, uma maior vazão de água de Sobradinho seria uma boa opção para reduzir o dano ambiental, mas isso pode comprometer a geração de energia da usina hidrelétrica, que sofre com a falta de chuvas.

"A Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) nos informou que, se aumentar a vazão para diluir a mancha, poderá secar o lago de Sobradinho. Aí o caos será geral. A gente vive um dilema que tem de ser muito bem estudado, senão vamos causar um danos maiores num futuro por 'achismo', sem um estudo conclusivo", disse.

A ideia de aumentar a vazão foi dada em reunião entre órgãos ambientais e ministérios públicos de Alagoas e Federal, nessa terça-feira (14), em Maceió.

Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema), o lago de Sobradinho está, nesta quarta-feira com 21% de sua capacidade. A crise hídrica é alvo de preocupação e assusta os ribeirinhos no sertão baiano.

Desde o início do mês, por conta da seca, a vazão liberada para o rio foi reduzida de 1.000 m³/s para 900 m³/s –a menor já adotada desde a construção do lago, há três décadas. Cada m³ equivale a 1.000 litros.

Procurada pela reportagem nesta manhã, a Chesf não se manifestou sobre a ideia de ampliar a vazão do rio São Francisco.

Algas

Para Moraes, ainda é cedo para cravar o que causou e o que pode ser feito para reduzir o dano ambiental. "Todos os órgãos estão debruçados sobre esse caso para uma análise mais conclusiva de uma solução viável. O que a gente disser agora é 'achismo'. A melhor coisa que poderia acontecer agora era chover, mas não há previsão para isso", explicou.

No momento, os técnicos ainda estão estudando qual o material tóxico foi lançado no rio capaz de causar tamanha mancha e dano ambiental. "Não sabemos que tipo de contaminantes estão no rio. Sabemos que são algas, mas que tipos de algas? Isso tudo só com o relatório para concluir", disse.

O IMA informou ao UOL que análise da água contaminada está em fase final de análise, e um laudo apontando o material que contaminou o rio deve ser apresentado até a sexta-feira (17).

A principal suspeita do órgão para a poluição é que a Chesf tenha jogado no rio, em um provável erro de operação, sedimentos acumulados por cerca de 30 anos que estavam em um reservatório --o lago Belvedere, esvaziado no dia 22 de fevereiro para manutenção.

O local fica no Complexo Apolônio Sales, que abastece a usina hidrelétrica de Paulo Afonso (BA), e seria a única hipótese possível para justificar tamanho dano ambiental.

A Chesf nega que o esvaziamento do reservatório tenha causado o problema e diz que a mancha é causado por "floração da microalga oportunista Ceratium furcoides, comum a diversos ecossistemas, já tendo sido sua presença registrada em monitoramentos ambientais no São Francisco, em menores concentrações."

Ainda segundo a companhia, "todo o trabalho de operação das usinas e manejo dos reservatórios da Chesf são feitos com a autorização e fiscalização de órgãos como o Ibama e a Agência Nacional de Águas (ANA). Atualmente, devido à longa estiagem, o rio encontra-se com vazão mínima de 1.100m3/s, a partir da barragem de Sobradinho (BA) e de 1.000m3/s, na carga leve (durante a madrugada, domingos e feriados)."