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Redução de queimadas na Amazônia evita 1.000 mortes por ano no Brasil

NASA/ Jeff Schmaltz
Imagem: NASA/ Jeff Schmaltz

Paula Moura

Colaboração para o UOL

16/09/2015 14h00

A redução do desmatamento na Amazônia já foi associada a muitas causas positivas, mas os cientistas não esperavam que a redução das queimadas fosse capaz de diminuir significativamente o número de mortes por doenças respiratórias e cardíacas. Foram poupadas até 1.700 vidas por ano na América do Sul com a redução das queimadas, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (16) na revista Nature Geosciences. Cerca de 60% das mortes evitadas (cerca de 1.000) foram no Brasil.

“Nenhum trabalho científico anterior havia estimado o impacto na saúde em termos continentais dessa redução”, afirma Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo (USP) que participou do estudo. Carly Reddington, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, complementa: “Ficamos surpresos pela relação entre taxas de desmatamento e a quantidade de partículas na atmosfera ser tão forte”.

A fumaça é tão forte e tão extensa por grandes áreas da América do Sul que é facilmente detectada por satélites. Os pesquisadores britânicos e brasileiros analisaram imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Agência Espacial Americana (Nasa) e do Google, além de sobrevoarem a Amazônia para examinar a quantidade de fumaça na atmosfera. Eles usaram modelos atmosféricos de circulação global e a queda dos níveis de poluentes foi combinada com índices de mortalidade associada à exposição às partículas. Os dados analisados foram de 2001 a 2012.

Maior impacto no Brasil

Os maiores beneficiados pela queda das queimadas são os habitantes do Sudeste, onde há maior concentração populacional. “Os primeiros afetados são os vizinhos das queimadas, mas, como as partículas viajam por quilômetros, os locais com maior densidade são mais atingidos. Assim, a maior parte das mortes são evitadas na região de São Paulo”, explica o britânico Dominick Spracklen. “O maior impacto positivo é para a população brasileira, mas toda a América do Sul é beneficiada”, completa.

Paulo Artaxo explica que a fumaça emitida a partir de grandes incêndios libera monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e outros gases e partículas. Esses poluentes têm importantes efeitos negativos na saúde humana. Spracklen lembra que, enquanto as partículas maiores são filtradas pelo nariz, as partículas pequenas, produzidas pela fumaça da queimada, atingem diretamente o pulmão e vão para a corrente sanguínea.

Na América do Sul, a maior área de emissão de partículas devido a queimadas é o sudeste da Amazônia, onde há um desmatamento rápido. Após anos de redução do desmatamento, o país ameaça estacionar. “O Brasil ainda está desmatando cerca de 5.000 km² de florestas por ano. É muito menor que 27.000 km² por ano em 2004-2005, mas ainda é muito alto”, diz Artaxo. “Este estudo é uma gota a mais nos argumentos para reduzir desmatamento e queimadas na Amazônia”.

Queimadas de desmatamento representam 20% do total de emissão de fumaça de queimadas no mundo, mas são 64% do total de emissões no Brasil, o que significa que elas representam o maior impacto sobre a qualidade do ar no país.

A pesquisa recebeu o título de “Air quality and human health improvements from reductions in deforestation-related fire in Brazil” (Qualidade do ar e melhora da saúde pela redução de queimadas relacionadas ao desmatamento no Brasil, em tradução livre) e pode ser lida (em inglês) aqui.