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Aquecimento global na Rússia é 2,5 vezes mais intenso que a média no mundo

Em um arquipélago no Ártico da Rússia, habitat de ursos polares, há intenção de exploração de petróleo e gás, o que contribui para o aquecimento global - Cory Richards/National Geographic Creative
Em um arquipélago no Ártico da Rússia, habitat de ursos polares, há intenção de exploração de petróleo e gás, o que contribui para o aquecimento global Imagem: Cory Richards/National Geographic Creative

Arturo Escarda

19/08/2018 09h49

Um dos países mais frios do mundo, a Rússia pode sofrer uma mudança drástica nos próximos anos já que está em uma das regiões do planeta onde as temperaturas mais subiram e que mais sofrem com as consequências do aquecimento global. O país não passa um ano sequer sem registrar novos recordes: de temperatura, de chuva, de camada de neve, entre outros.

Em junho, foram registrados quase 33 graus Celsius na cidade ártica de Tura, que está na mesma latitude que Reykjavik, capital da Islândia. No sudeste da Sibéria e nas regiões do extremo leste do país, milhares de casas foram inundadas neste verão devido a chuvas históricas e cheias dos rios.

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"O aquecimento global na Rússia é 2,5 vezes mais intenso que a média do planeta. A temperatura cresce a um ritmo de quase meio grau centígrado a cada dez anos", explicou à Agência Efe Yevgueni Tishkovets, especialista do Centro Meteorológico Fobos.

Isso ocorre porque a Rússia tem um imenso território no litoral do Oceano Ártico. É precisamente lá onde o aquecimento global é sentido com mais força. Nos trópicos, o impacto é muito menor.

"A região russa do círculo polar ártico sofreu uma explosão de calor impressionante, e a superfície dos glaciais se reduziu a um terço, chegando ao mínimo histórico", apontou Tishkovets.

Há muitas estações meteorológicas nesta vasta região do país e a maioria registrou vários recordes de temperatura neste verão.

O tempo está "ficando louco". Enquanto os quentes países do sul da Europa sofrem com muito frio no inverno, o norte do continente é atingido no verão por ondas de calor sem precedentes, como as que atingiram há pouco a península escandinava.

"A diminuição da diferença entre as temperaturas dos polos e o Equador fez com que as massas de ar do planeta circulem sobre os eixos meridionais (norte-sul), ao invés de se movimentar sobre os frequentes latitudinais (leste-oeste). Desta forma, o vento leva do norte ao sul o frio ártico no inverno, e do sul ao norte o calor desértico no verão", explica o meteorologista russo.

Pode-se pensar que Moscou, a terceira capital mais fria do mundo só atrás de Astana e Ulan Bator, não sabe o que é passar calor, mas o certo é que os verões nestas latitudes são cada vez mais quentes.

Os termômetros se aproximaram dos 30 graus Celsius durante grande parte de julho e agosto. O "normal" para Moscou nestes meses, segundo Tishkovets, é uma temperatura diurna máxima de 24 graus.

A pior catástrofe climática recente registrada na capital russa ocorreu no verão de 2010, quando a temperatura em Moscou não baixou dos 30 graus Celsius, inclusive de noite, algo sem precedentes.

Quase 1 milhão de hectares de floresta foram arrasados entre julho e agosto de 2010 pelos incêndios causados pela onda de calor. A capital russa foi invadida pela fumaça dos incêndios florestais que praticamente confinaram a cidade em um anel de fogo.

A versão mais aceita do aquecimento global é a intervenção do ser humano na natureza, mas Tishkovets pertence ao grupo de cientistas que respaldam outra teoria, a que aponta a que o fenômeno corresponde aos ciclos climáticos da Terra, que se alternam mais ou menos a cada 200 anos.

O especialista do Centro Fobos considera que o aquecimento do planeta já alcançou o seu pico, "apesar de nos últimos três anos a Terra ter registrado suas temperaturas máximas desde que existem as medições".