Salles rebate Biden, diz ver 'hipocrisia' e compara Pantanal com Califórnia
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rebateu hoje as críticas do candidato à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, à política ambiental do Brasil, afirmando ver uma "hipocrisia internacional" com relação ao Brasil. Sem apresentar dados, ele também comparou — equivocadamente — a situação do Pantanal com a da Califórnia em 2020 e a da Amazônia com a da Austrália em 2019.
"Há uma hipocrisia internacional acerca da Amazônia e do Pantanal. Veja que a Califórnia está pegando muito mais fogo que o Pantanal, aliás, num governo democrata, do mesmo partido de Joe Biden, que falou aquelas bobagens ontem no debate. A Austrália, no ano passado, pegou mais fogo do que a Amazônia. (...) Mas é só o Brasil que recebe as críticas", defendeu-se o ministro, em entrevista à CNN Brasil.
Os números divulgados por órgãos oficiais desmentem a fala de Salles. No estado norte-americano, segundo o Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia (CAL Fire, em inglês), cerca de 1,5 milhão de hectares foram consumidos pelo fogo em 2020. No Pantanal, foram 2,5 milhões, de acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Além disso, como sugere um artigo publicado em agosto na Scientific American, as queimadas na Califórnia são causadas e intensificadas principalmente pelas mudanças climáticas. No Pantanal, o fogo tem origem majoritariamente criminosa, segundo apontam investigações da Polícia Federal.
O aquecimento global também é apontado como o grande responsável pela severidade dos incêndios na Austrália. Combinadas, as altas temperaturas (acima de 40 ºC), a seca e as tempestades de raios contribuíram para espalhar e intensificar as queimadas, e o governo australiano estima que 18,6 milhões de hectares tenham sido destruídos entre setembro de 2019 e março de 2020.
Resposta a Biden
A Amazônia foi citada ontem por Biden durante o primeiro debate com seu adversário nas eleições de novembro, o presidente Donald Trump. O democrata prometeu US$ 20 bilhões para combater a devastação da floresta, mas disse que haverá retaliações caso o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) não combata a destruição de parte da Amazônia.
À CNN Brasil, o ministro do Meio Ambiente ironizou a promessa de Biden, questionando se os US$ 20 bilhões seriam anuais, e afirmou que seria capaz de fazer um trabalho "ainda melhor" na Amazônia caso esses recursos, de fato, viessem.
"Há interesses econômicos, há interesses políticos e há uma campanha diversionista [para desviar a atenção do foco principal]. Não quer dizer que nós não tenhamos coisas para fazer aqui no Brasil, mas daí a ser essa discussão toda, que é construída muitas vezes aqui dentro e, em certos casos, refletida lá fora...", completou Salles.
Bolsonaro fala em "crítica gratuita"
Mais cedo, Bolsonaro já havia respondido às declarações de Biden, citando uma suposta cobiça de outros países pela Amazônia e dizendo que não aceitaria "subornos". Segundo o presidente, o Brasil "mudou" e "nossa soberania é inegociável".
"A cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade. Contudo, a externação (sic) por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua. Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os EUA, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração", escreveu.
Bolsonaro também afirmou que o governo está atuando "sem precedentes" pela proteção da Amazônia e enxerga com bons olhos uma cooperação com os EUA, inclusive para projetos de investimento sustentável que possam gerar empregos para a população do bioma. Ele ainda disse que tem conversado com Trump sobre o assunto.
"Lamentável, sr. Joe Biden, sob todos os aspectos. Lamentável", concluiu o presidente em nota publicada nas redes sociais, em português e inglês.
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