Mundo aposta futuro em decisiva cúpula climática em Glasgow
Glasgow (R.Unido) 31 out (EFE).- Passada a euforia com o histórico Acordo de Paris, em 2015, o planeta enfrenta a partir deste domingo uma daquelas cúpulas climáticas para as quais teriam de ser inventados novos adjetivos e que só podem ser definidos em termos de ameaça existencial.
A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que foi formalmente inaugurada hoje em Glasgow, na Escócia, saúda as negociações entre quase 200 países para manter viva a aspiração estabelecida em Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Como ponto de partida, existem dois consensos unânimes: o primeiro, de que as coisas estão dando errado para atingir a meta; a segunda, que ainda dá tempo de mudar o curso e, além disso, que sabemos como fazer.
Embora os presságios que precedem a reunião não sejam promissores, os organizadores da COP26 tentaram soar otimistas em seus discursos na abertura da conferência.
"Se agirmos agora e juntos, podemos proteger nosso amado planeta. Portanto, vamos nos reunir nessas duas semanas e cumprir o que Paris prometeu, Glasgow consegue", disse o presidente da COP26, o britânico Alok Sharma.
"O sucesso na COP é absolutamente possível", embora "seja necessária mais ambição de mais países, principalmente dos grandes emissores do G20, responsáveis por quase 80% das emissões globais", afirmou a secretária executiva da ONU para Mudanças Climáticas, Patricia Espinosa.
A diplomata mexicana então voltou seus olhos para Roma. Naquele momento, os líderes do G20 firmaram um compromisso mínimo de "fazer um esforço" para limitar o aquecimento global a 1,5 grau, embora a descarbonização seja conseguida "cerca de meio século".
Grande parte desses "esforços" dependerá da trajetória de aumento da temperatura calculada pelos cientistas, que estimam não será cumprida.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os atuais compromissos dos países para reduzir as emissões levarão a um aquecimento global de 2,7 graus até o final deste século.
O que é que isso significa? Simplesmente que as mudanças climáticas terão consequências "catastróficas" para a humanidade e o planeta.
Nem será necessário esperar até lá para ver que os eventos meteorológicos extremos são agora "o novo normal", como revelou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em um chocante relatório apresentado neste domingo.
AUSÊNCIAS IMPORTANTES
Embora o tiro de largada formal tenha sido disparado hoje, será a partir de amanhã que cerca de 120 líderes mundiais se encontrarão em Glasgow, na maior concentração desse tipo desde o início da pandemia da covid-19.
Na tradicional foto dos líderes faltarão nomes importantes, como o presidente Jair Bolsonaro, além do líder da maior potência emissora de gases de efeito estufa, o chinês Xi Jinping, ou outros como o russo Vladimir Putin e o mexicano Andrés Manuel López Obrador.
Por outro lado, estará lá o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, após regressar ao Acordo de Paris, assim como o indiano Narendra Modi e a maioria dos líderes europeus.
Além do desafio de reunir tantos atores com interesses conflitantes, há o de realizar uma cúpula de dimensões gigantescas em meio à pior pandemia que a humanidade conheceu em um século.
"Era vital que houvesse uma reunião física, para que os países pequenos se sentassem à mesma mesa que os grandes", defendeu Sharma em entrevista coletiva.
E Patricia Espinosa ressaltou que as medidas preventivas exigidas pela covid-19 tornarão as reuniões muito restritas no número de participantes.
"A maior sala de negociações tem 144 lugares, 72 sentar-se-ão à mesa e outros 72 atrás dela. E isso não é suficiente", disse a diplomata mexicana na mesma entrevista coletiva.
Nem mesmo a péssima situação de pandemia no Reino Unido, onde mais de 38 mil novos casos foram registrados nas últimas 24 horas, evitou que dezenas de milhares de pessoas desembarcassem em Glasgow para participar da COP26.
Segundo a organização, 21.238 membros de delegações oficiais, 13.834 observadores e 3.823 jornalistas estarão reunidos no Centro de Eventos Escocês (SEC, na sigla em inglês).
E esses números não incluem as centenas de ativistas que viajaram à Escócia para participar de manifestações, que a polícia teme que às vezes possam ser violentas. EFE
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