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Esta 'vila de taturanas' fará você olhar 2 vezes antes de tocar numa árvore

Felipe Munhoz

Colaboração para o UOL, em Lençóis (BA)

09/05/2023 04h00Atualizada em 10/05/2023 11h22

É preciso tomar muito cuidado ao encostar em uma árvore sem olhar, afinal, ela pode ser o lar de muitos bichos. O que não é tão comum de se ver todo dia é uma "vila" inteira de taturanas. O flagra foi feito em Lençóis (BA), na Chapada Diamantina, e a gente conta o que são essas lagartas e curiosidades delas que incluem até a juba dos leões.

Segundo o entomólogo Vitor Becker, estas são lagartas da mariposa Ammalo helops, uma espécie encontrada da Argentina até o sul do México, inclusive em cidades de grande porte, e que geralmente se alimenta das folhas de figueira.

"Durante o dia, elas se alojam em buracos no tronco das árvores, principalmente, na parte inferior, para se proteger dos seus principais predadores", explica Becker.

A atividade vem com o cair do Sol. "De noite, elas se espalham e vão subindo para a copa para se alimentar das folhas", disse o entomólogo, que tem um dos maiores acervos de mariposas do mundo, com mais de 650 mil insetos.

Lagarta, taturana ou tanto faz?

A palavra taturana tem origem tupi e pode ser traduzida como "semelhante a fogo". Ela é usada popularmente para se referir a muitos tipos de lagartas, tanto que em algumas regiões do Brasil elas são chamadas de lagartas-de-fogo.

As lagartas são as formas larvais de borboletas ou mariposas, sendo que algumas espécies podem ter estes "pelinhos" nocivos à saúde e outras não.

Esta taturana queima?

O entomólogo explica que em contato com a pele, o "pelinho" da lagarta-de-fogo expele ácido fórmico.

Esta é a mesma substância da picada da formiga. Então, se acontecer de tocar na pele, o melhor a se fazer é lavar para remover o pelinho. Em uma situação desta, o pior é coçar, pois o pelinho não vai sair e ainda vai atingir uma zona maior do corpo.
Becker

Nem todas as espécies que têm estas estruturas são nocivas ao corpo humano. Algumas se utilizam do mimetismo, ou seja, da imitação de outras espécies, para se proteger. Mas, na dúvida, é sempre melhor evitar o contato, especialmente diante de tantas taturanas.

E o que elas têm a ver com a juba do leão?

O zoólogo e ornitólogo baiano Alan Cerqueira Moura explica que a tática das taturanas se juntarem funciona como forma de proteção. Curiosamente, a estratégia é a mesma da juba de um leão, que o faz "crescer" frente a seus rivais.

Este agrupamento das lagartas é o que chamamos de deimatismo. Elas se juntam como forma de proteção, para parecer maiores do que são. A juba do leão é um exemplo comum de deimatismo, assim como inúmeros outros casos que observamos na natureza.
Alan Cerqueira Moura

A cor vermelha da cabeça também serve de proteção. "Isso é chamado de aposematismo. Na natureza, as cores vermelho, amarelo e laranja representam sinal de perigo e são usadas para afastar possíveis predadores", complementa Moura.

Se elas 'queimam', quem são seus predadores?

De acordo com Moura, que coordena o Projeto Gravatinha, de conservação da Chapada Diamantina através da observação de pássaros, existem muitas espécies que se alimentam de lagartas-de-fogo.

"Na Chapada Diamantina, especificamente, existem três espécies que podemos citar que é mais comum de serem vistas se alimentando de lagartas-de-fogo. A Piaya cayana, que chamamos de alma-de-gato, a Trogon surrucua (surucuá-variado) e a Coccyzus euleri (papa-lagarta-de-euler)", destaca Moura.