Lobo fazendo papel de abelhas? Estudo identifica polinizadores carnívoros
Colaboração para o UOL
04/12/2024 05h30
Lobos-etíopes podem ser considerados os primeiros animais carnívoros polinizadores já identificados. A conclusão é de um estudo publicado na revista Ecology no dia 19 de novembro.
O que diz o estudo
A pesquisa apontou uma teoria de polinização após lobos da espécie lobo-etíope (Canis simensis) serem vistos se alimentando de néctar das flores da Kniphofia foliosa. Esta é uma planta avermelhada da região das Montanhas Bale, no sul da Etiópia.
A Kniphofia foliosa é uma planta perene endêmica da Etiópia encontrada nas Montanhas Bale e em outras pastagens de alta altitude, onde também vive o lobo etíope. As flores do gênero Kniphofia produzem grandes quantidades de néctar, o que atrai uma variedade de pássaros e insetos polinizadores, explicam os autores da pesquisa.
O comportamento de alimentação de néctar pelos lobos foi observado repetidamente pelos autores ao longo de muitos anos. Para detalhar as observações, os cientistas acompanharam seis lobos diferentes que se aproximavam das flores ao longo de quatro dias consecutivos no final de maio e início de junho de 2023.
Os pesquisadores disseram que, embora haja indícios de que esses animais realizam a transferência de pólen, ainda não é possível afirmar que eles representam parte significativa da polinização. Os animais podem visitar até 30 plantas em uma única viagem em busca de néctar. Após se alimentarem, o pólen é visto sendo depositado no focinho do lobo, o que levou os pesquisadores à teoria da polinização.
Não se sabe por que os lobos se alimentam do néctar das plantas. Mas os pesquisadores acreditam que a descoberta é uma oportunidade para pesquisas futuras sobre o papel desses animais na cadeia de polinização.
Em estudos anteriores, mamíferos como morcegos e algumas espécies de roedores já haviam sido observados como parte da polinização de plantas nativas da Austrália. Hoje, sabe-se que 87% das plantas precisam de uma ampla gama de animais, aves e insetos polinizadores para sua continuidade.
Uma maior conscientização sobre a existência desses vetores de pólen menos conhecidos poderia promover pesquisas sobre interações mutualísticas [em que ambos se beneficiam] atípicas entre plantas e animais.
Trecho do estudo