Setor privado pode engajar-se mais na luta contra a corrupção
O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional (TI) é o mais importante indicador da corrupção hoje disponível no mundo. Sua longevidade (21 anos) e abrangência (168 países e territórios) são os principais fatores para a sua relevância destacada, além de ser compilado pela organização que lidera a luta contra a corrupção no mundo, com presença em mais de cem países.
O Brasil é o país que mais repercute o resultado do IPC no mundo. A cobertura da mídia brasileira é a maior entre todos os países monitorados pela TI. A mensagem do IPC 2015, publicado no dia 27 de janeiro, em que o Brasil despenca com a perda de 5 pontos, chegou aos lares dos brasileiros, aos palácios de Brasília e, também, às empresas.
O IPC é ainda o parâmetro mais utilizado pelas empresas multinacionais em suas avaliações de risco de compliance (boas normas de conduta corporativa) em países onde operam para, entre outras medidas, ajustarem os protocolos de "due diligence" (investigação e auditoria nos dados de companhias) locais.
Por exemplo, quando um país está abaixo de um patamar do IPC, as contratações com os governos locais podem ficar condicionadas a análises e autorizações especiais da matriz e, nos países com os piores resultados, a contração com o poder público pode ser inteiramente banida.
Já se constatou também que a avaliação do risco de compliance pode afetar decisões de investimento, paralisando ou até mesmo revogando alocações de investimento em países de alto risco. Portanto, o IPC pode, no mínimo, afetar indiretamente os custos de transação em um país e, nos casos mais extremos, os fluxos de investimento estrangeiro.
Segundo um estudo do Dow Jones, com cerca de 200 empresas, o IPC foi utilizado em 2015 por 67% delas como fonte de informação na análise de risco de países. Segundo a mesma pesquisa, esse percentual vem caindo desde 2013, quando chegava a 85%.
Não é para mostrar como somos transparentes que escrevemos um artigo citando nossa queda de relevância. Mas sim porque isso é para nós uma boa notícia. Acompanhado dessa queda no uso do IPC como principal fonte de análise está um crescimento significativo no uso de dados de risco compilados internamente, chegando a 61% das empresas em 2015.
Isso significa que as empresas estão monitorando melhor as suas operações, extraindo e analisando dados para prevenir a corrupção. Elas estão conhecendo mais seus próprios processos, seus riscos específicos e, consequentemente, desenvolvendo estratégias anticorrupção mais robustas.
Quanto menos as empresas se contentarem com o nosso índice (que, vale lembrar, mede apenas a percepção da corrupção no setor público) e se debruçarem sobre as suas operações para extraírem análises e estratégias mais sofisticadas, tanto melhor para a luta contra a corrupção. Para além de nossos índices e outros estudos de diagnóstico, a TI tem também um extenso repertório de ferramentas e guias para servirem de referências a uma gestão com transparência e integridade.
Depois de quase dez anos sem uma representação no Brasil, a Transparência Internacional está voltando ao país, e uma de nossas prioridades será trabalhar junto ao setor privado nacional. Os países que avançaram na luta contra a corrupção frequentemente contaram com a liderança do setor privado, pressionando por melhorias nos sistemas de justiça e governo.
A corrupção pode beneficiar individualmente, mas é péssima para a coletividade e o ambiente de negócios. O empresariado brasileiro está sofrendo na carne estas consequências e deveria assumir já uma postura não a favor ou contra esse ou aquele governo, mas sim por reformas profundas em nossos sistemas político e jurídico.
A sociedade brasileira já tomou as ruas em 2013 e em 2015, dando o seu recado de que basta. Setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal vêm demonstrando um empenho notável na luta contra a corrupção no país. O setor privado pode engajar-se mais e emprestar seu peso na sociedade brasileira para a luta contra o mal da corrupção.
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