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Preço do boi pirata deve cair "substancialmente", diz Ibama

Cláudia Andrade<br/> Em Brasília

22/07/2008 13h57

Após a segunda tentativa frustrada de leiloar mais de 3.000 cabeças de gado apreendidas em área de preservação ambiental na Amazônia, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) anunciou uma terceira rodada para a próxima semana e avisou que o preço do chamado boi pirata deve cair "substancialmente".

A queda de preço ainda não deverá atrair compradores, na opinião do deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), integrante da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara. "Se fizerem dez tentativas de leilão, as dez serão frustradas", afirma.

A previsão tem como base, segundo o parlamentar, a "solidariedade" com os produtores da região. "O comprador não se interessa por esse gado, na situação em que ele foi confiscado. Ele entende que isso foi feito de forma arbitrária", diz.

Queiroz afirma que os produtores vão resistir à entrega dos bois. "A população local está revoltada com os procedimentos que foram usados. Na semana passada, eu disse ao ministro (Carlos Minc, do Meio Ambiente) que, se houver confronto, a responsabilidade vai ser do ministério dele."

Na última semana, o parlamentar interpelou Minc sobre o assunto, em audiência pública na Câmara dos Deputados, pedindo para que houvesse mais debate antes da venda dos animais, e alertando sobre o risco de confrontos. "O senhor pode até vender os bois, mas às vezes não vai conseguir entregar. Eu ouvi isso e estou lhe dizendo agora. A população de lá é como todos nós brasileiros: de boa fé, mansa, pacífica, ordeira. Mas diz que não se pode cutucar onça com vara curta porque ela avança e morre em cima da sua garganta. Não cutuque nosso trabalhador", disse na ocasião, levantando protestos de que sua fala consistiria em ameaça, o que foi negado.

O fato é que a questão foi incluída no rol de problemas que o leilão deverá enfrentar. Ao enumerar as dificuldades para conseguir uma oferta, o Ibama citou, além o preço, "o anúncio, feito por políticos da região, de que a retirada do gado não seria pacífica". "Toda a segurança necessária à retirada dos animais será dada ao ganhador do leilão", afirma o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, em nota.

Boi magro
O deputado Queiroz argumenta ainda que o gado apreendido está "em situação precária". "Ele está sendo mantido em uma pequena área, sem cuidado. Já perdeu muito peso e muito gado já morreu", afirma.

A informação é negada pelo Ibama, que afirma que o gado "continua sob a guarda do governo federal e se encontra em boas condições de saúde, inclusive com a vacinação em dia". O instituto admite, no entanto, que a operação boi pirata está forçando os pecuaristas a retirarem "mais de 10 mil cabeças de gado" da Estação Ecológica da Terra do Meio, em Altamira (PA). O movimento teria aumentado a oferta e feito com que o preço do gado caísse.

Para o deputado do PDT, a operação boi pirata "é um equívoco, uma falácia". Ele defende que, antes de realizar o leilão, o governo indenize os mais de 2.000 produtores que já estavam na região antes da criação da reserva. "Todo o Brasil foi colonizado assim. Primeiro você ocupa e depois busca a documentação, senão o governo não titulariza a terra", defende.

A terceira tentativa de leiloar o gado está prevista para a próxima segunda-feira, dia 28. O preço com deságio deverá ser anunciado nesta quinta-feira (24). Na segunda tentativa, o Ibama já havia reduzido o preço mínimo de R$ 3,9 milhões para R$ 3,151 milhões. Também havia reduzido o lote de 3.500 bovinos para 3.046.