Ex-ministro dos Transportes diz que renunciou por falta de apoio de Dilma
O ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR), que retomou seu mandato no Senado nesta terça-feira (2), disse hoje no plenário da Casa que deixou o cargo porque não teve apoio do governo federal.
“Renunciei ao cargo no momento em que, diante dos ataques violentos contra mim desferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidente”, afirmou em sua primeira declaração depois do afastamento.
Nascimento perdeu o mais alto posto da pasta após uma série de denúncias de corrupção nos Transportes. Ele foi afastado do cargo no dia 6 de julho, sendo substituído pelo então secretário-executivo, Paulo Sérgio Passos.
Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto disse que não vai se pronunciar sobre o discurso.
Membros do PR –que comanda a pasta desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva– e do PT perderam os cargos depois de denúncias da revista "Veja" que indicaram que o ministério servia como um meio de arrecadar recursos eleitorais para partidos políticos. Depois da reportagem, outros veículos começaram a divulgar novos escândalos envolvendo dirigentes da pasta.
Nascimento afirmou que, nos mais de seis anos em que foi ministro, sua gestão foi marcada por “lisura e clareza”. Ele ainda se disse inocente das acusações e atacou a imprensa, que estaria sempre em busca do "furo" --jargão jornalístico para designar uma informação exclusiva.
Segundo o ex-ministro, as denúncias dizem respeito ao período em que ele não estava à frente da pasta (entre março de 2010 e janeiro de 2011, quando se candidatou ao governo do Amazonas; em seu lugar ficou Paulo Sérgio Passos, atual ministro). "Não gerenciei nem executei o Orçamento de 2010. O ministério que deixei em 2010 é diferente do que encontrei no meu retorno."
Nascimento disse que já trabalhava em uma solução para revisar projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) --cujo orçamento tinha subido de R$ 58 bilhões, quando ele saiu, para 72 bilhões, quando ele retornou--, mas que, mesmo assim, não foi convocado para uma reunião chamada pela presidente para discutir os valores das concessões rodoviárias. Paulo Sérgio Passos foi chamado em seu lugar. O conteúdo de tal reunião foi divulgado pela "Veja", dando início à crise.
"Em fevereiro [de 2011], fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente fino para conhecer a origem de tal movimentação", alegou. "Eu me pergunto até hoje porque a Presidência não me convocou para a reunião? Será que a presidente preferiu conduzir aquela conversa sem a minha presença? E por quê, se ela havia sido alertada do problema por mim e já estava ciente de que eu trabalhava em uma solução?", questionou o ex-ministro.
Após reportagem da “Veja”, Nascimento disse que ele e Dilma avaliaram que o governo deveria dar uma resposta à sociedade, mas que, na ocasião, a presidente não aceitou seu pedido de demissão, determinando que ele conduzisse a apuração dos fatos.
O ex-ministro, que é presidente do PR, reiterou que a legenda irá manter o apoio ao governo Dilma, uma vez que é "o que esperam seus eleitores".
Nascimento também defendeu a indicação de nomes pelos partidos. "É uma prática usual em nosso país, mas a aprovação dos nomes exige a aceitação pela Presidência."
Os eliminados do "BBB" do Ministério dos Transportes
Acusações ao filho de Nascimento
O ex-ministro também criticou os ataques à sua família. "Meu filho foi alvo de ataques infames (...) apenas por ser meu filho", afirmou. Nascimento discorreu sobre supostos erros que o jornal “O Globo” teria divulgado sobre a investigação de enriquecimento ilícito de seu filho, Gustavo Morais Pereira, de 27 anos. Segundo a reportagem --que contribuiu para o definitivo afastamento do então ministro--, o patrimônio de sua empresa, a Forma Construções, aumentou 86.500% em dois anos beneficiando-se, supostamente, de esquema no ministério.
“Mentira! O meu filho não é ladrão. Eu vou provar. Eu vou buscar a correção desta injustiça que cometeram contra o meu filho”, afirmou.
Em seu discurso em plenário, o senador pelo Amazonas chamou de “falácias” as denúncias de cobrança de propina ligadas a ele. Defendeu a liberdade de imprensa, mas avaliou que os veículos de comunicação “foram induzidos ao erro” ao “reprisaram denúncias inverídicas”.
O ex-ministro também disse que vai atrás de "justiça", uma vez que teria sido acusado injustamente. “Fui acusado, julgado e condenado sem a apresentação de uma prova sequer das ilações que me foram lançadas", disse. "Eu não mereço isso, tenho 30 anos de vida pública."
Logo depois de entregar seu pedido de demissão, Nascimento encaminhou um pedido à PGR (Procuradoria Geral da República) para investigar a denúncias contra ele e liberou o acesso às duas informações bancárias e fiscais.
Afastamento da cúpula
A presidente Dilma Rousseff afastou praticamente toda a cúpula do ministério: até esta terça-feira (2), pelo menos duas dezenas de funcionários foram retirados de seus cargos. Entre eles está o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot.
Nascimento disse, durante seu discurso hoje, que nem ele nem o PR são "lixo" para ser "varrido" da vida pública depois das denúncias.
A Controladoria-Geral da União (CGU) designou uma equipe para fazer uma "devassa" nas licitações, contratos e execuções de obras a cargo do Dnit e da Valec, envolvidos nas denúncias de irregularidades.
Em decreto publicado ontem (1º), em edição extra do "Diário Oficial da União", o governo concedeu mais poderes ao Conselho de Administração do Dnit que, a partir de agora, passará a designar os servidores do órgão para substituir os ocupantes, em caso de vacância simultânea dos cargos de diretoria, até que seja nomeado o efetivo.
* Com colaboração do UOL Notícias, em São Paulo
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