Perillo nega influência de Carlinhos Cachoeira e Demóstenes no seu governo, mas confirma encontros
Em depoimento a parlamentares da CPI do Cachoeira nesta terça-feira (12), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), negou que o contraventor Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) tivessem qualquer tipo de influência no seu governo para indicar nomes para cargos públicos, mas admitiu ter encontrado o parlamentar e o bicheiro em jantares e disse que Demóstenes "sugeriu alguns nomes" para seu mandato.
O depoimento do governador começou às 10h25 e já dura mais de sete horas.
Perillo afirmou que ele próprio indicou Edivaldo Cardoso para a presidência do Detran-GO. "O Edivaldo, que era presidente do PT do B, foi fundamental para a minha eleição e achei que era justo colocá-lo no meu governo."
"E o trabalho dele esteve à altura das minhas expectativas, especialmente em relação à modernização do Detran", disse Perillo. " Ele não foi nem indicação do sr. Carlos Cachoeira nem do Demóstenes." Cardoso pediu exoneração do cargo depois de terem sido divulgadas conversas telefônicas entre ele e Cachoeira.
Perillo disse que a indicação do procurador do Estado João Furtado para o cargo de secretário de Segurança Pública tampouco veio de Cachoeira ou Demóstenes. "Ele é procurador-geral do Estado, de carreira, concursado. É uma pessoa íntegra e não tem nada que o desabone. Foi uma indicação pessoal minha", afirmou à CPI.
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- http://noticias.uol.com.br/enquetes/2012/06/12/o-governador-de-goias-marconi-perillo-psdb-negou-ter-relacao-proxima-com-o-contraventor-carlos-cachoeira-o-que-voce-acha.js
João Furtado é alvo de investigação por parte do Ministério Público de Goiás, em consequência da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que apurou o esquema de negócios do empresário Carlinhos Cachoeira.
Encontros confirmados
Apesar de negar proximidade com Cachoeira, Perillo admitiu ter participado de dois jantares com ele, além de tê-lo encontrado em outros compromissos públicos durante o período de campanha. Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, Perillo informou também ter recebido o empresário em uma audiência formal, no Palácio das Esmeraldas, sede de governo de Goiás.
Um dos jantares ocorreu na casa do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), de acordo com o próprio governador. Outro jantar, confirmado por Perillo, ocorreu na casa do ex-presidente do Detran (Departamento de Trânsito) de Goiás, Edivaldo Cardoso, que pediu exoneração do cargo após as denúncias. A suspeita da Polícia Federal é que Cardoso tenha sido indicado por Cachoeira para o cargo.
No depoimento, Perillo também negou que soubesse da relação de amizade existente entre Demóstenes e Cachoeira. "Não era de conhecimento meu. Só fiquei sabendo muito depois que havia uma relação de amizade entre os dois", disse o governador.
Relação com Demóstenes
O governador negou que soubesse da existência de relação de intimidade entre o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e Carlinhos Cachoeira, mas admitiu que Demóstenes era um nome de "prestígio" em Goiás.
"Não sabia da relação entre eles. Convidei Demóstenes para ser secretário de Segurança Pública sem sequer saber se ele havia votado em mim. Queria ajuda do Ministério Público na área. Só fiquei sabendo da relação entre eles muito tempo depois. Não sabia que havia intimidade entre os dois", afirmou à comissão.
O governador disse ter defendido a candidatura de Demóstenes Torres à prefeitura de Goiânia. Segundo Perillo, o senador era muito “paparicado” por empresários e políticos locais pelo trabalho que desempenhava no Parlamento.
"Tivemos muitas desavenças, mas na última eleição recebi o apoio dele e do DEM. Na verdade, todos queriam o apoio do senador, que tinha enorme prestígio", disse Perillo sobre Demóstenes.
Apesar de dizer que valoriza a "meritocracia", Perillo afirmou que Demóstenes "sugeriu vários nomes de pessoas que estão em vários órgãos do Estado".
Ex-chefe de gabinete
Sobre a sua ex-chefe de gabinete, Eliane Gonçalves Pinheiro, Perillo afirmou que ela trabalhava havia mais de 20 anos para o governo do Estado de Goiás, mas que ele não sabia das relações dela com Cachoeira nem que possuía um telefone Nextel, que o bicheiro presenteou pessoas próximas e que trabalhavam para ele.
A indicação dela fora feita pelo ex-deputado Fernando Cunha (PSDB). O tucano destacou que a função dela no governo era tratar de assuntos partidários e da relação com senadores e deputados federais e estaduais. Ele afirmou que Eliane “trabalhava atendendo partidos e parlamentares e nunca pediu nada para favorecer qualquer" pessoa ligada aos negócios de Cachoeira.
Segundo Perillo, foi ela quem decidiu se afastar do governo depois que se tornaram públicas as gravações de conversas telefônicas em que ela é citada por pessoas ligadas a Cachoeira.
Combate ao crime organizado
Para tentar provar que não mantinha relação com Carlinhos Cachoeira, o governador afirmou ainda que a polícia de seu Estado teve participação importante no combate ao crime organizado e às atividades ilegais, supostamente comandadas por Cachoeira.
Para convencer os deputados e senadores que fazem parte da CPI do Cachoeira, Perillo citou um diálogo, interceptado pela Polícia Federal, do empresário com a mulher dele, Andressa Mendonça, no qual ele estaria reclamando da ação do governo.
Na gravação citada pelo governador, Cachoeira reclama que tinha vontade de chorar ao "ser tratado como um bandido" e que os negócios de jogos que continuavam funcionando em Anápolis não estavam mais com o lucro esperado. "Essa é a prova do quanto a polícia do meu Estado agiu contra a contravenção e contra todo tipo de crime organizado", disse o governador.
Perillo é investigado por manter relações com a organização criminosa investigada pelas operações Monte Carlo e Vegas. Ele é suspeito de receber pagamentos e de se beneficiar de doações do empresário Carlinhos Cachoeira em troca de favorecimento em licitações.
Empreiteira
Sobre as relações com a empreiteira Delta, Perillo disse que a empresa recebeu R$ 14 milhões em 2011 e R$ 4 milhões em 2012.
“A Delta não fez doação a minha campanha. A Rossini fez. A Delta nunca teve relações comigo, ela teve relações com outros grupos, relações próximas, muito fortes”, disse Perillo sem detalhar a que grupos se referia.
O governador ainda defendeu que está em dia com a Justiça eleitoral e não teve nenhum problema com a prestação de contas de sua campanha em 2010.
Dúvidas que Perillo precisa responder
1) Quanto custou a casa onde Cachoeira foi preso? | Perillo diz que recebeu do empresário Professor Walter R$ 1,4 milhão em três cheques. Professor Walter diz que pagou R$ 1,4 milhão em dinheiro. A PF diz que Cachoeira pagou pelo menos R$ 1,4 milhão pela casa, com cheques de uma empresa de fachada. Parlamentares suspeitam que o pagamento, na verdade, foi feito duas vezes. E totalizava R$ 2,8 milhões. O ex-vereador tucano Wladimir Garcez afirma que o valor pago foi de R$ 2 milhões, a diferença seria justificada pela compra de móveis (R$ 500 mil) e valor de corretagem (R$ 100 mil) |
2) Quem comprou a casa do governador de Goiás? | Perillo afirma que foi Walter Paulo Santiago. Professor Walter diz o mesmo. O ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez se diz o comprador. A PF acredita que o negócio foi feito por Carlinhos Cachoeira. |
3) Quem intermediou a compra da casa? | Perillo aponta para o ex-vereador Garcez. Professor Walter confirma Garcez e acrescenta o assessor Lúcio Fiúza. A PF diz que o intermediário foi um sobrinho de Cachoeira. |
4) Como foi o pagamento? | Perillo diz que recebeu três cheques, mas não se importou em saber de quem eram. Professor Walter afirma ter pagado em dinheiro, com notas de R$ 50 e R$ 100, aos intermediários. Garcez declarou que os cheques foram emprestados por Cachoeira. Quando não conseguiu pagar pela casa, revendeu o imóvel a Walter. A PF diz que o sobrinho de Cachoeira pagou por meio de uma empresa de fachada. |
5) Qual era a influência de Cachoeira no governo de Goiás? | Perillo diz que só conversava com o contraventor sem saber de suas operações ilegais. Cachoeira se reserva o direito constitucional de ficar calado. A PF afirma que o contraventor indicava membros de várias secretarias, era beneficiado em licitações e contava com tolerância da polícia. |
6) Quem pagou a campanha de rádio de Perillo em 2010? | Perillo diz que todos os pagamentos foram feitos legalmente. O jornalista Luiz Carlos Bordoni afirma ter sido pago com dinheiro vivo pelo próprio Perillo. Também disse que recebeu de uma empresa de fachada ligada a Cachoeira. |
7) Qual é a relação entre Perillo e Cachoeira? | Perillo afirma que lidava com o contraventor como se fosse um empresário comum, ativo na sociedade goiana. Cachoeira se reserva o direito constitucional de ficar calado. A PF acredita que o relacionamento era próximo, embora o governador não tivesse um dos rádios Nextel oferecidos pela quadrilha a seus membros, nem tenha sido ouvido em conversas comprometedoras. |
*Com informações de Camila Campanerut, em Brasília, e da Agência Brasil
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