Topo

Ministro revisor do mensalão não deve votar nesta segunda, diz presidente do STF

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília*

20/08/2012 16h55Atualizada em 20/08/2012 17h51

Após cerca de duas horas da continuação da leitura do voto do ministro relator do mensalão, Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, disse que considera improvável que o revisor do caso vote ainda nesta segunda-feira (20). “Tudo indica que não haverá tempo para o ministro revisor [Ricardo Lewandowski] votar. Depois de proclamado o resultado parcial em relação ao processo eu encerro a sessão”, afirmou o presidente da Suprema Corte, Carlos Ayres Britto.

Segundo Britto, o ministro Joaquim Barbosa deve encerrar hoje somente o item III da denúncia. Carlos Ayres Britto disse ainda que não sabe qual é a ordem dos próximos itens a serem julgados e que precisa confirmar com Barbosa.

O julgamento foi retomado nesta tarde com a continuação do voto de Barbosa, o que pegou vários ministros e advogados de surpresa. Eles acreditavam que Barbosa abriria a palavra para a votação dos demais ministros com relação ao item que trata de desvio de dinheiro na Câmara dos Deputados, apresentado pelo relator na última quinta-feira (16).

Barbosa, no entanto, continuou votando o segundo e terceiro itens do terceiro capítulo, que dizem respeito aos crimes envolvendo contratos entre o Banco do Brasil e a DNA Propaganda e desvios do fundo Visanet, respectivamente.

Ayres Britto disse ainda que não tem queixas sobre o ritmo de julgamento do mensalão, que considera "normal". “Barbosa está fazendo leitura pausada em nome da clareza, mas essa pausa não significa lentidão necessariamente”, disse o presidente. Antes do início do julgamento, Britto defendia que a análise do processo iria terminar no final de agosto. Mas tudo indica que as cinco sessões plenárias restantes até o final do mês não serão suficientes para que tudo seja concluído.

Sobre a participação do ministro Cezar Peluso no julgamento, Britto disse que o assunto é “um prognóstico que ninguém pode fazer”. Peluso se aposenta compulsoriamente no dia 3 de setembro, ao completar 70 anos de idade. Sua última sessão plenária será no dia 30 de agosto.

Fatiamento

Sobre a petição dos advogados contra o “fatiamento do julgamento”, o magistrado afirmou que a recebeu e que ainda está lendo, caso termine de ler ainda hoje, informará oficialmente os demais ministros sobre o assunto. A petição foi assinada por vários advogados de réus e afirma que o rito do julgamento foi adotado sem consenso na última sexta-feira (17). Segundo os defensores, “diante da obscura ordem estabelecida para o julgamento, e reiterando a perplexidade já registrada em Plenário quanto ao método adotado pelo Insigne Ministro Relator [Joaquim Barbosa] em que toma por princípio a versão acusatória afronta o postulado do devido processo legal”.

A metodologia fatiada, sugerida por Barbosa para estruturar seu voto, segue a ordem da denúncia que veio do Ministério Público, dividida em oito itens, formados por blocos de crimes. Já foram votadas partes dos acusados dos crimes de lavagem de dinheiro, peculato e corrupção ativa e passiva.

A forma com que o relator está apresentando seu voto gerou bate-boca entre os ministros e estranheza a advogados, pois difere da ordem que costuma ser utilizada no julgamento. O revisor Ricardo Lewandowski criticou o método. “Estaremos adotando a lógica do Ministério Público e admitindo que existem núcleos”, disse na quinta. Em seguida, Lewandowski afirmou que Barbosa “tem uma ótica ao que se contém na denúncia”, o que irritou o relator. “Isso é uma ofensa. Não venha Vossa Excelência me ofender também”, retrucou Barbosa. Mas, mesmo contrariado, Lewandowski já disse que vai se readequar ao voto do relator. “Pelo que eu soube, o ministro Lewandowski anunciou que se adaptaria ao fatiamento”, disse Ayres Britto na sexta-feira. 

 

Entenda o mensalão

O caso do mensalão, denunciado em 2005, foi o maior escândalo do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O processo tem 38 réus --um deles, contudo, foi excluído do julgamento no STF, o que fez o número cair para 37-- e entre eles há membros da alta cúpula do PT, como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). No total, são acusados 14 políticos, entre ex-ministros, dirigentes de partido e antigos e atuais deputados federais.

O grupo é acusado de ter mantido um suposto esquema de desvio de verba pública e pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo Lula. O esquema seria operado pelo empresário Marcos Valério, que tinha contratos de publicidade com o governo federal e usaria suas empresas para desviar recursos dos cofres públicos. Segundo a Procuradoria, o Banco Rural alimentou o esquema com empréstimos fraudulentos.

O tribunal vai analisar acusações relacionadas a sete crimes diferentes: formação de quadrilha, lavagem ou ocultação de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, evasão de divisas e gestão fraudulenta.

Entenda o dia a dia do julgamento

*Com informações da Agência Brasil