Topo

Início da corrida eleitoral de 2014 para governo do Rio cria racha na aliança entre PT e PMDB

Pezão, vice-governador do Rio, e Lindbergh Farias, senador petista, pré candidatos ao governo do Estado - Érica Ramalho/Divulgação/Governo do Rio - 17.mai.2012 e José Cruz/ABr - 21.mar.2011
Pezão, vice-governador do Rio, e Lindbergh Farias, senador petista, pré candidatos ao governo do Estado Imagem: Érica Ramalho/Divulgação/Governo do Rio - 17.mai.2012 e José Cruz/ABr - 21.mar.2011

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

28/02/2013 06h00

A eleição para o governo do Estado do Rio de Janeiro, em 2014, colocará em lados opostos PT, que lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias, e PMDB, que tentará se manter no cargo com o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

Aliados desde 2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou a eleição do atual chefe do Executivo, Sérgio Cabral, cujo segundo mandato se encerra no ano que vem, petistas e peemedebistas já se encontram em pé de guerra.

Há uma semana, Farias estreou na TV com discurso de que é preciso "reduzir a distância que separa o Rio pobre do Rio rico" --em referência crítica à gestão de Cabral. O PMDB, por sua vez, reagiu com uma nota através da qual ameaça não apoiar a reeleição da presidente da República, Dilma Rousseff, no Estado.

Questionado sobre a nota do PMDB estadual, Farias reafirmou sua pré-candidatura ao governo do Rio e considerou "deselegante e fora de tom" a crítica do partido aliado. "Não é uma demonstração de força [do PMDB]. Parece que nossa candidatura está incomodando. Parece uma demonstração de fraqueza", afirmou, lembrando que a decisão de lançá-lo na disputa ao governo foi tomada por unanimidade pelo diretório do PT regional. "Foi um tiro no pé [a nota do PMDB]. Deixou minha candidatura mais forte".

Lindbergh disse que, se o PMDB quiser, pode lançar outra candidatura à sucessão do governador Sérgio Cabral, "o que não pode é decidir o que o PT vai fazer". Perguntado se abriria mão de sua pré-candidatura diante de um eventual pedido de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador nem admitiu a hipótese.

A partir da próxima terça-feira (5), Pezão será, segundo a assessoria do partido, "a principal estrela" de uma série de inserções na TV.

A prévia da disputa continuará nos próximos dias. A partir desta quinta-feira (28), Lindbergh dá início a uma caravana pelo Estado do Rio, iniciativa inspirada na "Caravana da Cidadania" feita por Lula entre 1993 e 1996, quando o ex-presidente percorreu 359 cidades pelo país acompanhado de lideranças políticas e sindicais.

O senador conta com o apoio de Lula e do diretório nacional, que entendem que o PT precisa superar a condição de coadjuvante no cenário político fluminense. A primeira parada será em Japeri, na Baixada Fluminense, o município de pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio.

Já no sábado (2), Pezão participará da convenção nacional do PMDB, onde será lida uma nota, assinada pelo presidente estadual da legenda, Jorge Picciani, que afirma: "o palanque duplo para a presidente Dilma no Rio não se sustenta". Na visão dos correligionários do vice-governador e pré-candidato à sucessão de Cabral, "trata-se de uma equação que não fecha e cujo resultado não será a soma, mas a subtração".

"Rio pobre" x "Rio rico"

No dia 20 de fevereiro, o PT começou a veicular propagandas (assista ao lado) nas quais Lindbergh afirma existir uma distância social no Rio de Janeiro, isto é, uma separação entre o "Rio pobre" e o "Rio rico". Nas palavras do senador, o Partido dos Trabalhadores, durante os oito anos do governo Lula, "diminuiu a distância entre governo e povo".

"Lula e Dilma fizeram isso no Brasil. Nós do PT vamos fazer no Rio. O Rio vive um bom momento porque a distância entre o governo estadual e federal diminuiu. Agora nosso melhor momento será quando gente que pensa de verdade no povo trabalhe ainda mais junta, aqui e em Brasília", afirma Farias. O cenário escolhido para a inserção é o de uma favela, na qual é possível identificar bandeirinhas de campanha das candidaturas de Lula e Dilma.

Com o slogan "PT: Está chegando o melhor momento do Rio", Lindbergh sugere uma expansão da rede ferroviária na cidade (propaganda veiculada apenas para a região metropolitana do Estado), fazendo com que os trens da concessionária Supervia --muito criticada em função de problemas constantes como superlotação e má conservação-- passem a circular na superfície. "É transporte bom para quem mais precisa", declara o senador.

A reportagem do UOL solicitou entrevista com o senador Lindbergh Farias, mas não obteve retorno.

"O PT cresceu no Rio com a gente", diz Pezão

No mesmo dia em que o PT começou a veicular inserções na TV, Pezão participava de uma convenção da juventude do PMDB, que oficializou o nome do filho do governador Sério Cabral, Marco Antônio Cabral, como presidente do diretório nacional. Em seu discurso, Pezão afirma que a legenda "respeitou as alianças" que possibilitaram a eleição para o governo do Estado, e faz uma crítica indireta à postura do PT.

"As pessoas, às vezes, [falam]: 'Não, o PMDB diminuiu'. Nós não diminuímos, não. Nós representamos e crescemos a nossa aliança. Nós respeitamos. Se não vão nos respeitar daqui para frente (...), mas nós respeitamos os compromissos que assumimos. O PT cresceu no Rio com a gente. Nós apoiamos diversos prefeitos. E a gente pode dar diversos exemplos", afirmou.

A reportagem do UOL solicitou entrevista com Luiz Fernando Pezão, porém sua assessoria afirmou que, neste momento, o vice-governador prefere não falar sobre a corrida eleitoral para o governo do Estado, em 2014.

Estratégias do PMDB

Após as inserções do PT na TV, caíram por terra os rumores de que Sérgio Cabral poderia renunciar ao cargo de governador do Estado, em 2014, para fazer com que Pezão ganhasse mais popularidade à frente do Executivo fluminense.

Desde o início do segundo mandato, a legenda trabalha para vincular a imagem do vice-governador ao planejamento, gestão e execução de projetos e obras de infraestrutura física, social e ambiental desenvolvidas pelo governo estadual. Uma secretaria --a Coordenadoria Executiva dos Projetos e Obras de Infraestrutura-- foi criada para que o vice-governador pudesse ter controle total das ações e investimentos realizadas pela gestão.

Além disso, Pezão já foi ligado, tanto em discursos de correligionários, entre os quais Cabral e Jorge Picciani, quanto em propagandas na TV, ao projeto do teleférico do Complexo do Alemão, símbolo do projeto de pacificação, na zona norte do Rio, e ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Como coordenador-executivo de Projetos e Obras de Infraestrutura, Pezão é o responsável pela interlocução com o governo federal.

Há ainda uma outra estratégia, já comentada publicamente por lideranças do PMDB, no sentido de alavancar a candidatura de Pezão: convencer o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, cujo trabalho possui avaliação positiva entre a população, a ser o vice. Beltrame, porém, já afirmou não ter interesse.

Continuidade da gestão

Logo após a reeleição no Rio, do prefeito Eduardo Paes (PMDB) no ano passado, Pezão foi lançado pelo próprio Sérgio Cabral como candidato à sucessão.

Na ocasião, o governador afirmou que a escolha pelo vice-governador representaria a "continuidade" de sua gestão, afastando a possibilidade de que o partido poderia lançar Paes --que tem ótimo índice de popularidade e obteve votação recorde em 2012-- para o governo do Estado.

"A escolha do Pezão em 2014 é a continuidade desse projeto. Ele tem competência, e já mostrou isso, para dar continuidade ao que está dando certo. Durante o nosso governo, o Pezão foi o grande coordenador desse processo de grandes investimentos em infraestrutura. Sem dúvida ele [Pezão] é o nosso candidato", disse Cabral.

O prefeito, que foi reeleito na capital fluminense com um vice do PT (Adilson Pires), seguiu a mesma linha de raciocínio. Porém, ressaltou que a legenda trabalharia para chegar a um candidato único: "O PMDB já tem um candidato: Luiz Fernando Pezão. Certamente nós vamos eleger o sucessor do governador Sério Cabral. Vamos trabalhar para construir uma grande aliança com o Partido dos Trabalhadores". (Com informações do Valor Econômico)