Leia a transcrição da entrevista de Rui Falcão ao UOL e à Folha
Rui Falcão, presidente nacional do PT, participou do "Poder e Política", programa do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 24.out.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
Rui Falcão - 24.out.2013
Narração de abertura: Rui Goethe da Costa Falcão tem 69 anos. Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, fez carreira como jornalista. Trabalhou na Folha de S.Paulo e no Jornal da Tarde e foi diretor de redação da revista Exame de 1977 a 1988.
Durante a ditadura, Rui Falcão militou na VAR-Palmares, organização de esquerda que tentou derrubar a ditadura por meio das armas. Ficou preso por 3 anos.
Rui Falcão ajudou a fundar o PT e foi diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em 1990, elegeu-se deputado estadual. Está hoje no seu quarto mandato na Assembleia Legislativa paulista. Também exerceu um mandato de deputado federal.
Rui Falcão foi secretário de governo na gestão de Marta Suplicy como prefeita. Também coordenou a campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República
Rui Falcão foi presidente dos diretórios municipal e estadual do PT em São Paulo e, desde 2011, é o presidente nacional da legenda.
Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um Poder e Política Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação é realizada aqui no estúdio do grupo Folha, em Brasília.
O entrevistado dessa edição do Poder e Política é Rui Falcão, presidente nacional do PT.
Olá, Rui Falcão. Muito obrigado por estar aqui.
Olá. Tudo bem? Prazer em estar aqui com você e com seus milhões de internautas.
O PT tentará reeleger Dilma Rousseff, em 2014. Isso é uma grande prioridade. Separando a prioridade maior, que eu imagino que seja eleger a presidente. Quais são as outras prioridades do PT, na eleição do ano que vem?
Além da reeleição da presidenta Dilma com um programa de reformas estruturais, que nós pretendemos que possam ser viabilizadas, nós vamos crescer nos Estados. Espero manter a maior bancada de deputados, como nós temos hoje. Eleger mais senadores. Reeleger nos Estados que nos governamos. Nós governamos cinco hoje, mas Sergipe já há um acordo para ceder o posto para o PMDB. Os quatro demais – Bahia, Acre, Distrito Federal e Rio Grande do Sul – nós pretendemos reelegê-los ou fazer o sucessor e há, pelo menos, outros Estados em que nós temos muita competitividade. São três: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. São três que nós disputamos para ganhar.
O senhor mencionou bancadas no Congresso. Câmara, o PT tem a maior bancada hoje, e o senhor fala em mantê-la ou ampliá-la, e no Senado em ampliar a bancada. Nos últimos dias, há uma discussão, aqui em Brasília, por parte de petistas ou não petistas, a respeito do PT ceder um pouco nos Estados para partidos aliados e abdicar do sonho de ampliar a bancada no Senado e de não avançar muito na Câmara. Isso existe?
Não, isso não existe. A não ser a nossa disposição de discutir com os aliados nos Estados e onde houver a maior possibilidade, naturalmente, ceder em postos majoritários. Mas essa ideia de retrair o número de senadores e deputados, isso não existe. Nem da parte do PT e acho que de nenhum partido. Todos legitimamente querem crescer. Vou dar um exemplo de..., ainda há discussão sobre isso, os nossos encontros estaduais no ano que vem vão definir, mas da parte da direção nacional, da parte da presidência, nós temos a disposição de apoiar o PMDB em vários Estados. Eu cito, por exemplo, o Estado do Pará, cito o Estado do Amazonas, cito do Estado do Rio Grande do Norte, entre outros, em que o PMDB, tendo uma candidatura dialogada conosco, não teremos nenhum problema em apoiar o PMDB. E há outros Estados em que nós precisamos discutir com o PSD, com o PTB, com o PR, com o PP, porque são três postos que vão ser objeto de negociação além das coligações proporcionais ou não. Que é o posto de governador, de vice-governador e de senador. Tudo isso vai estar no mapa de negociação com os nossos aliados.
Mas a disposição do PT, o senhor diz, é manter a bancada de deputados como a maior, ou ampliá-la, e ampliar a de senadores, é isso?
Exatamente.
Há uma meta?
Eu não gosto de falar em metas, numéricas, a não ser nessa generalidade que eu te disse, porque se você fixa o número e tem um a menos fica sempre aquela avaliação de que você não cumpriu a meta. Se você excede ninguém festeja.
Mas eu imagino que o piso é a bancada atual.
Isso.
O piso é a bancada atual e ampliá-la no caso da Câmara e no caso de senadores idem.
Exatamente.
Mas não há nem, pelo menos, uma faixa em que o senhor acredita que o PT possa chegar?
É difícil fazer essa avaliação antes de você ver o quadro geral das alianças também, né? E também nos Estados onde você encabeça a chapa, a tendência é sempre fazer mais deputados. Onde você cede o posto de governador, a tendência é a bancada não crescer tanto.
Há muitos anos, no Brasil, nenhum partido consegue eleger mais de 100 deputados federais. O senhor imagina que em 2014 esse quadro se repita dada a fragmentação partidária?
Eu acho que o problema maior não é a fragmentação. O problema maior é um elemento, que nós temos insistido muito e vamos continuar insistindo, que é o peso do poder econômico nas eleições. Com o financiamento privado das eleições é muito difícil um partido como o PT suplantar a meta de 100 deputados. Embora a gente vá lutar por isso mesmo sob as regras atuais que permitem o financiamento empresarial. E a questão das listas também. Se você tivesse listas partidárias, ainda que lista no sistema misto, você poderia também se beneficiar do peso que tem a legenda do PT, o 13, que é o partido mais popular do Brasil. Se nós pudéssemos ter as listas partidárias, em que o eleitor vota por programas, e não necessariamente só por pessoas, também essa meta seria mais fácil de alcançar.
Muita controvérsia sobre todas essas propostas dentro do Congresso, a gente sabe...
É por isso que nós estamos propondo também a realização de uma assembleia constituinte exclusiva para discutir uma reforma política mais ampla no país. As manifestações de junho, embora não tivesse explicitamente cartazes com “queremos reforma política”, mas houve uma reprovação nítida ao atual sistema de representação do país, a atual forma de escolha de representantes e assim por diante.
Ainda que uma assembleia constituinte exclusiva para reforma política seja questionada por parte de especialistas em Constituição e até por parte de alguns ministros do Supremo, o senhor acha que há espaço?
Veja, a nossa proposta é eleger representantes com mandato determinado, para incidir apenas naqueles artigos da Constituição que tratam do sistema político eleitoral, e concluído o trabalho, encera-se o mandato desses representantes. O questionamento é você fazer uma assembleia constituinte exclusiva, não originária, inclusive, para mexer em toda a Constituição, que ela tem um disciplinamento para a sua própria revisão às emendas, mas para mexer num item exclusivo. A convocação demarcada e determinada acho que não haverá questionamento jurídico. E nós pretendemos fazê-lo agora através de uma emenda popular, nós estamos coletando assinaturas para isso.
Quantas assinaturas já foram coletadas nesse projeto?
Nós temos cerca de 300 mil assinaturas. Mas veja, houve um sobrestamento, digamos assim, da campanha, quando ocorreram as manifestações de junho e quando a presidenta enviou para o Congresso a proposta de plebiscito. E agora nós estamos retomando e com o PED, que nós esperamos cerca de 600 mil eleitores, pelo menos, votando...
O PED é o Processo de Eleições Diretas do PT, é isso?
É. Nós temos oitocentos e poucos mil filiados habilitados. Isso significa mais de 800 mil que pagaram as suas contribuições, se inscreveram corretamente, dentro de um prazo determinado. De sorte a se conhecer o colégio. As pessoas vão ter tempo de procurar os eleitores, pedir o voto. Nós vamos eleger diretamente quase 100 mil dirigentes do PT. Desde o presidente nacional até os militantes dos diretórios zonais das cidades com mais de um milhão de habitantes. É um processo inédito no Brasil e eu acho que em muitas partes do mundo também, porque além da eleição direta, que é o único partido que faz isso no Brasil, nós teremos, obrigatoriamente: metade dos dirigentes mulheres – igualdade de gênero –, ordenamento da direção – lista com ordem, com eleição proporcional –, 20% de jovens com até 29 anos e cotas étnico-raciais também. A participação das mulheres vai estimular muito a ampliação das nossas chapas também, parlamentares. Por que veja, você conhece, o Brasil tem menos de 10% de mulheres representadas no Parlamento. É menos do que a participação proporcional das mulheres no Parlamento do Irã.
O PED, Processo de Eleições Diretas, ocorre no dia 10 de novembro, certo?
E o segundo turno ocorre no dia 24 de novembro.
Para a presidência nacional do PT o senhor concorre a mais um mandato. De quantos anos é esse mandato, a qual o senhor está concorrendo, e quantos são os seus adversários?
São 5 adversários na presidência.
Seis candidatos, portanto?
Seis candidatos portando. Eu estou, na verdade, estou concluindo o mandato do presidente José Eduardo Dutra, que após ser eleito no PED renunciou, por motivos de saúde. No nosso quarto congresso extraordinário, que foi feita uma reforma do estatuto, o mandato do presidente foi ampliado de três para quatro anos. Portanto, caso eu seja eleito, no dia 10 ou no dia 24, eu terei direito a quatro de mandato.
Recentemente o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva deu uma entrevista ao jornal espanhol “El País” com algumas críticas ao partido. Disse que os petistas valorizam muito, ou excessivamente, os cargos públicos. O senhor é presidente do PT. Lula acertou nessa crítica?
Eu já tinha, em várias ocasiões, dito que era preciso haver, aliás, no meu manifesto de lançamento, pela unidade do PT, que é um manifesto pelo qual eu me apresento, eu digo lá que é preciso ter mais presença na base, mais presença junto aos movimentos sociais e menos apego aos cargos públicos. Menos afeição ao aparelho estatal. Isso não é nenhuma descriminação à participação institucional nem aos nossos parlamentares que representam muito bem o PT. Mas, o que nós introduzimos nessa reforma do estatuto: a partir de agora nenhum parlamentar do PT pode ficar mais que três mandatos consecutivos no mesmo nível. Isso já é uma medida partidária...
Mas no nível, qual nível?
Se você é deputado federal, cumpriu três mandatos, ou você vai ser candidato a senador, ou deputado estadual, prefeito ou vereador, ou você para...
Mas zerou agora, a partir de agora?
A partir da mudança do estatuto.
Não é retroativo, quem já está há quatro mandatos não vale?
Não. A lei nesse caso não é retroativa. Eu acho que é uma medida salutar. Eu, pessoalmente, defendi que fossem dois mandatos consecutivos, mas a maioria preferiu três e é o que vigora.
Eu tenho a impressão que o ex-presidente Lula se referiu a cargos públicos nas máquinas de Estado que o PT comanda. Cargos em prefeituras, em governos estaduais e no governo federal. Isso ocorre também e por quê?
Não sei se há esse apego. Há a necessidade, muitas vezes, de você ocupando a prefeitura ou o governo do Estado você precisa de quadros que tenham competência técnica, tenham idoneidade, tenham o perfil para a função. Nós, aliás, estamos agora – acho que a informação é importante para você –, através da fundação Perseu Abramo, que é a fundação do Partido dos Trabalhadores, fazendo cursos presenciais e à distância para a formação de gestores públicos. E há cerca de dois meses, em convênio com a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, abrimos um curso para doutores em gestão de políticas públicas. Na primeira inscrição 300 militantes do PT se inscreveram. São quatro grandes aulas presenciais e o resto é formação à distância.
Um dos seus adversários na disputa pela presidência do PT, eu li no jornal Valor nesta semana, o deputado federal Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, que concorre também à presidência do partido, diz que a sua candidatura que representa o campo majoritário, o senhor é favorito para vencer a eleição, não contempla a agenda de renovação defendida por Lula no PT. Como o senhor responde a isso?
É a opinião dele. Faz parte da disputa para buscar votos no partido.
PT decidiu antecipar um pouco o congresso que faz tradicionalmente no mês de fevereiro para o mês de dezembro. É isso mesmo? Por quê?
Primeiro, nós queremos, por ocasião do congresso, que vai ser de 12 a 16 de dezembro próximo...
Já está marcada a data?
É. Nós queremos fazer a posse, a apresentação, de todos os 27 presidentes de diretório estadual junto com a posse do próximo presidente do diretório nacional. E queremos fazer uma releitura desse período de 33 anos do PT, atualizar o nosso programa, e não queremos misturar isso com o encontro de março, abril quando nós devemos definir política de aliança, tática eleitoral e diretrizes para o programa de governo o PT com os seus aliados. Então o momento é o momento do congresso que é uma fase mais de debate teórico...
O congresso, para que os leitores, internautas entendam, acontece de quanto em quanto tempo?
Ele pode ser convocado a qualquer momento.
Claro, mas em geral?
Em geral a cada três anos, a cada quatro anos. Os encontros são anuais.
O último foi em 2010, não foi?
Em 2010 que foi um congresso extraordinário para a reforma do estatuto.
Em geral, no melhor da minha memória, ele se realizava sempre em fevereiro, que é inclusive o aniversário do PT.
Isso, exato.
Agora a antecipação se dá para não confundir com o processo eleitoral do ano que vem?
Exatamente. Porque você vai discutir tática eleitoral, alianças, no ano que vem. Fazer isso junto com o congresso, acho que uma discussão contamina a outra. Uma discussão é para o longo prazo, médio longo prazo, a outra é discussão do curto prazo.
O congresso, portanto, é de 12 a 16 de dezembro e será realizado em Brasília. Coincide com o aniversário da presidente Dilma Rousseff. Tem alguma razão?
Não. Eu li ontem até que nós queríamos fazer uma grande festa no congresso pelo aniversário dela.
Que é dia 14.
Dia 14 de dezembro. Ninguém pensou nisso, tanto é que o congresso foi antecipado por essa razão que eu te falei. Nem sei se ela vai passar o aniversário aqui em Brasília, passar com o neto. Não há essa preocupação. Embora, nós gostaríamos muito que ela passasse no congresso. Será convidada. Se coincidir de dia 14 ela estiver no congresso, naturalmente, vamos cantar parabéns para ela. Ela merece.
Voltando à primeira pergunta que eu fiz para o senhor, sobre o tamanho das bancadas, deputados, senadores. O senhor disse que a intenção, claro, vai haver alianças, mas a intenção é sempre aumentar. O que a gente ouve em Brasília dos aliados do PT, em resumo, poderia ser a seguinte frase: “O PT é muito fominha. Não deixa espaço para os aliados. Quer sempre avançar, quer sempre aumentar”. É isso mesmo?
Acho que não. Nós, hoje, governamos cinco Estados. O Brasil tem 27 com o Distrito Federal. Acho que é natural...
Mas o senhor disse que pretende ganhar Rio, São Paulo e Minas.
Sim, é uma disposição. Agora veja...
O PT é fominha?
Claro que não. Todos os partidos querem crescer, isso é legitimo e é natural na política, e quando você faz alianças – aliança é uma união entre desiguais em muitos pontos e iguais em outros – então, é sempre unidade e luta, aproximação e contradição. Essa é a política natural de aliança. Mesmo com aqueles que são mais próximos há uma intenção de crescer, de ocupar mais espaço. Como se diz aí no vulgo “não há espaço vazio na política, porque quando ele fica vazio alguém quer ocupar”. Essa é a disputa que se dá e há rivalidades. Eu considero isso um processo natural, desde que essa disputa se dê dentro de certas regras e ela se faça no plano das ideias, não haja detração pessoal. Esse é o jogo da política.
Quem são os candidatos principais competitivos que devem se apresentar para a corrida presidencial de 2014?
Você pergunta nos Estados ou para Presidência da República? Eu sei que há uma candidata já definida, consolidada, que é a presidenta Dilma Rousseff. Os demais candidatos ainda não...
O que o senhor enxerga no campo da oposição? De candidatos que podem vir a ser competitivos.
José Serra, Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina, são os candidatos que estão com maior intenção de voto até o momento, nas pesquisais. Qual deles vai restar para disputar com a presidenta Dilma é uma definição que esses partidos vão fazer no futuro. Parece que o PSDB em março e o PSB também em março. Então nós temos que aguardar.
A eleição presidencial de 2014 é uma eleição que tende a ir para o segundo turno ou não?
Você que é um pesquisador, tem todas as estatísticas talvez possa responder melhor. Nós já tivemos as duas circunstâncias: eleições definidas no primeiro turno e as últimas eleições definidas no segundo turno. Nós do PT estamos preparados para disputador tanto o primeiro turno com expectativa de vitória como se for necessário também disputar o segundo turno nas mesmas condições.
O publicitário, marqueteiro João Santana deu uma entrevista recentemente dizendo que “Dilma Rousseff caminha para vencer no primeiro turno, porque os candidatos estariam numa situação em que vão se engalfinhar, como se fossem anões na oposição”. É correta essa avaliação?
Não, é a opinião dele, como todo especialista em marketing tem boas frases e causa polêmica, mas é a opinião dele, não é a minha.
Mas o senhor então não concorda com essa opinião?
Acabei de dizer. É a opinião dele, não a minha, mas as pessoas têm direito a expressar as suas opiniões. Não é a minha opinião.
Não é sua opinião que a eleição do ano que vem termina com certeza no primeiro turno a favor de Dilma como ele disse?
Não é a minha opinião a avaliação que ele faz sobre o tamanho dos oponentes. Sobre o primeiro e o segundo turno eu já te respondi.
Sobre o primeiro e segundo turno ele diz que ela deve terminar no primeiro turno.
Isso. Eu digo que não sei fazer essa previsão, que a nossa organização e o nosso trabalho estratégico é para nós prepararmos para o jogo que está aí. Ou um turno, ou dois turnos.
Ajuda quando o marqueteiro produz declarações como essas que eu acabei de citar a respeito dos anões na oposição?
Se você pauta a tua estratégia por essa opinião não ajuda. Se você avalia do ponto de vista da repercussão de ter o nosso círculo, a nossa candidatura sendo debatida, é positivo. Você ocupa espaço.
O que vai dar essa aliança Eduardo Campos e Marina Silva na sua avaliação?
É cedo para avaliar, mas pelo que eu leio nos jornais, pelo que eu vejo nas várias entrevistas, há contradições que precisam ser sanadas. Por exemplo, a avaliação que a ex-senadora fez de que o governador Eduardo Campos era da velha política e recebeu uma injeção de novidade com a adesão da Rede ao PSB. Também a avaliação que eu vi, uma frase dela, dizendo que “é melhor perder ganhando do que ganhar perdendo”. Me deu a impressão que ela vê o processo eleitoral como uma espécie de marcação de posição. Então tem no Estado de São Paulo uma pré-aliança do PSB com o PSDB e uma pretensão agora de um dos filiados do PSB de ter candidatura própria em São Paulo. Então creio que como em toda junção feita de última hora há contradições a serem sanadas, mas é cedo para avaliar. Há um encontro, parece que eles estão marcando para definir identidades programáticas, talvez daí saia uma proximidade maior dessa junção.
O que o PT poderia ter feito para evitar o desgarramento do PSB da aliança no plano nacional?
Veja, eu encaro como legítimo a postulação do governador Eduardo Campos. Ele participou, apoiou o presidente Lula, apoiou a presidenta Dilma. O PSB integrou os nossos governos em posições-chaves, contribuiu para muito do que nós realizamos e também foi beneficiado por isso e cresceu, graças a essas alianças nos Estados e em suas bancadas. E chegou um momento que ele deve ter avaliado que era importante correr em raia própria e essa decisão que ele tomou nós não fizemos nenhum movimento para evitar que ele seguisse esse caminho. Mas também não impelimos a tomar essa decisão.
Mas poderia ter feito? Não digo de maneira autoritária, mas na política, ver uma negociação com um aliado tão antigo, e tentar encontrar um caminho que fosse bom para ambos?
Mas ele não fez essa postulação. Acho que seria, embora sem qualquer intenção de cooptação ou de autoritarismo. Na medida em que ele já vinha esboçando esse caminho, dizia que tomaria uma decisão final em março do ano que vem. Eu acho que seria muita pretensão nossa querer impedir que ele seguisse o caminho que pretende seguir.
A posição dele, por exemplo, como candidato a vice-presidente da República seria uma hipótese que poderia ter sido pensado antes?
Não tenho notícia que ele tenha feito essa postulação.
Parece que não, mas eu estou como hipótese apresentado para o senhor.
Nós temos uma aliança forte já formada que prevê a continuidade da aliança com o PMDB que já tinha essa postulação de continuar da vice-presidência. Então, enveredar por um caminho, que poderia ter sido inclusive recusado pelo governador Eduardo Campos, em detrimento de uma aliança que vem nos dando muito conforto, do ponto de vista eleitoral, seria uma temeridade, do ponto de vista político.
Tudo indica, a ser mantido o cenário de hoje, que teremos a presidente Dilma Rousseff candidata, um candidato do PSDB, que no momento tende a ser Aécio Neves, no momento, e um candidato do PSB que tende a ser Eduardo Campos. A ser reproduzido esse cenário até o ano que vem, o senhor imagina que qual dos dois adversários esteja mais habilitado para chegar até o segundo turno, se houver segundo turno?
Pelas pesquisas, caso o candidato seja o senador Aécio Neves, pela pesquisa é ele. Além disso é difícil prever.
Uma vez o senhor contou que ouviu do ex-prefeito Gilberto Kassab que numa eventual eleição presidencial em que ficassem como concorrentes finais Dilma Rousseff e Aécio Neves, José Serra preferiria ficar com Dilma. O senhor acha que isso prevalece ainda?
Eu acredito que sim. Eu queria, viu Luis. Você pediu para citar candidatos competitivos, eu deixei de citar dois que são muito importantes e seguramente estão na mesma faixa dos anteriores que eu citei. São dois senadores. Um é o senador Wellington [Dias], do Piauí, que já foi governador do Estado é o favorito hoje nas pesquisas. E o outro é o senador Delcídio do Amaral, do Mato Grosso do Sul, igualmente favorito.
Eu já vou entrar nos Estados e aí vamos fazer uma bateção aí de nomes. São Paulo então para começar dos Estados. Alexandre Padilha que é pré-candidato lançado do PT. É realmente a melhor opção que o PT tem no Estado?
Eu acho que sim pelo seu desempenho, pela juventude, pela afeição que tem dos filiados do PT, pelos apoios que já tem numa série de prefeitos no interior de São Paulo, pelas suas realizações à frente do Ministério da Saúde. Agora, inclusive, pelo Mais Médicos, que é um programa revolucionário no Brasil, tão revolucionário quanto o Bolsa Família. São dois programas de muita coragem da presidenta. E pode também formar uma aliança sólida, em São Paulo, com o PR, com o PP, PDT. Então eu acho que ele é um candidato com muitas possibilidades. E você tem do outro lado um governador que, um partido há muitos anos no governo, não resolvendo os problemas principais do Estado. São Paulo não cresce como o resto do país. Agora, manchado por uma denúncia pesada de corrupção, tanto na CPTM quanto no Metrô. Quase 20 anos com consultorias fixas, com percentuais que parecem superiores ao lucro que as multinacionais que operam na área têm, que se recusa a permitir que seus deputados subscrevam a CPI para apurar o que ocorreu nessa área do transporte metropolitano. Enfim, que enfrenta graves problemas de segurança pública. Nós estamos agora, lá na Assembleia (Legislativa de São Paulo), debatendo reajustes policias. A Polícia Militar está totalmente desprestigiada com reajuste real próximo a 1%. Quando havia um compromisso nas negociações do secretário com o governador de ter um reajuste bastante superior a isso. São servidores públicos que arriscam sua vida. Então você tem de um lado um governo desgastado, com denúncias sérias de corrupção e de outro uma candidatura nova, com muito para mostrar de suas realizações e com capacidade de fazer alianças.
O senhor citou o governador Geraldo Alckmin, que é do PSDB, deve concorrer à reeleição, Alexandre Padilha, ministro da Saúde, deve ser adversário na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. Deve haver outros candidatos. A saber, por exemplo, Paulo Skaf, do PMDB, ele é presidente da FIESP, deve ser candidato a governador.
Gilberto Kassab também.
Gilberto Kassab também, que foi prefeito de São Paulo e hoje está, criou o PSD, também disse ter interesse em ser candidato. Essas candidaturas ajudam na estratégia eleitoral do PT, em São Paulo, para levar a disputa ao segundo turno?
Com certeza. São candidaturas competitivas também e, mais importante que isso, são candidaturas que, se efetivadas, como parece que serão, são palanques para a presidenta Dilma no Estado. Então são candidaturas do campo da base aliada e que além do que favorecerão um segundo turno, em São Paulo.
Então o PT enxerga com simpatia essas candidaturas adicionais ao Palácio dos Bandeirantes?
Com certeza, porque são candidatos do nosso campo de alianças. E que, portanto, como eu disse, farão palanque para a campanha da presidente Dilma.
Vamos a um caso difícil de ser resolvido ainda: Rio de Janeiro. Muitas declarações do governador atual Sérgio Cabral, do seu vice [Luiz Fernando] Pezão, ambos do PMDB, a respeito de não desejarem que o PT tenha candidato próprio ao governo do Rio, no caso, já pré-lançado, o senador Lindbergh Farias. No caso, o que o PT vai fazer?
Semana passada, eu estive em um almoço com o governador Sérgio Cabral e com o vice-governador Pezão. São dois políticos a quem eu prezo muito. Temos relações de amizade inclusive. Durante esse almoço, que durou quase três horas, conversamos bastante, que o governador, inclusive, me falou de planos que ele tem para o próximo ano, planos de gestão importantes, em nenhum momento, muito elegante da parte dele, ele solicitou que a gente retirasse a candidatura do Lindberg. Evidente que ele preferiria que nós não tivéssemos candidato e apoiássemos o vice-governador Pezão. Mas ficou claro, nessa conversa também, que nós vamos manter a candidatura do senador Lindberg. E que, isso também foi parte da nossa conversa, a nossa saída do governo, que deverá ocorrer proximamente, não se deve a nenhuma divergência com relação aos programas de governo do Sérgio Cabral. Nós vamos sair do governo por uma questão de ordem ética. Não é correto, nós pretendermos disputar o governo do Estado, com uma candidatura que não é a dele, e permanecer no governo ocupando secretarias. Nós não vamos pedir CPI na Assembleia, não vamos fazer oposição. Vamos votar todos os projetos que sejam de interesse da população, mas simplesmente achamos que devemos dar liberdade para ele reorganizar o governo.
Por que então que depois desse almoço, que foi amplamente noticiado do senhor com o governador do Rio, Sérgio Cabral, foram dadas tantas declarações posteriores por parte deles, do PMDB do Rio, a respeito de ainda esperarem que o PT retire a candidatura?
Mas é aquilo que eu te falei. Eles não me pediram, mas há um desejo natural que isso possa ocorrer. Da nossa parte, o que eu tenho a dizer é que nós vamos manter a candidatura do senador Lindbergh. Nós vamos ter um encontro estadual ano que vem. Esse encontro tem poderes para manter ou mudar, mas a tendência é manter a candidatura.
A manutenção da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Rio de Janeiro tem potencial para estragar a aliança PT-PMDB, no plano nacional de alguma forma ou no Rio de Janeiro, pelo menos?
Eu acredito que não. A gente tem conversado com a direção nacional do PMDB. Essa semana mesmo eu vi uma declaração do presidente de honra do PMDB, Michel Temer, o vice-presidente da República, em que ele fala que nós vamos continuar conversando e que a aliança será mantida. Por que tem também, Luis, da parte do PMDB candidaturas que se opõem às nossas nos Estados. Veja o caso do Rio Grande do Sul, em que o governador Tarso Genro é candidato à reeleição e o PMDB tem candidato. Na Bahia onde o PMDB tem candidato também. Então isso precisa ser muito bem discutido e conviver com essa realidade.
O PMDB, no caso, no Rio de Janeiro, terão de se conformar no caso de o PT ter candidato, é isso?
Eu acho que não é conformar. É um dado da realidade. Você poderia dizer “não, então nós vamos nos conformar com a Bahia, com Rio Grande do Sul também”. São aliados que na hora da eleição medem forças. No Rio você tem uma realidade adicional. Tudo indica que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) será candidato. É possível que o senador (Marcelo) Crivella (PRB-RJ) seja candidato. E até que o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) também seja candidato. Então nós teremos uma situação em que a presidenta Dilma pode ter três, quatro ou cinco palanques. Aí o que se coloca pelos aliados é o seguinte: deve a presidenta Dilma ir ao palanque do Lindbergh, ir ao palanque do todos ou não ir a nenhum palanque?
Exatamente. É aonde eu queria chegar. Ela deve fazer o quê?
O PT vai fixar orientações para a campanha. A presidenta, ela tem a sua agenda própria, mas nós vamos ter uma política de convivência com os aliados. A minha opinião é que onde houver mais de um palanque a presidenta ou vá a todos, ou se abstenha de participar de comícios, de atividades de um candidato apenas. Que ela possa ter a sua campanha na televisão, em eventos em que todos se juntem a ela, mas não privilegiar um palanque em detrimento dos demais.
Me parece até um pouco inexeqüível, embora a presidente deva ir a Estados grandes, como o Rio de Janeiro, durante a campanha, que no Estado com três ou quatro ela possa ir separadamente a todos. É inexeqüível? Parece para o senhor?
Parece que sim. Me parece mais conveniente que ela faça nesses Estados incursões previamente estabelecidas, planejadas e que seja aberto nesses eventos à participação daqueles que a apoiam. Não sei se é exeqüível.
Presidente, no caso do Rio de Janeiro...
Como o presidente Lula já fez, em Pernambuco – não recordo exatamente o ano – em que no palanque dele estavam de um lado o, hoje senador, Humberto Costa e do outro o governador Eduardo Campos. Ambos eram candidatos a governador, ambos apoiando o presidente Lula.
E no caso do Rio de Janeiro seria ou uma situação assim em que a presidente comparece ao Estado, faz um evento, convida aos candidatos ao governo aliados, os que desejarem comparecem, ao invés de ela ir a um evento de cada um deles.
Exatamente.
Isso ainda vai ter que ser decidido ou o senhor acha que é uma espécie de senso comum até?
Embora possa parecer senso comum isso precisa ser consensuado com os aliados.
O senhor acha que esse é o caminho?
Esse é o caminho.
Minas Gerais. O candidato é o ministro Fernando Pimentel, o pré-candidato do PT ao governo.
O pré-candidato do PT é o Fernando Pimentel, com certeza. Tem todas as forças políticas do Estado então...
Há muitas hipóteses lá também. Uma delas, Josué Gomes da Silva, filho do antigo vice-presidente da República José Alencar, que se filiou ao PMDB, teve apoio do ex-presidente Lula. Há também essa hipótese, eventualmente, de ter um candidato de outro partido que o PT possa apoiar?
Eu acho que lá há uma disposição de uma aliança com vários partidos tendo o PMDB com a possibilidade de indicar o vice. Isso é o que está posto lá. Li as declarações do Josué de que queria ingressar em um partido, ter atividade política, mas não vi nenhuma manifestação dele de desejo de se apresentar como candidato majoritário.
E o PT, no Rio de Janeiro o senhor já falou. Em São Paulo também, candidatos próprios. Mas em Minas, teria disposição de eventualmente não ter candidato próprio lá ou não, a disposição é ter também um candidato do PT cabeça de chapa?
A nossa disposição é apoiar o ministro Fernando Pimentel para o governo do Estado.
Está vendo. O PT depois é chamado de fominha aqui em Brasília, não é?
Não, mas os outros também vão ter candidatos nos outros Estados. Os outros partidos e em outros lugares também nós não vamos ter candidatos, citei alguns aí.
Maranhão. Em 2010 o PT fez uma intervenção lá no diretório estadual e o partido teve de apoiar a candidatura de Roseana Sarney à eleição para o governo do Maranhão. Na época, alguns petistas ficaram muito insatisfeitos porque queriam apoiar Flávio Dino, do PC do B. Agora, quatro anos depois, o PT está, pelo que eu estou entendendo, tendendo a apoiar Flávio Dino. O que mudou?
Eu acho que o quadro é semelhante a 2010. Há uma simpatia muito grande, por parte dos petistas, não sei aferir quantos no Maranhão, são simpáticos à candidatura do Flávio Dino. O pessoal de lá tem dialogado com ele para formar um palanque para a presidente Dilma e não para outros candidatos. E há uma parte do PT, que nós temos lá o vice-governador, que discute a possibilidade de ter outra candidatura. Há inclusive proposta de candidatura própria no Maranhão. Então quem vai dirimir essa dúvida vai ser o encontro estadual do ano que vem. Embora nós temos que levar em conta a aliança com o PMDB que tem no presidente Sarney uma influência muito grande pelo papel que ele desempenha, pelo fato de ter sido presidente da República e presidente do Senado. Então esse é um quadro muito complexo que nós temos que avaliar com o todo o cuidado.
Qual o seu prognóstico para o Maranhão?
O pleito do PC do B, que é um aliado que caminha conosco desde 1989, ele concentra as suas reivindicações, a par de outras secundárias, mas principalmente no Maranhão onde ele calcula que é o único Estado que ele tem chance de fazer um governador. Vai ser uma decisão de muita responsabilidade, muito complexa, mas que nós vamos tomar no momento devido.
O senhor tem preferência particularmente por alguma saída no Maranhão?
A minha preferência é aquela que mais beneficia a candidatura da presidenta Dilma.
Ou seja, não está nada decidido.
É isso que eu falei.
No Pará, o apoio do PT à pré-candidatura de Elder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho ao governo do Pará é quase certa ou não?
Deixa eu fazer aqui um parêntese. Eu tenho as minhas posições pessoais, e as torno públicas, mas sempre com a ressalva de que essas decisões são sempre tomadas coletivamente. Então o PT tem um processo de definição das candidaturas que é assim: nós vamos agora, dia 18 de novembro, depois do PED, fixar o calendário nacional para as eleições do ano que vem. Esse calendário supõe encontros municipais, zonais, estaduais. O estadual define a chapa e a candidatura majoritária e a tática eleitoral do Estado e as alianças. O primeiro passo é o seguinte, algum setor, algum número de filiados, defende nesse Estado o apoio à candidatura de outro partido, sim ou não. Se sim você abre o processo de debate. É o que vai ocorrer no Pará. Tem um grupo que eu acredito que seja majoritário hoje, que é a minha posição também, que defende a aliança com o PMDB em torno da candidatura do Helder Barbalho. Há um outro grupo que defende a candidatura própria. Isso vai ter que ser aferido no encontro estadual. Então a minha posição e de tender a essa aliança com Helder Barbalho até para que a gente não passe essa impressão, que você aludiu, de que o PT seja um partido fominha. Por que o Helder Barbalho? Por que ele se compromete a fazer um programa de mudanças no Pará em conjunto no PT, porque tem viabilidade eleitoral, porque integra um partido que é nosso aliado principal e também porque na composição da aliança favorece a indicação de companheiro nosso para o Senado. Então por essas razões eu sou favorável à aliança com o PMDB.
No Rio Grande do Norte é a mesma coisa. O apoio ao PMDB é a tendência?
Primeiro o PMDB precisa definir o seu caminho, que até agora não está claro. Em todos os lugares a gente quer ser aliado e não aderente. Então em todos os lugares é preciso fazer essa discussão. São três cargos majoritários, tem a chapa proporcional e tem a prioridade um que é palanque para a presidente Dilma.
Bahia. José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, ou o atual vice do governador Jaques Wagner, Otto Alencar, que é do PSD, quem deve ser candidato a governador?
Lá há quatro pré-candidatos do PT. Dentre esses, uma comissão indicada pelo diretório estadual em conjunto com o governo do Jaques Wagner vai escolher o candidato. São quatro: José Sérgio Gabrielli, que é ex-presidente da Petrobras, secretário de Planejamento da Bahia, Rui Costa, deputado federal licenciado, que é o secretário de governo da Casa Civil, Valter Pinheiro, senador da República, que já foi candidato e o Caetano, que é ex-prefeito de Camaçari. São esses os pré-candidatos que disputam a indicação do PT. Até o final do ano é possível que essa comissão em conjunto com o governador faça definição dos nomes. Tudo indica que o vice-governador Otto Alencar participará da composição com indicação para o Senado Federal.
E o PT teria um candidato próprio ao governo. Essa é a tendência?
É.
Santa Catarina. Ideli Salvatti, que hoje é ministra das Relações Institucionais da Presidência da Republica, pode ser candidata? Ou há uma tendência a apoiar Raimundo Colombo, do PSD
Hoje, a inclinação da maioria do PT é ou por uma candidatura própria, ou uma aliança com o PMDB. Mas há um...
PMDB?
PMDB porque há um setor também do PMDB que também cogita não fazer aliança com o governador Raimundo Colombo. Evidente que o apoio do governo à presidenta Dilma e o fato de ele hoje integrar o PSD nos leva a pensar se não há aliança com ele. Mas hoje há uma disputa muito acirrada no processo de eleição direta de Santa Catarina. Dois grupos, mesclados, de várias tendências, em que o equilíbrio é muito grande. É difícil, hoje, prever quem será o vencedor. Um dos grupos tem a ministra Ideli e o outro o ex-deputado Claudio Vignatti. Então antes do dia 10 de novembro, todo o PT está defendendo a candidatura própria. Depois do dia 10 de novembro essa posição pode ser mantida com dois palanques no Estado ou pode haver uma flexibilização dessa posição.
O senhor mencionou também o Mato Grosso do Sul, onde deve ser candidato o senador Delcídio Amaral, que é do PT. Mencionou também o Piauí com Wellington Dias. Tudo somado, olhando as 27 unidades da federação, o PT hoje governa cinco, vai disputar em quatro desses cinco, – exceto Sergipe que já há um acordo, com o PMDB, para ceder a cabeça de chapa. No seu radar, em quantos, das 27 unidades da federação, o PT terá candidatos competitivos próprios, mais ou menos? São os quatro que pretendesse manter...
Mais São Paulo, Rio e Minas são sete, mais o Delcídio (Amaral) e o Wellington (Dias), nove, mais Roraima, com a senadora Ângela Portela, dez, e, se a gente tiver candidato próprio em Goiás, também. São de dez a 12, digamos.
Candidatos próprios com chances de vitória, no seu entender.
Ou vitória no primeiro ou de ir ao segundo turno.
Sendo realista, o senhor acha que é possível? Porque hoje são cinco. Dobrar esse número?
É possível pelo efeito dos nossos 12 anos de governo, pelo fato do presidente Lula agora ser um eleitor, um grande eleitor que está solto, não está contido pelas restrições da presidência, como foi na eleição passada. E pelo fato de o PT ter crescido nesses Estados, e nós temos candidatos com grande exposição pública, com muito trabalho a mostrar, e também pela situação dos adversários.
A imagem dos partidos, o senhor já mencionou isso, não é segredo, ficou um pouco abalada nos últimos tempos, e isso foi expresso nas manifestações de rua de junho, sobretudo. Para o PT, qual foi o maior ponto de desgaste, na sua avaliação?
O maior ponto de desgaste foi a questão das tarifas em São Paulo, que o prefeito Fernando Haddad, juntamente com o governador de São Paulo, haviam atendido ao apelo do governo federal para não processar o aumento das tarifas em janeiro, para não repercutir muito diretamente na taxa de inflação, e quando foram fazê-lo, pela necessidade de recompor o aumento do custos da frota, dos salários dos condutores, não puderam fazê-lo devido ao movimento que já vinha de algum tempo reivindicando passe livre, um transporte de melhor qualidade, então isso impactou muito fortemente.
Mas isso aí não foi uma espécie de gota d´água, não há outras razões estruturais que podem levar o PT e outros partidos também a repensar a forma como atuam?
Eu acho que o presidente Lula tem dito isso, a presidenta falou e eu tenho dito também, esse foi um recado importante para nós no seguinte sentido. Quando você retira da miséria mais de 30 milhões de pessoas, e nós temos um dado importante agora, que é extraído de dados do IBGE, 65,9% de redução da miséria absoluta no Brasil, e 61% de redução da pobreza. Mais acesso à universidade, mais crédito, 70% de evolução real do salário mínimo em dez anos. Um PIB per capita que, de 95 a 2003, cresceu à média de 3%, o PIB per capita de 2003 a 2013 cresceu 28%. Tudo isso ajudou a construir novos direitos, novos padrões sociais, e as pessoas passaram a exigir mais. Isso é positivo. Então o recado que vem para nós, e que nós assimilamos. E a presidenta respondeu isso com cinco pactos, que depois podemos falar deles aqui, é de que as pessoas querem mais. Então a par de tudo o que os nossos governos puderam, junto com a sociedade, produzir no país, não é suficiente. E as pessoas querem mais serviços públicos de qualidade, as pessoas querem mais cultura, e o nosso programa de governo pro segundo mandato da presidenta Dilma terá aqui, além de comparar com o passado, para as pessoas saberem como era o Brasil antes do Lula, além de propagar tudo o que nós mudamos no país, nós temos que acenar para o futuro.
Mas deixa eu fazer uma observação. Isso aí que o senhor está dizendo é em relação ao conjunto da sociedade. Não me parece que não há nem divergência em relação a oposição, situação, sobre essa emergência da população brasileira.
Na oposição há sim diferenças.
Mas enfim, eu queria tocar num ponto com o senhor que se refere aos partidos políticos. A forma como eles atuam e atraem os cidadãos para serem militantes, se filiarem, o senhor sabe, quando o PT foi fundado, e outros partidos, quando o pluripartidarismo voltou ao país, havia uma efervescência maior, as pessoas queriam se filiar a algum partido, e militar, e esse tipo de trabalho hoje é muito mais raro. Encontrar aquele militante disposto voluntariamente a trabalhar, doar umas horas da sua vida para um partido político. Porque para muitos os partidos políticos ficaram obsoletos. No caso do PT, como isso é tratado?
Eu comecei a falar aqui para você da reforma política. Por que da reforma política? Primeiro, os partidos, no caso o PT, tenho dito isso também, nós não podemos nos limitar a imaginar que a participação política deve se dar apenas a cada dois anos. É importante, nós passamos mais de 20 anos sem esse direito. Então votar é muito importante. Mas a atividade política ela significa basicamente participação, consulta, participação, audiência. Então você tem três instrumentos na Constituição Federal que estão praticamente letra morta. Que é a iniciativa popular legislativa, os referendos e os plebiscitos. São práticas correntes em outros países. Os Estados Unidos realizam plebiscito a cada eleição. E aqui, a iniciativa popular legislativa, você precisa 1 milhão e 400 mil assinaturas pra propor um projeto de lei. Agora o Senado, até por força das manifestações, reduziu à metade essa exigência. E por uma emenda de um senador nosso permite que a consulta e a proposição de leis possa ser feita também pela internet. Eu aliás tenho um projeto de lei nesse sentido lá em São Paulo também. Nós temos que usar os instrumentos modernos de comunicação para estimular a participação também. A outra coisa. O mecanismo das listas pode também trazer mais gente pra política. A participação feminina. O PT está saindo na frente há muito tempo. Apesar de todas as ressalvas que a gente possa fazer, apesar das críticas do presidente Lula, apesar dos sinais de burocratização que a gente detecta, numa organização que já tem 33 anos, e que é preciso desbastar esses sinais de acomodação, de burocratização. E eu tenho procurado fazer isso, quando visito todos os Estados, quando inverti esse mecanismo da base correr para a direção. É direção que vai rumo à base. É preciso mudar o sistema político do país. O sistema de representação. As formas de escolha dos candidatos. O acúmulo excessivo de mandatos. Como alguns desses exemplos que eu te dei. E o nosso Congresso também vai ser um momento de refazer o programa, de dialogar mais com os jovens, de acenar para as utopias, que são aquelas que movem, também, principalmente os jovens. E que nós deixamos temporariamente de lado, a ideia do socialismo democrático. Cujo debate precisa ser reavivado. Enfim, são mudanças que a gente pretende fazer no PT para que haja maior participação, embora o PT seja o partido que tenha capacidade de atrair as pessoas, de ter práticas diferentes na política.
No campo das mudanças da legislação política-eleitoral, qual é a sua posição e/ou a do PT sobre uma cláusula de desempenho para os partidos políticos e o fim das coligações em eleições proporcionais?
É a favor.
De ambas?
De ambas.
No caso da cláusula de desempenho o senhor acha que o percentual de cortes para que um partido tenha acesso a fundo partidário amplo, televisão, tempo amplo, deve ser...?
3%. Originalmente se propôs 5%, eu acho que para não haver nenhum risco de você restringir excessivamente partidos ideológicos, a gente deveria baixar esse percentual de 5% para 3%. Mas não como condição para o funcionamento dos partidos.
Ele poderia ser eleito, mas teria uma parcela bem diminuta do fundo?
Isso.
Há uma proposta alternativa que começa com 3%, depois eleva depois de quatro anos para 4%, e depois de oito anos pra 5%.
Isso tudo precisa ser, como isso tem que ser votado no Congresso Nacional, no quadro atual, isso precisa ser objeto de discussão entre o conjunto dos partidos. Quando você entra muito no... Eu sou a favor no princípio, cláusula de desempenho. Percentual, prazo, isso tem que ser discutido no Congresso.
Deputado estadual Rui Falcão, do PT de São Paulo, presidente nacional do PT, muito obrigado por sua entrevista à Folha e ao UOL.
Eu que agradeço a oportunidade.
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