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Exumação de Jango começa nesta quarta e pode encerrar mistério de 37 anos

Túmulo de Jango, em São Borja, é cercado para trabalho de exumação dos restos mortais do ex-presidente - Divulgação/CNV
Túmulo de Jango, em São Borja, é cercado para trabalho de exumação dos restos mortais do ex-presidente Imagem: Divulgação/CNV

Carlos Madeiro*

Do UOL

12/11/2013 22h21

Depois 37 anos de dúvidas, começa a ser desvendado nesta quarta-feira (13) o mistério sobre a morte do ex-presidente João Goulart, conhecido como Jango. A partir das 7h começa a exumação do corpo, que contará especialistas brasileiros e da América Latina.

Deposto pelos militares em 1964, Jango morreu em dezembro de 1976 durante exílio na Argentina, mas a causa da morte nunca foi esclarecida. Suspeita-se que o ex-presidente foi envenenado.

O corpo de Jango está enterrado em São Borja (619 km de Porto Alegre) e será retirado do cemitério por uma equipe do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal. Especialistas do Uruguai e da Argentina também vão ajudar na ação.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha e o MPF (Ministério Público Federal) também vão participar da exumação. O reitor da Universidade de Ciências Médicas de Havana, Jorge Pérez, que participou dos trabalhos de exumação de Ernesto Che Guevara, representará os familiares no processo.

Após a exumação, o corpo será transportado para Brasília, onde haverá a coleta de amostras para os exames antropológico, de DNA e toxicológicos –este último que será realizado fora do país.

Para João Marcelo Goulart, um dos netos de Jango, em declarações a jornalistas, "é um momento histórico não só para a família, mas também para o país e para todas as famílias de mortos, desaparecidos, torturados e exilados da ditadura militar".

Trabalhos

O processo de exumação de Jango teve início ainda em 2007, quando a família do ex-presidente deposto pelos militares pediu ao MPF a reabertura das investigações. Em 2011, o pedido foi estendido à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

O trabalho de exumação teve início há seis meses, com reuniões e visitas periódicas ao cemitério. "Esse é um trabalho que não se inicia hoje, e nem termina amanhã. Porque vamos trabalhar ainda em laboratório, e só depois chegar a um resultado", disse o coordenador da equipe de Perícia, Amaury de Souza Júnior.

Em Brasília, haverá uma solenidade, às 10h desta quinta-feira, na Base Aérea, na qual o governo federal concederá honras de Chefe de Estado a Jango.

"Isso é muito importante para a família. Após 37 anos de sua morte, Jango retorna a Brasília como chefe de Estado, com as honras que sempre lhe negaram", comentou seu neto.

Nesta terça-feira (12), uma audiência pública apresentou a ideia à população da cidade. Os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário também acompanham a exumação e relataram à população a ideia da exumação.

“Os familiares têm o direito de saber como morreram seus entes queridos. Cidadãos têm o direito de saber como morreram seus líderes. Hoje é o primeiro grande passo para contarmos uma história que foi omitida durante muitos anos”, afirmou Cardozo,

Investigação

Segundo a CNV, o objetivo da exumação é tentar apurar a suspeita de que Jango não tenha morrido de um ataque cardíaco. O ex-presidente morreu em seis de dezembro de 1976, em Mercedes, na Argentina.

À época, o corpo do ex-presidente na?o passou por auto?psia, e o u?nico registro na certida?o de o?bito relata morte por "enfermedad". A alegação à época era de que o ex-presidente teria sofrido um infarto, já que enfrentava problemas cardíacos havia quase uma de?cada.

A partir da de?cada de 1980, após o fim da ditadura, comec?aram a crescer as suspeitas de que Joa?o Goulart teria sido envenenado com seus medicamentos trocados em uma ac?a?o da Operac?a?o Condor.

Jango tomou posse como presidente em agosto de 1961, e ficou no cargo até 31 de março de 1964, quando houve o golpe de Estado. Ele deixou o país e vivia na Argentina quando morreu.

* Com agência EFE