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"1º andar de SP não gosta do povo", diz Viana sobre polêmica com haitianos

Do UOL, em São Paulo

12/05/2014 22h54Atualizada em 13/05/2014 16h22

O governador do Acre, Tião Viana (PT), afirmou, em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, exibida nesta segunda-feira (12), que há uma parcela mais rica da elite paulista que não "gosta de povo". A declaração foi feita quando Viana comentava a polêmica gerada com o envio de imigrantes haitianos do Acre para São Paulo. “Tem um setor, o primeiro andar de São Paulo, que não gosta do povo.”

Recentemente, o petista envolveu-se em uma troca de acusações com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e outras autoridades estaduais após centenas de haitianos serem enviados do Acre à capital paulista. O governo acriano fretou ônibus para levar os imigrantes. A administração paulista acusa a gestão Viana de enviar os haitianos sem comunicá-los e sem oferecer condições para tal.

Após observar nas redes sociais comentários e ofensas publicados por pessoas de São Paulo, Viana escreveu um texto em que qualificou a elite paulista de preconceituosa tanto com os haitianos, quanto com o Acre.

No Roda Viva, o governador do Acre explicou a quem dirigiu suas primeiras críticas. “Me referi às grandes forças preconceituosas, que tem em São Paulo, no meu Estado, que tem no Pará, em todos os lugares. Os donos dos privilégios que não entendem que podemos pegar na mãos das pessoas humildes."

Viana insinuou que as reclamações de autoridades do governo do Estado de São Paulo sobre a vinda de haitianos que entraram no país pelo Acre podem ter sido motivadas por racismo. “O Acre recebeu 8.400 bolivianos [que foram para SP] só em 2012, e São Paulo nunca reclamou. Será que os haitianos são negros e por isso houve incômodo do governo de São Paulo?”, questionou.

Briga com Alckmin

A polêmica ganhou fôlego com declarações de Eloisa de Souza Arruda, secretária de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo, que chamou o governo de Viana de “irresponsável” e comparou o governador a um coiote --atravessador que cobra dinheiro dos imigrantes para levá-los a outro país.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Alckmin saiu em defesa da secretária e acusou Viana de adotar “um comportamento totalmente irresponsável” ao enviar os haitianos para São Paulo. O governador do Acre respondeu em nota com ataques ao tucano, ao dizer que Alckmin representa “uma melancólica expressão de mediocridade e incompetência.”

“Fui ofendido primeiro. Houve uma ofensa a um governador e ao governo do Acre. Ninguém ofende um governo, um governo tem estatura”, disse Viana no Roda Viva. “São Paulo recebe mais de 15 mil imigrantes de todos os países por ano. Nunca houve isso, foram 138 [haitianos] que geraram essa crise.”

Para o governador do Acre, “o governo tucano achou que era um ataque do PT para criar um problema social”.

Rota aberta

Viana afirmou que nos últimos quatro anos mais de 21 mil imigrantes haitianos entraram no Brasil pelo Acre, onde receberam vistos provisórios e tiveram acesso a assistência humanitária em abrigos na cidade de Brasileia ou na capital, Rio Branco. “Já foram gastos R$ 4 milhões. São Paulo não gastou R$ 50 mil.”

O governador do Acre disse que os abrigos destinados aos imigrantes que entram no país pelo Acre estavam superlotados em função da cheia do rio Madeira, fato que impediu a saída dos viajantes para outras regiões. 

O petista elogiou a política do governo federal de acolher os imigrantes, mas cobrou que os vistos aos haitianos sejam emitidos em Porto Príncipe, capital do Haiti, para evitar a entrada dos caribenhos de forma ilegal, pela fronteira acriana.

Viana também manifestou preocupação com a rota imigratória que passa pelo Acre. “A nossa fronteira está aberta. Na hora que [os imigrantes] chegarem [lhes] vai ser concedido o visto provisório. Mas e a solução definitiva? No Acre tem imigrante das ilhas turcas, Bangladesh, Marrocos, Nigéria, Gana, Gâmbia”, disse. “A África já enxergou essa rota e vai fazer uso dela.”

Eleições

Amigo e conterrâneo da ex-senadora Marina Silva (PSB), Viana disse não abrirá palanque para a campanha presidencial de Eduardo Campos (PSB). “Só vou fazer campanha para Dilma”. O petista deverá concorrer à reeleição nestas eleições.

Sobre os pedidos de setores do PT e de partidos aliados para que Luiz Inácio Lula da Silva seja candidato à Presidência, Viana afirmou:  “Não tem 'volta Lula'. Tem uns apaixonados pelo Lula que não vão entender ele fora desse projeto, mas a Dilma é a nossa candidata.”

Viana também foi indagado sobre uma operação da Polícia Federal, realizada em seu governo, que acabou com a prisão de 15 empresários ligados a empreiteiras, além de dois secretários de governo e de seu sobrinho. Todos os detidos foram soltos.

“São 28 meses de investigação e até agora não há uma denúncia”. Para o governador, a investigação é fruto de perseguição política “para acabar com o PT.”