Leia a transcrição da entrevista de Beto Albuquerque ao UOL e à Folha
Beto Albuquerque, candidato a vice-presidente da República pelo PSB, participou do Poder e Política, programa do UOL e da "Folha" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 2.set.2014 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
Narração de abertura [EM OFF]: Luiz Roberto de Albuquerque, o Beto Albuquerque, tem 51 anos.
Começou a fazer política no movimento estudantil, quando se aliou ao PC do B, em geral contra grupos trotskistas.
É advogado e deputado federal pelo PSB do Rio Grande do Sul. Está no PSB desde 1986, o único partido ao qual se filiou em toda a sua carreira.
Começou a militância política em Passo Fundo, sua cidade natal, no Rio Grande do Sul.
Foi 2 vezes deputado estadual. No governo de Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, do PT, foi secretário dos Transportes.
Em 99, assumiu o primeiro dos seus 4 mandatos consecutivos como deputado federal em Brasília. Até agosto de 2014, era candidato ao Senado pelo PSB no Rio Grande do Sul.
Agora, ocupa a vaga de candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Marina Silva na corrida pela Presidência da República pelo PSB, em 2014.
Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do portal UOL e do jornal "Folha de S. Paulo". A gravação é realizada no estúdio do Grupo Folha, em Brasília. O entrevistado desta edição do Poder e Política é o deputado federal Beto Albuquerque, do PSB, do Rio Grande do Sul, que, no momento, é também candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Marina Silva pelo PSB.
Folha/UOL: Olá, como vai deputado Beto Albuquerque, tudo bem?
Beto Albuquerque: Tudo ótimo Fernando. Prazer estar aqui.
Começo perguntando sobre o caso rumoroso do avião que, enfim, fez parte da tragédia da morte de Eduardo Campos no dia 13 de agosto. Por que o PSB evita reunir todos os documentos, informações que tem a respeito, coloque em cima da mesa, convoque a imprensa e diz “isso é tudo que nós temos, aqui está”?
Primeiro eu quero destacar, Fernando, que ninguém mais do que nós temos interesse de que haja uma profunda investigação e todos os esclarecimentos sobre, primeiro o acidente, que nós continuamos aguardando informações das razões pelas quais caiu esse avião e vitimou sete companheiros, entre eles o Eduardo [Campos], isso é muito importante para nós, não temos notícia por qual razão essa caixa preta não gravou nada, e por qual razão esse avião caiu naquele sentido que pudemos ver. Segundo, nós temos todo o interesse que não pairem dúvidas, que haja uma investigação rigorosa sobre as relações nossa com o empréstimo do avião e também sejam investigadas as razões da compra do avião, que a rigor não tem participação do PSB a compra do avião. Nós apenas, pelas informações que temos, recebemos esse avião, no caso o Eduardo, emprestado de pessoas conhecidas dele, empresários conhecidos dele em Pernambuco, para a pré-campanha e posteriormente para a campanha. Evidentemente que se tratando de pessoa física, não jurídica, poder-se-ia transformar isso em estimativa de custos e você contabilizar o crédito e o débito na conta eleitoral, baseando no número de voos. Os rumores de compra, que vimos inclusive nas redes de televisão, o uso de laranjas, isso nos deixa muito preocupados, porque isso é um negócio que cabe aos proprietários do avião explicarem as razões, verdadeiras ou não verdadeiras. A nossa parte nessa relação com o avião é a parte do empréstimo. O Eduardo, de boa fé, certamente de boa fé, recebeu desses empresários o empréstimo, passou a usar, talvez pudéssemos ter tido um cuidado maior sobre essa questão, sobre a origem do avião, enfim, coisa que nem sempre se faz, e agora estamos diante desses rumores.
Mas eu insisto. Existe a possibilidade de o PSB, reunindo o que há de documentos, informações municipais...
Mas havia um empréstimo sem documento. Porque não poderia. Veja Fernando, esse avião, até ele cair estava ainda no nome do seu proprietário original que contratou o leasing, a AF Andrade, que entrou em recuperação judicial, atrasou prestações do leasing. Esses empresários pagaram as prestações do leasing e tiveram, digamos, transferido a posse de uso do avião. Você não tinha como assinar contrato com quem não era ainda o dono. E aí que eu me refiro a boa fé, quer dizer, recebeu enquanto se faria transferência, imaginando que passasse no processo eleitoral a documentação toda.
Houve uma imprudência, talvez, na hora de se contratar?
Não. Eu acho que a palavra imprudência é uma palavra adequada. Não houve má fé, não houve compadrio. Tenho certeza do total desconhecimento das origens, ou da forma como foi comprado esse avião. Houve boa fé e talvez uma imprudência de não se passar efetivamente um contrato em razão de não ter sido feito a transferência, de forma que nós do partido e a família do Eduardo [Campos] todos nós temos o maior interesse de que essas coisas sejam esclarecidas. Porque nós conhecemos a história do Eduardo, o Eduardo é um cara super correto, super rigoroso. Como governador sempre foi muito rigoroso e infelizmente hoje nos vemos diante desse fato que além de matar o nosso líder fica eivado de dúvidas, o que é muito ruim.
Na sua avaliação, todas as informações já disponíveis para o PSB foram apresentadas em público? A respeito desse caso do avião.
É essa história que eu estou te relatando.
Não há mais nada a ser dito por parte desse avião?
Não. Sobre a compra nós sabemos aquilo que a imprensa tem divulgado. O que não era assim.
Sobre o aluguel em si?
Era um empréstimo. A única coisa que nós sabíamos é que havia dois empresários de Pernambuco que ofereceram, por empréstimo, o avião.
Deixa eu fazer outra pergunta sobre transparência. Já perguntei para a candidata Marina Silva sobre a fonte de renda dela nos últimos cerca de três anos, que foi com palestras que ela proferiu e recebeu por isso, o que é perfeitamente legal. Uma pessoa da iniciativa privada pode fazer isso, uma pessoa como o ex-presidente da República faz isso, porque não vai ocupar nenhum cargo público nem presta contas ao Fisco, como fez Marina Silva. No momento que ela se candidata a presidente, a exigência sobre a transparência a respeito da renda, imediatamente anterior dela não se reveste de maior importância, e o nível de transparência tem que ser maior do que seria para uma pessoa que não vai disputar um cargo público?
Eu acho que nesse caso, Fernando, é preciso compreender que quem exige a confidencialidade não é a Marina [Silva]. São aqueles que contrataram a Marina para fazer as suas palestras nas suas empresas, fora do país, e isso é absolutamente normal. Porque se fosse a Marina que estivesse escondendo seria uma coisa, agora quando eu contrato alguém e digo “eu vou te contratar para uma palestra, mas eu quero um contrato de confidencialidade”, você tem que respeitar porque a vontade é do outro. O importante nessa relação da Marina é que está tudo declarado no Imposto de Renda, foi uma forma, evidentemente, dela receber, dela prestar um serviço, ser remunerada. Está declarado no Imposto de Renda, é isso que é importante.
Ela pretende consultar essas empresas, indagar delas, se poderia, eventualmente, quebrar essa cláusula de confidencialidade?
Não, certamente ela poderá fazê-lo ou mesmo as empresas poderão.
Não se manifestou a respeito disso?
Não. Não chegamos a conversar sobre isso. Mas eu conhecendo bastante a Marina [Silva], como já conheço há vários anos, agora mais na intimidade, tenho certeza que a ela não há nenhum interesse em esconder, porque não há nada que se deva esconder. Foi contratada, deu palestra, prestou serviço, foi remunerada. Agora, se quem contratou não quer que se diga, bom, temos que respeitar isso.
Dilma Rousseff na sua propaganda eleitoral na televisão, nesta semana, comparou Marina Silva aos ex-presidentes Jânio Quadros [1917-1992] e Fernando Collor. Qual é o seu juízo sobre essa comparação?
É lamentável ver uma mulher, a primeira mulher que preside o Brasil, vinculada a um partido de esquerda, de origem dos trabalhadores, adotar a regra do lacerdismo para espalhar boatos, terrorismos. Quase um golpismo às vésperas de uma eleição. É muito lamentável. É um atraso político e cultural esse gesto. Primeiro porque Marina não é parecida com Jânio [Quadros], muito menos parecida com [Fernando] Collor. Segundo, porque Dilma apoia Collor em Alagoas, assim como apoia Renan [Calheiros], e assim como apoia [José] Sarney. Então eu acho uma injustiça esse tipo de comparação, e eu acho um gol contra o que a Dilma acabou de fazer com seus propósitos.
Porque ela teria feito isso?
Talvez para, sentindo a possibilidade de perder a eleição, esteja escolhendo o pior método, que era o método daqueles que acusavam Lula em 2002. Eu me lembro bem. Eu votei nas três derrotas e nas três vitórias do Lula. E eu me lembro bem do terrorismo que se fez contra Lula, que o Brasil ia explodir, que ele não ia conseguir governar, que ele não ia ter capacidade de mobilizar a sociedade. E acabou que o presidente Lula fez um bom governo para o país. Foi um período de muita inclusão social. Essa política do medo, do terrorismo, como eu disse, essa filosofia lacerdista, de espalhar o terror, não é o caminho. Isso não é maduro para a democracia brasileira.
Agora, especificamente, a crítica dela, fora a comparação, é que esses presidentes tiveram muitas dificuldades ao assumir o mandato sem uma base sólida de apoio no Congresso, o que é um fato. Inclusive, cita que Marina Silva tem, hoje, a rigor, uma base pequena a julgar pelos partidos que dão apoio a ela na candidatura. Como é possível imaginar num eventual governo Marina, a partir de 1º de janeiro de 2015, que Marina terá uma base sólida que dê tranquilidade a ela para tocar o país?
Eu acho que a nova política que nós falamos, que Marina fala, que Eduardo falava, exige uma mudança na relação com o Congresso. Na governabilidade com o Congresso.
Se você me permite dizer, todos falam isso sempre.
Não, mas eu quero te dizer aonde nós achamos que deve ser diferente. Primeiro, existe uma forma de conquistar a base, alugar a base. Já fizeram isso e teve gente que se deu mal com a Justiça por ter feito isso. Segundo, lotearam a Esplanada dos Ministérios para ter base, e sempre teve dificuldade para aprovar as coisas. A nossa tentativa, o nosso esforço com o novo Congresso que sairá das urnas, é preciso conhecer o Congresso que sairá das urnas, ele pode mudar muito ou ele pode não mudar, é tentar apostar numa coalizão de programa. Coalizão programática. Porque nós temos um programa de governo e não vamos ficar discutindo no varejo.
Mas deputado...
E veja, Fernando, só para concluir. A Marina tem insistindo, e eu acho que ela está correta. Nós temos quadros políticos nas carreiras públicas muito bons, em todas as carreiras públicas há gente qualificada no Brasil. Há gente qualificada no mundo empresarial, e há gente qualificada nos partidos políticos. O discurso de que só o nosso partido tem gente boa, não é nosso. É um discurso do PT.
Hoje, isso varia um pouco, há cerca de 20 partidos representados no Congresso. Uma forma que esses partidos encontram de participar dos governos é com o seguinte discurso “nós apoiamos programaticamente, o governo, a administração pública federal, e queremos contribuir estando presentes com cargos na Esplanada [dos Ministérios], porque nós nos julgamos aptos a ter um ministro que possa colaborar ativamente”. É ilícita essa forma de colaboração?
Não, não há ilicitude em um partido apoiar um outro partido porque se não....
E receber um cargo?
E compor um governo, não há ilicitude. O problema é se sou eu que escolho o quadro do partido, ou se é o partido que me empurra guela abaixo o cara que vai governar. Então, quando eu falo de composição de governo programática, eu não posso botar na saúde alguém que não entenda de saúde.
Então digamos que um partido X apoie um eventual governo Marina Silva. Um partido X no Congresso.
Com o nosso acordo.
Com acordo programático, com base, enfim, em assuntos que serão tratados no Congresso. O partido apoia, e o partido diz “gostaríamos de participar do governo”. Então a eventual administração Marina diria “ok, quais são os quadros do partido?”. E a forma seria a presidente da República dizer qual quadro ela gostaria de ter no seu governo com cargo?
A ideia é se o acordo e programático, não é fisiológico ou patrimonialista, é que a opinião de quem vai presidir o país vai ter responsabilidades com o êxito ou com o insucesso, tenha a possibilidade junto a esse partido de influenciar, de escolher, de sugerir o perfil.
E se o partido bater o pé e falar “não, tem que ser desses três aqui. Escolhe esses três”.
Não. Nós estamos em um momento, Fernando, que nós vamos ter que ter um novo aprendizado na política. Porque essas práticas políticas de hoje...
Elas existem né?
Elas existem e não têm dado certo.
Pois é.
O governo do presidente Lula tinha mais de 400 deputados, teoricamente, apoiando o governo. A cada votação, eu estive nessa base, era muito difícil se ter, muitas vezes, maioria. Então não adianta você ter uma base só referida por cargos em ministérios ou empresas públicas, porque ela não funciona.
Agora como é que seria nessa situação objetiva. Então está lá uma negociação “se concordamos com a proposta para a educação, ou Previdência”, seja lá o que for, “vamos entrar em um governo, apoiar oficialmente. Gostaríamos de ter uma presença nos ministérios. Temos esses três nomes” e a presidente, no caso, se for eleita a Marina, diz “olha, esses três nomes eu não gosto, eu não quero”. Aí o partido vai “então, nada feito”. Então não tem acordo?
É possível que haja um ou outro impasse, mas eu acho que nós temos que perseguir a proximidade de fazer diferente. Exemplo: há funções na Esplanada que a melhor coisa que nós devemos fazer é não prescindir da indicação de partidos. É fazer carta convite, publicar editais de convite.
Como assim?
Você procura no mercado pessoas que se disponham a exercer essas funções.
Não para cargo de ministros, o sr. está dizendo.
Não para cargo de ministro. Eu estou falando de áreas chaves. Eu acho que os políticos indicares menos das agências, isso é uma contradição brutal. As agências têm que ser ocupadas por gente que conheça a área. E tem gente que é muito boa que não está disposta a pedir favor a político, mas se for numa seleção de consulta ele vai apresentar o seu currículo. A Inglaterra escolheu o chefe do Tesouro Nacional através dessa metodologia, e contratou um alemão. Porque que nós para indicar que vá integrar uma agência, ou uma empresa pública, temos que continuar sempre com essa velha política de ficarmos reféns do cacife político aqui e ali. Nós temos que tentar mudar isso. Se não nos esforçamos para isso, não terá valido essa luta toda que nós estamos fazendo. Nós vamos ter que implementar sim uma metodologia nova com todas as dificuldades que possamos ter nesse sentido.
O que vai acontecer quando ficar pronto o partido Rede Sustentabilidade, que foi idealizado por Marina Silva?
Quando nós, no dia 3 outubro de 2013, 4 de outubro, mais precisamente, quando nós decidimos, fomos surpreendidos pelo ato generoso da Marina de apoiar Eduardo Campos, de ver no Eduardo Campos uma liderança que podia apresentar uma forma diferente de fazer a política, de governar o país, ela veio na condição de ser Rede. Ela, infelizmente, as estruturas burocráticas brasileiras não deixaram a Marina ter o seu partido. E nós do PSB apoiamos do início ao final a tentativa da Marina de ter o seu partido, achamos que esse tipo de partido era muito importante existir com esse tipo de pensamento e desapego. Não deu certo. A Marina decidiu vir, e nós pactuamos uma filiação democrática, que nós chamamos na época. Assim como o MDB lá na ditadura era o guarda-chuva de muitos partidos.
É, isso aí é conhecido.
Então, veja. Ela não está obrigada a continuar no PSB, nós sabemos disso. Se ela quiser fazer a Rede e ser a presidenta filiada à Rede, nós não vamos ter problema, porque nós pactuamos com isso, com ela. Isso não diminui a nossa colaboração com a Marina. Isso não diminui a nossa responsabilidade com o governo da Marina. Isso estava pactuado partidariamente.
Ou seja, se ela...
Agora, se é ela vai conseguir fazer eu não sei. Mas se ela fizer o seu partido, nós não temos nenhum problema.
Em que ela saia e fique filiada oficialmente à Rede?
Ela pode ser, e ela terá, continuará tendo apoio irrestrito do Partido Socialista Brasileiro.
Ela tem dito que, sucessivamente, vai governar com os melhores e cita, inclusive, alguns partidos. Os melhores até do PT, do PSDB. Ela não tem dito, ou não tem vocalizado... Eduardo Campos falava nomes até. Quem serão as forças que hoje estão aí claras e que realmente não vão participar de um governo Marina Silva, que serão oposição? Quais são essas forças?
Para nós os melhores nessa seleção que está jogando hoje estão no banco. Não estão no campo.
Não, mas quem são os de oposição ao governo Marina Silva se ela for eleita?
Bom, nós não vamos fazer alianças....
Eduardo Campos falava.
Nós não vamos fazer aliança com [José] Sarney, com Renan Calheiros, com [Fernando] Collor, com [Paulo] Maluf. Nós não vamos fazer essa aliança. É uma escolha nossa, como todo o respeito a essas figuras.
O Henrique Eduardo Alves.
O Henrique nós temos muita consideração por ele, por exemplo, presidente da Câmara...
Romero Jucá.
Romero Jucá. Nós temos inclusive no Estado dele uma relação boa. Agora, o formato da relação com o Congresso [Nacional] não precisa ser sempre com a existência de um preposto. Quando você faz o fulano virar preposto num governo com os deputados e deputadas, você está elegendo um interlocutor. O governo pode se dirigir diretamente com esses deputados, dar atenção a eles, prestigiá-los, levá-los nas suas agendas, quer dizer, conversar, receber, isso é tão fácil fazer, você prestigiar e dialogar. Agora, há governos que prefere escolher 10 prepostos, prestigiar os 10 prepostos, alimentá-los bem e fazer os outros 500 ficarem reféns dos prepostos. Nós achamos que temos que fazer uma relação mais horizontal com todos os deputados e deputadas, e também com todos os senadores.
Mas o sr. enxerga um governo Marina Silva, se ela vencer a eleição, fazendo alianças formais com partidos políticos? Com uma entidade, um partido?
É claro. Já temos uma coligação com partidos. O PSB, o PPS.
Quais partidos estariam mais propensos a formalmente entrar em uma coligação de governo com Marina Silva?
É muito difícil Fernando, nessa hora, a 30 dias da eleição, ajuizar as instituições a partidos que estão um pouco conosco, um pouco com outros.
Exato. Mas no governo é outra coisa...
Que é a realidade brasileira.
No governo é outra coisa. Vou refazer a pergunta. Existe algum partido, que pela sua característica fundadora, dificilmente estaria coligado a Marina Silva formalmente no governo? O senhor não imagina que o PT vá se coligar ao governo Marina, ou vai?
Nós vamos convidar.
O partido.
Nós vamos convidar quadros do PT, dos tucanos, do PMDB para integrar o governo.
Mas, e partido?
Agora, que dimensão isso terá de adesão partidária é uma escolha de cada um dos partidos.
Democratas, por exemplo, é um partido que institucionalmente poderia apoiar Marina?
Depende de ouvi-lo, depende da concordância com o nosso programa de governo.
O sr. citou nomes que podem ser, aí o sr. citou vários nomes do PMDB.
Tem um programa antes. Haverá um programa de governo, com o qual, que vier para o governo tem que acordar com o programa em primeiro lugar, depois indicar nomes. Não indicar nomes.
Mas o sr. citou vários nomes, se não me engano, todos do PMDB: Renan Calheiros, [José] Sarney...
Que são as principais figuras que hoje habitam na Esplanada [dos Ministérios].
Quem mais o sr. citou? [Paulo] Maluf, não, Maluf é do PT. Mas assim, duas figuras muito conhecidas.
[Fernando] Collor.
Collor, PTB. Vamos pegar o PMDB. Se o PMDB, institucionalmente, como partido, que abriga Renan Calheiros, que abriga José Sarney, quiser apoiar oficialmente o governo Marina Silva, quiserem indicar pessoas que serão pactuadas com a presidente, ele poderá entrar?
Nós vamos ter que examinar.
Mas, o partido poderia...
Num debate sério, nós vamos ter que examinar num debate sério.
Mas não se descarta o partido?
Não. Nós não podemos nem aceitar e nem descartar nada nessa altura do campeonato. Lá na frente, se houver interesses de um partido ou de outro, nós vamos ver se há o respeito do programa e se o perfil daqueles que querem governar conosco se adequam a esse programa. São critérios.
Agora, o sr. sempre está falando das pessoas. Eu estou falando das instituições. Digamos que...
Mas hoje as instituições, estão...
Cogitam num mês de eleição...
Estão 100% envolvidos, não. Mas hoje...
Estamos no meio de uma eleição. Elas se comprometem formalmente, tem uma aliança formal.
Mais ou menos. O que eu vejo é que tem partidos que estão aliados, têm bons ministérios e na hora do plenário metade está a favor e metade está contra.
Mas do ponto de vista prático...
Não há organicidade na política brasileira.
Mas no ponto de vista prático, as direções desses partidos que apoiam o governo Dilma Rousseff, vão às reuniões de líderes do governo no Palácio do Planalto. Os presidentes desses partidos são convidados para reuniões de conselhos de governo com a presidente Dilma Rousseff. Mais ou menos assim que funciona. E aí, há incidência em todos os partidos, não é?
Se o Brasil, não for capaz nessa quadra da vida de dar fim ao toma lá da cá, ao troca-troca, ele vai ter muita dificuldade de entregar aquilo que o povo foi às ruas pedir. Melhores serviços públicos, melhor qualidade de serviço. Segundo, o Brasil precisa passar por uma experiência que Eduardo fez em Pernambuco, e foi exitosa, de governar com planejamento, com metas, com medição de resultados. Isto é fundamental na saúde, na educação e em áreas estratégicas. Para isso, mais do que um partido você tem que ter uma legião de pessoas a fim de jogar pra frente, olhar o Brasil para frente. Modernizar o país. As metodologias antigas, Fernando, se todos ficarmos apostando que só tem uma forma de governar, que é dando que se recebe, é loteando a Esplanada, nós estamos perdidos. Eu não acho que isso seja a única forma. E a Marina, evidentemente, que apostar em algo novo e nós vamos ajudá-la.
Eu entendo essa argumentação toda, outros inclusive, o sr. há de convir, já falaram também, tiveram discurso parecido ano passado e não tiveram muito êxito. Não se sabe, não há como saber, na prática, como seria o governo Marina Silva. Agora, o que eu pergunto é algo assim da política mesmo. Do ponto de vista imagético, para uma usar uma palavra assim, imagem...
Bonita palavra.
“Marina Silva aceita o apoio do PMDB que diz que vai apoiá-la, mas, enfim, ela que vai escolher as pessoas do PMDB que vão estar dentro do governo”. É isso?
Vai discutir.
É isso?
Se você vai receber um partido e vai entrar em acordo com o partido você vai ter que discutir com esse partido as condições de atuação dele. Eu vou dar um exemplo, os Correios, a Empresa Brasileira de Correios, era uma empresa que até 10 anos atrás se tinha três cargos livres de nomeação, hoje são 100. Os nossos bancos têm mais vice-presidente para acomodar os atores políticos, do que para fazer o banco dar resultado. Nós temos que mudar isso. Nós temos que aproveitar os quadros de carreira que fizeram concurso e nós temos que ter limites nessa intervenção partidária na gestão pública.
Sabe a impressão que eu tenho que a candidata Marina Silva, sua colega de chapa, ela tem esse discurso que tem sido, enfim, interpretado de maneira positiva por muitos, as pesquisas dizem, mas a impressão que eu tenho, olhando politicamente perto como o sr. olha, é que ela muitas vezes fica... ela se coloca acima dos partidos políticos.
Não. Eu acho que não.
Isso, o sr. acha positivo?
Eu não acho que Marina negue os partidos ou esteja acima dos partidos. Tanto que ela tenta fazer um partido, não para ela, para chamar de seu. Um partido sob um programa diferente da maioria dos nossos partidos, com critérios do que pode ou não pode receber de doação para a campanha. Tem critérios de que ninguém poderá se reeleger mais de uma vez no partido, quer dizer, é um partido com concepções novas. Então, ela não nega essa relação partidária. Ela é inclusive candidata a presidenta numa coligação com partidos políticos, que tem dois minutos de televisão que, portanto, não resultará na vitória dos acordos dos segundos e minutos caros, que muitas vezes são feitos para você ter um programa de Hollywood na campanha eleitoral como está fazendo a presidenta Dilma, programa super cinematográfico de um Brasil que não existe na vida das pessoas. Ela não nega isso. Ela tem uma postura diferente de olhar a política. Eu acho que o Brasil está cobrando a reforma política porque também quer olhar diferente para a política, e o governo pode ajudar muito a fazer a reforma. Pode ajudar muito. E dependendo do que vem das urnas nessa eleição de renovação, tanto na Câmara e no Senado, nós podemos ter menos dificuldades para você implementar essas mudanças que são necessárias.
Marina Silva está apresentando uma trajetória ascendente, pelo menos até agora, no início desta semana, nas pesquisas. Que trajetória o sr. imagina para Marina Silva de agora, início de setembro até o dia 5 de outubro ao da eleição, em termo de posicionamento, de apoio, de intenção de votos no primeiro turno?
Todo mundo que vai para uma eleição que ganhar a eleição. Eu acho que as pesquisas nós temos que recebê-las, nesse momento, como uma fotografia de um momento, você tem mais de 30 dias de eleição para frente.
Há espaço para ela crescer?
Há espaço para ela crescer mais, mas há também espaço para cair. Se a gente não continuar de forma humilde, com os pés no chão, fazendo o nosso trabalho, levando as nossas propostas, não elevando o tom, e tampouco devolvendo na mesma moeda as agressões que já começaram a ocorrer. Nós não vamos mudar o tom que a Marina usa nos debates, nós vamos continuar prepositivos.
A eleição pode ser liquidada por alguém no primeiro turno?
Eu acho que a eleição no Brasil está aberta. Pode sim alguém ganhar no primeiro turno.
O sr. enxerga quais candidatos aptos a vencer no primeiro turno ainda?
Nesse momento quem pode ganhar no primeiro turno é a Marina Silva.
Qual é o grau de exequibilidade disso no momento?
Depende muito da avaliação que a sociedade faz. Eu relembro que tem um ano e meio que todos os institutos de pesquisa apresentam 80% do eleitorado querendo mudança. Talvez essa mudança esteja sendo desperta, ou talvez a tragédia, que vitimou Eduardo, tenha ajudado a despertar isso, e o patrimônio político que a Marina já tinha se some a isso.
Que cenário o sr. vislumbra para segundo turno a esta altura? Quem tem condições de ir ao segundo turno na sua avaliação?
Todos têm condições de ir ao segundo turno. Nesses últimos 30 dias....
Os favoritos?
A números de hoje, nós sabemos, mas a política ela é dinâmica. Não vou ser desrespeitoso com nenhuma das candidaturas, porque a eleição está nas mãos do povo, cabe a ele escolher.
Supondo-se que as duas candidatas que hoje lideram de fato....
Seria fantástico ter o segundo turno com duas mulheres.
Sigam para o segundo turno, Dilma Rousseff, do PT, Marina Silva, hoje no PSB, candidatas finalistas. Como o sr. imagina que vão se comportar: Número um, os candidatos que não forem ao segundo turno, em termos de apoio, e como se comportarão os eleitores desses candidatos no segundo turno?
É inegável que no Brasil hoje há um desejo muito grande de mudança, há um esgotamento do atual ciclo político e econômico que nós temos. Há um cansaço da polarização que há vinte anos governa e desgoverna o Brasil, ou justifica e não se justificam as coisas não realizadas.
Mas o que aconteceria no segundo turno? Em termos de apoios.
Eu acho muito provável que no segundo turno que todos que querem fazer a mudança estejam juntos, essa é uma probabilidade muito grande que vem se repetindo até agora e, havendo segundo turno, poderá se consolidar.
Tem uma força que pode, pela primeira vez, estar fora da lista final dos dois candidatos mais votados, que é o PSDB. O que aconteceu com o PSDB, na sua opinião?
Talvez não tenha acontecido nada com o PSDB. Talvez esteja acontecendo muita coisa com o eleitorado brasileiro, que está tendo um outro viés de reflexão nessa eleição. O PSDB, como eu digo, tem quadros bons, fez para o Brasil, na sua época, boas coisas, principalmente a implantação do real, a estabilização da economia brasileira, isso é um mérito dos tucanos. O PT não admite isso, mas nós admitimos. Assim como o PT consolidou um período de inclusão social muito grande, o que é um mérito muito importante do presidente Lula.
O sr. diria que...
Agora veja, nem o PT nem o PSDB admitem as duas coisas um do outro. E eu acho que isso cansou a sociedade. A sociedade cansou de viver essa dicotomia e está procurando alguma coisa nova. O Aécio é uma liderança política nova, jovem, foi um gestor. Eu, particularmente, sou amigo dele me dou com ele, quando eu cheguei na Câmara eu encontrei com ele na Presidência da Câmara naquela época. Agora, é o partido que fracassou ou é o eleitorado que está tomando novas decisões? Eu acho que no Brasil quem está fazendo a mudança não são os partidos nessa eleição, é o eleitorado, é o povo brasileiro.
O sr. diria que cada 10 eleitores de Aécio Neves no segundo turno, os eleitores, quanto o sr. imagina desses 10 que vão talvez, se tiver um segundo turno, Marina e Dilma, votar em Marina e quantos votariam em Dilma?
Oito votariam em Marina e dois, talvez, votariam em Marina.
Então 10?
Não, estou dizendo... Certamente se transfeririam porque são eleitores que querem mudar o país.
O sr. acha que nessas circunstâncias o próprio Aécio não fosse para o segundo turno, consideraria essa hipótese também de apoiá-la?
É natural. Eu acho que o discurso do Aécio e do PSDB em relação ao atual governo é super crítico, seria até uma incoerência pensar o contrário.
Poderia ficar neutro.
Natural em política só iogurte, né Fernando.
Pois é.
Acho que ninguém pode ficar neutro.
Marina Silva ficou. Em 2010.
Mas foi uma opção que ela teve dentro do PV, o partido dela teve opinião. Eu prefiro tomar posição. Acho que isso é melhor.
O sr. acredita que é algo a ser perseguido, eventualmente, se Aécio não for ao segundo turno, perseguir, enfim, o apoio dele?
É possível. Mas eu desejo ao Aécio que ele tenha êxito na empreitada dele, assim como os demais candidatos, para não ficarmos aqui, digamos, nos imiscuindo na realidade de cada um. Agora, no segundo turno, quem pregou na campanha inteira mudar o Brasil, o lugar é um lado só. Não há dois lados.
Qual será o lado?
O lado que nós estivermos, ou que outro que tenha pregado a mudança esteja.
Qual é sua posição pessoal, não a do programa de governo, sobre temas de costumes? Legalização do aborto, legalização das drogas, especificamente da maconha, casamento gay?
O aborto já é...
Não, mas a flexibilização?
Eu, pessoalmente, concordo com o que a lei atual permite. E acho que o sistema de saúde brasileiro não está preparado sequer para atender os casos que a lei permite. Nós precisamos melhorar isso.
Mas isso é outro assunto.
Mas, a minha posição, é de acordo com o que a lei vigente permite. Essa é minha posição pessoal.
Liberalização do uso de drogas.
Nós temos uma fronteira muito aberta. Um descampado nas fronteiras brasileiras, por onde entra todo o tipo de droga, que me parece muito precipitado antes de resolver essa entrada franca de qualquer forma, de todo tipo de forma de droga do Brasil, você liberar o uso.
A experiência...
Tenho muita dúvida sobre isso, e acho que precisamos ver alguns cases de sucesso.
A experiência do Uruguai.
Está muito cedo para avaliar. Por enquanto, não é um sucesso e não é seguro.
O Uruguai acertou ou errou ao tentar fazer a experiência?
É o direito que o Uruguai teve, teve debate com a sociedade, é um país muito menor que o Brasil, tem poucas áreas de fronteira, tem, talvez, melhores condições de administrar isso. É um país pequeno, tem muito mais condições de administrar isso. Agora, um país continental como o Brasil, onde entra arma, droga, violência, tráfico de tudo que é lado, você tem que ter um cuidado muito grande sobre isso.
Então a sua posição pessoal sobre isso é para não mudar a lei no que diz respeito à droga.
Eu não gosto da criminalização das drogas como solução para o problema. O Brasil precisa amadurecer nesse sentido, mas primeiro ele tem que fazer a sua parte. Primeiro ele tem que fazer a sua parte. Se esse país tiver a capacidade de acabar com a boca livre que existe hoje nas fronteiras brasileiras, reforçar, portanto, o policiamento nas fronteiras para todo o tipo de crime, você pode fazer uma discussão mais séria sobre isso. Eu acho que o usuário de droga, principalmente de drogas pesadas, o crack hoje que está dizimando muitas famílias, tem que ter o atendimento como um paciente de uma sociedade doente, tem que ter esse tratamento de saúde de orientação, você não combate esse tipo de coisa só com polícia, você tem que ter uma construção sobre isso. Agora, a liberação num país que não consegue ter portão em lugar nenhum me parece precipitada nesse momento.
O casamento gay já existe na prática por conta de uma decisão que foi tomada pelo Supremo. Você acha necessário formalizar ainda mais a forma como se pode haver a união entre gays no Brasil?
Eu acho que um princípio fundamental nessas coisas e que serve a todos os gays, aos não gays, aos crentes, aos não crentes, é que a gente respeite os direitos civis de todos os brasileiros. Isso é um pressuposto fundamental. Segundo, eu acho que respeitar as organizações religiosas que não precisam concordar uma com a outra, ou com comportamento de um ou de outro, também é uma conquista democrática. Vamos respeitar esses limites religiosos. Agora, o ele é laico, e se ele é laico, como disse o papa, “quem sou eu para condenar o casamento gay?”.
E condenar homofobia por meio de uma lei formal?
Sinceramente, se o Brasil fosse um país mais sério ele não precisava de lei, porque qualquer discriminação deve ser condenada. Seja por razões de opção sexual, seja por racismo, seja por qualquer tipo de discriminação, mas ter uma lei, eu acho importante. Eu acho importante você ter uma lei, é minha opinião é uma filosofia que nós comungamos no partido e que respeitamos aqueles que diverhem dela.
Saiu o coordenador de assuntos LGBT do PSB por conta desse episódio em que houve uma correção do programa de governo da chapa Marina Silva-Beto Albuquerque. Por que aconteceu isso?
Eu não sei se ele saiu do PSB.
Não, saiu da coordenação.
Um programa de governo, ele tem que ter uma mediação. Ele tem que ter uma medição. A unanimidade em tudo não existe, e na política muito menos. Você tem que conviver com pensamentos diferentes. Num país laico nós temos que aprender muito ainda a conviver com as diferenças. Quem coordenou a execução do plano, transferiu integralmente as sugestões do movimento LGBT para o programa, e não havia um consenso sobre isso. Então houve de fato ajustes. Mas eu ouso dizer que dos programas, de tudo que eu já ouvi falar, de todos os candidatos, o que mais profunda o assunto, o que mais clara trata o assunto é o nosso programa de governo sobre a questão LGBT. Acho que isso é um avanço super importante. O Aécio e a Dilma, que não apresentaram ainda seus programas, têm falando muito do nosso, que já é uma honra para nós fazer os nossos adversários lerem o nosso programa antes mesmo de publicarem os seus, e até onde eu tenho lido e comparado, a nossa proposta é uma proposta super avançada e coerente com o Estado laico que é o Estado brasileiro.
Sobre o programa de governo, há a defesa, no programa de governo da sua chapa, de fim da reeleição para cargos executivos, ou seja, prefeitos, governadores, presidente da República, mandatos de cinco anos sem reeleição e eleições coincidentes. Hoje o brasileiro vota a cada dois anos, por essa proposta, o brasileiro votará só a cada cinco anos, é bom isso?
Eu, sinceramente, acho que se votar de dois em dois anos fosse muito bom a política brasileira estaria melhor.
Mas votar menos é melhor?
Eu acho que unir as eleições, Fernando, implica em você criar partidos com cara nacional. Hoje você tem um partido com uma composição no município, outra composição no Estado e outra no governo federal, ou seja, os partidos políticos vão perdendo identidade nacional, vão perdendo aquilo que me parece muito importante, que é uma identidade nacional. Se você unificar as eleições, só isso já vai começar a mudar a realidade partidária no país. Eu defendo a unificação das eleições, eu acho que o mandato de cinco anos sem reeleição ele é salutar. Eu também defendo o fim das coligações nas proporcionais, e eu defendo cláusula de desempenho. Um partido para dizer que é um partido tem que ter pelo menos 2% do eleitorado brasileiro, se não você não é um partido, você não tem um sentimento nacional e essa é uma discussão que nós temos que fazer na reforma política.
Votar uma vez a cada cinco anos e não a cada dois, na sua avaliação, não reduz a qualidade da democracia?
Eu creio que não. Ao contrário, talvez, permita que o poder público funcione até melhor, porque hoje, a cada quatro anos, você tem um interrompido. Em razão dos meses anteriores à eleição municipal, dos meses anteriores à eleição nacional, estadual, você acaba tendo um mês de paralisação, de não repasse de recursos, de descontinuidade, isso também não gera uma cultura de eficiência no poder público.
O sr. tem uma boa relação com o setor do agronegócio no Brasil. A candidata Marina Silva, historicamente, tem uma relação mais arestosa com esse setor de economia. Como vai ser composta a relação de Marina Silva, eventualmente se presidente for, com o setor do agronegócio?
Eu acho muito engraçado Fernando, porque eu virei candidato a vice da Marina e começaram a dizer que eu sou ruralista. Eu sou o primeiro ruralista sem terra, sem nenhum boi para criar, e sem cavalo na propriedade. Eu sou um advogado.
Mas que vem de um Estado onde o agronegócio é importante.
Sim, que mora num Estado agrícola e que há muito tempo já compreendeu a importância do agronegócio na vida das pessoas. Ninguém toma café de manhã, toma um suco, toma leite, come um pão, um presunto com queijo, margarina, almoça e janta se não tiver agricultura produzindo no país. Então, só isso... E um churrasco no fim de semana, e assim por diante, quer dizer, e a própria cerveja que vem da cevada, também vem da agricultura. Então, a agricultura é uma coisa presente na vida das pessoas. Toda a cadeia produtiva do agronegócio representa, praticamente, um quarto do PIB desse país. Então, nós estamos tratando de um setor muito importante. Eu não acho que haja contradições da Marina com o agronegócio. Eu creio que tem muita gente ouvindo outros falarem de Marina e não querendo ouvir Marina falar. Porque os encontros que nós temos feito, onde Marina fala e as pessoas escutam, inclusive no meio do agronegócio, os conceitos sobre a Marina mudam. Quando a Marina fala em sustentabilidade, o que é sustentabilidade no agronegócio? É adequar hoje a uma exigência do consumidor mundial. O consumidor mundial está a cada dia mais exigente, ele quer a cada dia saber mais do produto que ele está consumindo. Ele lê, hoje você anda no supermercado brasileiro você vê muito mais gente na frente da prateleira lendo na embalagem do produto a composição daquele produto, se tem glúten, se não tem glúten, quanto tem de sódio, se tem ou não tem sódio, qual é a caloria, quer dizer, isso significa o quê? Nós estamos diante de um desafio. Quem não se modernizar vai perder mercado, vai ficar fora do mercado mundial. E a sustentabilidade significa dizer o seguinte: o cara que vai comer carne na Europa, hoje já é um mercado muito promissor para quem tiver essa regra, ele quer saber até a água que esse boi bebeu. O pasto que ele pastou, que ração ele consumiu. Isso é sustentabilidade.
Claro, mas deixa eu perguntar, então o caminho seria o que, mais contato direto da candidata Marina Silva...
E vice-versa.
Está sendo providenciado já?
Nós temos trabalhado muito. Nós temos dialogado já fizemos...
Há muitos pedidos de encontros para conversas, para conhecer?
Há muitos pedidos.
De que ordem? Ilustre para nós.
Eu te diria o seguinte, Fernando. Eu vou te ilustrar. Hoje eu diria que 90% do agricultor brasileiro já é um agricultor que sabe que tem um mercado exigente, que sabe que é preciso preservar o ambiente, que sabe que a mudança climática no país é hoje o principal empecilho para o sucesso da agricultura brasileira, e que, portanto, o respeito à questão ambiental, à exploração adequada ela é fundamental. Tanto Marina quanto o agronegócio vêm mantendo encontros como nós fizemos agora em São Paulo como vamos fazer na Expointer, no Rio Grande do Sul,
Na quinta-feira?
É, na quinta-feira, que é a maior exposição agropecuária da América Latina, quanto mais encontros houver, quanto mais puder se ouvir, quanto mais se ouvir falar nos debates e nos programas, vãos perceber que a sustentabilidade...
Onde é a Expointer, em qual cidade?
É em Esteio, no Rio Grande do Sul. Na região metropolitana de Porto Alegre. Quanto mais convergência houver, mais soluções nós vamos ter.
Mas se pretende fazer uma fala especial para esses, enfim, representantes do setor quando for lá? Está preparando algum evento em que ela possa falar?
Se nós vamos fazer... nós vamos visitar na Expointer o pavilhão da agricultura familiar, que é muito grande.
Que mensagem que ela deve passar? O sr. já discutiu com ela?
A mensagem que nós já passamos na época do Eduardo, que está de pé, em primeiro lugar, isso lá em maio nós dissemos às 50 principais lideranças de toda a cadeia do agronegócio: primeiro, no atual governo, o Ministério da Agricultura está sem poder político e sem o orçamento que lhe é devido. Hoje as decisões do Ministério da Agricultura estão terceirizadas para a Casa Civil, isso é um desrespeito com um setor tão importante ao PIB nacional. Precisamos empoderar esse ministério, nós precisamos qualificar esse ministério, valorizar esse ministério e ter no comando desse ministério alguém que tem o acordo do setor, de todos os setores, tenha respeito, que seja acreditado. O Ministério da Agricultura, como Saúde, Educação, Fazenda, Minas e Energia, não pode continuar no rateio, no sorteio político-partidário. Nós temos que colocar ali gente com alguma especialidade.
Tem alguma síntese da mensagem de Marina Silva na quinta-feira? Seria qual?
Vamos continuar mantendo políticas de crédito, não vamos atrapalhar. Vamos fazer o chamado georreferenciamento das áreas rurais do país, e vamos produzir. É isso. Nós temos que produzir, deixar esse país produzir. Atrapalhar o menos possível e preservar o ambiente. Isso tudo pode ser feito sem nenhum tipo de conflito.
Outro ruído que houve sobre interpretação de falas de Marina Silva. O uso dos recursos e a forma de exploração do pré-sal. Afinal, como vai ser tratado esse tema num eventual governo Marina?
A primeira coisa que nós vamos fazer é salvar a Petrobras do patrimonialismo, do aparelhamento político partidário que foi feito. Porque se não salvar a Petrobras, se ela continuar tendo prejuízos, ela vai ter muita dificuldade de fazer o investimento que cabe a ela a fazer majoritariamente no pré-sal. Segundo, o pré-sal é um programa de desenvolvimento para o país e é um programa de financiamento para áreas sociais importantes. Nós temos que fazer a exploração e faremos. Isso é a proposta de Marina. O que Marina está acrescentando é que nós não podemos viver somente dessa visão e não concorre nem para nem diminui o avançar do pré-sal você dizer que o Brasil é um país super ensolarado e tem que apostar na geração de energia solar. Ampliar a geração de energia limpa. Isso é absolutamente pacífico. Pernambuco conseguiu fazer, no governo do Eduardo Campos, um leilão de energia solar. Porque que o Brasil não faz? O Brasil tem que comprar essa parada, a Petrobras inclusive pode ser parceira dessa parada e isso não significa preteri o pré-sal para fazer energia solar. Significa fazer as duas coisas. O que ela defendeu foi exatamente isso.
Financiamento. Haverá alguma restrição para o PSB receber doações de empresas ou de setores para os quais a Rede, partido criado, ainda não oficial, de Marina, podem receber? Por exemplo, tabaco, álcool, agrotóxicos, armas?
O PSB no que diz respeito a contribuições de campanha tem uma regra bem clara, só não se pode receber contribuição de fonte ilícita, ponto. Nós não temos esses senões, mas respeitamos os senões que a Rede tem. De forma que na conta...
E no caso de campanha de Marina?
Sim, na conta da candidatura da Marina seguramente essas vedações que a Rede tem.
Serão respeitadas?
Serão respeitadas. Evidentemente.
E para as candidaturas do PSB há outra regra?
Nós não temos a regra que não seja essa: ninguém pode pegar dinheiro de origem ilícita, de origem ilegal. Não vejo, particularmente, pecado nenhum de você, se for o caso, receber alguma contribuição para fazer campanha de quem está legalmente constituído no país, trabalhando, gerando empregos.
Ainda que sejam indústrias polêmicas, como agrotóxico ou armas?
Agrotóxico... A maioria dessas empresas sequer contribuem, praticamente todas elas são internacionais. Armas, nós precisamos de armas para as Forças Armadas. É possível ter defesa nacional sem armas? Acho que não. Bebidas, refrigerante, cervejas, qual é o problema? Então, é uma questão de princípios, de você olhar. O problema é o ilegal, isso sim nós temos que banir da política. São as relações ilegais, as contribuições ilegais, o caixa dois. Isso que é o feio da contribuição partidária.
Se eleita a chapa, o sr., vice-presidente, imagina que tipo de função como vice-presidente numa administração Marina Silva?
Nada além do que as minhas atribuições constitucionais. Ser um parceiro que colabore, que ajude na construção política do governo, nas relações institucionais, na substituição eventual. Nada que não ultrapasse os limites.
O sr. se vê em algum setor específico, por exemplo, o ex-presidente José Alencar, por um determinado período, ajudou, na administração de Lula, como ministro da Defesa e acumulou ali, vamos dizer, as funções. O sr. imagina contribuindo um pouco mais além de ser... O vice-presidente só tem uma função constitucional, substituir o presidente da República no seu impedimento.
É verdade. Isso é muito pouco. Eu acho que você tem que estar envolvido na alegria e na tristeza, na dificuldade, enfim, com o governo. Agora, os limites do vice que dá é o presidente. Se a presidente achar que eu deva cumprir mais tarefas na articulação política, ou na área de infraestrutura, que eu tenho um razoável conhecimento por já ter tido experiências de ter sido secretário de transportes de infraestrutura no Rio Grande do Sul, ou qualquer outro tipo de colaboração eu estarei pronto. Mas os limites do que eu poderei fazer ou não serão ditos e assegurados pela presidente Marina.
Câmara e Senado, PSB, qual é a expectativa do seu partido sobre bancadas a partir de 2015?
Nós gostaríamos muito de chegar a 50 deputados nessa eleição, e elegermos ou termos uma bancada de oito, muito otimistamente, 10 senadores. Estamos trabalhando para isso. Acho que a candidatura da Marina animou muito o eleitorado das nossas legendas, e a gente vai....
Eu noto que há....
E talvez eleger seis governadores. É o que nós pretendemos.
É o que ia falar. Governadores, não há neste momento, nas pesquisas já divulgadas, nenhum candidato do PSB liderando as pesquisas.
Mas o Brasil...
O que leva o sr. a ser otimista assim?
O Brasil está mudando muito nas eleições, as pesquisas de 15 dias atrás você já viu que nem para presidente elas estavam coerentes. Então, nós já temos resultados internos nossos em vários Estados. Todos os nossos...
Quais são os Estados que o sr. imagina há candidatos competitivos do PSB?
No Espírito Santo, nós temos uma candidatura super viável do que a reeleição do Renato Casagrande.
Espírito Santo?
Pernambuco.
Pernambuco.
Nós vamos virar o jogo em Pernambuco. Roraima o Chico Rodrigues, nós estamos trabalhando em conjunto.
Qual mais?
A Lídice [da Mata] está crescendo na Bahia. O Amapá, o Camilo [Capiberibe] concorre à reeleição. Temos uma candidatura no Ceará que começa também a ter sentimentos de crescimento, ou seja, daqui até a eleição, amigo, muitas coisas poderão mudar e nós...
Eu noto que a candidata Marina Silva...
Tarcísio Delgado, em Minas Gerais, é uma novidade hoje que a gente está sentindo o seu crescimento muito grande, para uma eleição que estaria polarizada. Mas uma das partes que polariza empacou, então abre o espaço para quem sabe uma terceira força chegue ao segundo turno.
Eu noto que na propagando do PSB, com Marina Silva, na propaganda presidencial, exalta-se pouco ou ressalta-se pouco o número do partido, que é o número 40. Que é o que conta muito para eleger deputados estaduais e federais.
Mas isso ainda está começando. Começou há pouco tempo.
Isso vai ser feito? A própria candidata Marina vai falar, vai pedir que votem no número 40?
Nós vivemos um dilema. Nós só temos dois minutos de televisão.
Mas, ainda assim...
Mas é evidente que nós vamos...
Mas ela vai falar?
Na reta final nós vamos valorizar a questão no número. Agora, na estratégia de construção política, de defesa de programa, nós estamos fazendo afirmação em torno do nome da Marina e ali, na reta final, vamos valorizar o número que é o que mobiliza, efetivamente, o eleitor.
Deputado Beto Albuquerque, candidato a vice-presidente da República pelo PSB, muito obrigado por sua entrevista à "Folha de S. Paulo" e ao UOL.
Eu fico muito grato à oportunidade e espero ter a honra de outras vezes ser chamado para a gente conversar.
Muito bem, muito obrigado.
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