Major Curió ainda atemoriza testemunhas da Guerrilha do Araguaia, diz Comissão da Verdade
A Comissão Nacional da Verdade realizou uma diligência de reconhecimento na "Casa Azul" em Marabá (PA), nesta segunda-feira (15), e coletou testemunhos que mostram que o coronel reformado Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, foi um dos principais comandantes na violenta repressão à Guerrilha do Araguaia. Relatos da Comissão Estadual da Verdade mostram que a influência de Curió na região persiste até hoje.
As testemunhas confirmaram que o militar da reserva esteve inúmeras vezes na "Casa Azul", atual sede do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que era usada pelo Exército como prisão ilegal e centro clandestino de tortura a presos políticos durante o regime militar. Segundo as testemunhas, Curió usava o codinome “doutor Luchini”.
Também participaram da visita à "Casa Azul" pesquisadores da Comissão Estadual da Verdade do Pará. Segundo um membro da comissão, Curió ainda hoje exerce forte influência na região e impõe medo às testemunhas da guerrilha.
Paulo Fonteles Filho, membro da comissão estadual, conta que o vendedor Raimundo Cacaúba, que colaborou com o Exército passando informações sobre os guerrilheiros na ditadura, foi assassinado em junho de 2011 um mês após passar a contar o que sabia sobre as graves violações aos direitos humanos cometidas pelos militares. De acordo com a comissão, ele foi morto três dias após Curió deixar a região. Antes de ser assassinado, um outro ex-colaborador do Exército avisou Cacaúba que sua “cabeça estava a prêmio”.
Durante a diligência, o ex-soldado Manoel Messias Guido Ribeiro afirmou que o senador e ex-superintendente da Polícia Federal Romeu Tuma, morto em 2010, também atuou na "Casa Azul" como agente da repressão à guerrilha. Segundo a comissão estadual, seu codinome era "doutor Silva". O colegiado acredita que Tuma atuou na região na década de 1970. A Comissão Nacional da Verdade ainda vai apurar melhor essa informação.
Para o coordenador nacional da comissão, Pedro Dallari, a diligência confirmou suspeitas das pesquisas históricas, pois as testemunhas reconheceram a "Casa Azul" como local de prisão clandestina.
“Com esse cuidado de documentar toda a história do país o que está sendo feito o resgate da memória. O que é importante é criar essa percepção verdade já que boa parte da população não era nascida quando essas graves violações aos direitos humanos ocorreram”, disse Dallari.
*A jornalista Bruna Borges viajou a Marajá a convite da Comissão Nacional da Verdade
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