"O PT acabou, só restam os religiosos", diz economista expulso do partido
As investigações da Operação Lava Jato, que resultaram na manhã desta sexta-feira (4) na condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, demonstram que o "PT acabou, só restam resquícios religiosos", na opinião do economista Paulo de Tarso Venceslau, 74. Fundador do partido, ele foi expulso da legenda em 1998, após denunciar um suposto esquema de corrupção envolvendo o compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira, em contratos com prefeituras paulistas administradas pelo PT nos anos 1990.
"Na minha modesta opinião, o que a operação tinha de afetar o PT já afetou. O partido acabou. O que restam no PT são resquícios religiosos. Que fazem da política uma seita. Não interessa os fatos, não interessa a verdade. O partido está reduzido a isso, pois não não há verdade que abale essa fé," afirma Paulo de Tarso, que atualmente dirige o jornal Contato, sediado na cidade de Taubaté (SP). A sede da publicação foi invadida nesta semana: um computador foi levado. A Polícia Civil de São Paulo investiga o caso.
Essa fase da operação, batizada de Aletheia (a busca da verdade, em grego), apura se empreiteiras e o pecuarista José Carlos Bumlai favoreceram Lula nas obras e aquisição do sítio em Atibaia e o tríplex no Guarujá. O ex-presidente nega as acusações e que seja dono dos imóveis. "O que aconteceu hoje foi um desdobramento anunciado e mostra que as instituições estão funcionando regularmente bem. Se não ocorresse nada, aí sim seria estranho, pois iria prevalecer a fanfarronice do ex-presidente, dizendo publicamente que não prestaria depoimento algum", afirma o ex-militante.
Para o ex-secretário de Finanças da cidade de São José dos Campos, as manifestações de apoio ao ex-presidente em frente ao aeroporto de Congonhas, onde ele prestou depoimento, e no diretório do PT, onde fez um discurso, são realizadas por pessoas dependentes da legenda. "O PT é hoje um grande empregador de uma mão de obra que não tem consciência alguma".
Paulo Tarso afirma ainda que as pessoas investigadas na atual fase da Operação Lava Jato "são quase as mesmas" apontadas por ele como participantes de um esquema de corrupção, que visava arrecadar fundos para o PT nos 1990.
O núcleo envolvido agora é praticamente o mesmo que estava envolvido no esquema que eu denunciei nos anos 1990."
De acordo com a denúncia de Paulo de Tarso, a Cpem, consultoria especializada na arrecadação de tributos, teria desviado parte dos valores recebidos pelos serviços prestados a prefeituras para financiar atividades do partido e de petistas, com a conivência de seus dirigentes – uma delas teria sido a Caravana da Cidadania, largada da campanha de Lula à Presidência em 1994. Ainda de acordo com sua denúncia, a estratégia de arrecadação de recursos não contabilizados era operada pelo compadre do presidente Lula, Roberto Teixeira, e pelo atual presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
O caso foi investigado por uma comissão interna do PT, que tinha entre seus membros o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recém-empossado advogado-geral da União. "Eu acho que há muita possibilidade desse núcleo duro, que circula ao redor do Lula, venha a pagar uma pena pesada na Justiça", disse Paulo de Tarso.
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