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Gravação indica que Lula queria ajuda de Dilma com ação no STF

Do UOL, em São Paulo

16/03/2016 22h25

Em conversa com o então ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, no dia 4 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que queria ajuda da presidente Dilma Rousseff com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre com que instância ficariam as investigações sobre o antecessor. Nesse dia, Lula foi conduzido coercitavamente para depor à Polícia Federal. 

A gravação da conversa foi revelada nesta quarta (16), depois que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, levantou o sigilo de toda a investigação sobre Lula, publicando vários telefonemas do ex-presidente. Ele foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil também nesta quarta por Dilma Rousseff, quase ao mesmo tempo em que as gravações vieram a público.

"Eu acho que eles quiseram antecipar o pedido nosso que tá na Suprema Corte, que tá na mão da Rosa Weber (...) Porque ela poderia tirar isso da Lava Jato. O Moro fez um espetáculo pra comprometer a Suprema Corte", disse Lula. "Mas viu, querido, ela tá falando dessa reunião, ô Wagner eu queria que você visse agora, falar com ela, já que ela tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram."

"Tá bom, falou! Combinado, valeu querido, um abraço. Um abraço na Marisa e nos meninos", responde Wagner.

No mesmo dia, a ministra Rosa Weber negou o pedido da defesa de Lula para suspender as investigações contra ele realizadas tanto pelo MPF (Ministério Público Federal) quanto pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Moro precisava de 'pirotecnia', critica Lula

Antes de falar com Wagner, no mesmo telefonema, Lula conversou com Dilma sobre a condução coercitiva após autorização do juiz Sérgio Moro. Segundo a transcrição da Polícia Federal, o ex-presidente critica o magistrado e diz que o PT não pode acreditar na "luta jurídica", falando inclusive em antecipar sua campanha à Presidência em 2018.

"Se os canalhas tivessem mandado um ofício, teria ido prestar depoimento, como eu já fui três vezes a Brasília prestar depoimento. Eu acho que o Moro quis fazer um espetáculo, antes da decisão daquele negócio que tá no Supremo pra decidir, a gente não sabe se é contra ou a favor, mas ele precisava fazer um espetáculo de pirotecnia. As perguntas foram as mesmas que eu já respondi ao Ministério Publico e a dois delegados da Polícia Federal", reclama Lula."É um espetáculo de pirotecnia sem precedentes, querida. Eles estão convencidos de que com a imprensa chefiando qualquer processo investigatório eles conseguem refundar a República."

Lula também distribui críticas a representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário.

"Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um parlamento totalmente acovardado, somente nos últimos tempos é que o PT e o PC do B é que acordaram e começaram a brigar. Nós temos um presidente da Câmara f*, um presidente do Senado f*, não sei quanto parlamentares ameaçados, e fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e que vai todo mundo se salvar. Eu, sinceramente, tô assustado com a 'república de Curitiba'. Porque a partir de um juiz de 1ª instância, tudo pode acontecer nesse país."