Procurador da Lava Jato diz que a corrupção não é privilégio de um só partido
O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato na Justiça Federal de Curitiba, afirmou nesta terça-feira (29) que espera das pessoas ‘atos concretos’ contra a corrupção e disse que o mal não é exclusividade de um único partido.
Dellagnol também afirmou que a Lava Jato é um órgão técnico e se mantém neutro na disputa política sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Nós somos neutros em relação ao impeachment. Não somos a favor ou contra. Somos um órgão técnico que tem um papel constitucional de atuar contra a corrupção”, disse.
“A corrupção é apartidária. Ela não é privilégio ou ônus de um partido A ou B. A nossa luta é luta contra corrupção, não contra pessoas”, afirmou o procurador.
Dellagnol participou nesta terça-feira (29), em Brasília, de evento da campanha “10 medidas contra a corrupção”, apoiada pelo MPF (Ministério Público Federal). As declarações foram feitas ao responder perguntas de jornalistas sobre se a campanha contra a corrupção dava força ao movimento pelo impeachment da presidente.
Na entrevista, o procurador deu um tom patriótico ao combate à corrupção.
“Se você diz que ama o país, não diga, mostre que você ama o país. Nós esperamos que as pessoas todas, inclusive os parlamentares, amem o seu país com atos concretos contra a corrupção, mais do que palavras”, afirmou.
A campanha “10 medidas contra a corrupção” começou em julho de 2015 e contou com o apoio de mais de mil instituições em todo o país, incluindo universidades, organizações não governamentais e igrejas.
Foram coletadas assinaturas em apoio a anteprojetos de lei que preveem medidas de combate à corrupção como o aumento das penas, formas de aceleração dos processos e conscientização sobre o tema.
Após a coleta das assinaturas, as medidas devem se tornar projetos de lei de iniciativa popular, a exemplo do que ocorreu com a Lei da Ficha Limpa.
São necessárias 1,5 milhão de assinaturas para um projeto de iniciativa popular, mas a campanha já conta com o apoio de pouco mais de dois milhões de pessoas.
A maior parte dos anteprojetos de lei foi elaborada pelo MPF. Segundo Dellagol, a iniciativa nasceu da percepção da força-tarefa da Lava Jato de que apenas a operação não traria as mudanças desejadas pela sociedade.
“Essas medidas surgiram quando a Lava Jato percebeu que expectativa que sociedade colocava sobre nós de transformação não seria alcançada com o nosso trabalho. O que a Lava Jato pode alcançar é a recuperação do dinheiro desviado num caso concreto e a punição dos responsáveis”, disse Dellagnol.
“Mas a sociedade espera que os escândalos de corrupção parem de se suceder, semana após semana”, afirmou o procurador.
No evento desta terça-feira, Dellagnol entregou simbolicamente as assinaturas ao voluntário da campanha de coleta, que representou a sociedade civil.
Movimentos sociais que apoiam as propostas do MPF vão entregar na tarde de hoje os anteprojetos de lei no Congresso.
“As medidas atuam em três focos. O primeiro é a prevenção, o segundo é trazer uma punição adequada e fazer com que ela saia do papel, e em terceiro lugar precisamos de instrumentos para recuperar o dinheiro desviado”, afirmou o procurador.
Dellagnol disse ainda esperar que a mobilização da sociedade sobre o tema pressione os parlamentares a aprovarem as medidas. Hoje, ao menos 38 deputados e senadores respondem a inquéritos e ações penais relacionadas às investigações da Lava Jato, que apura um esquema de corrupção envolvendo obras governamentais e grandes empreiteiras.
“Nós não temos dúvida de que eles [parlamentares] se movimentam em favor de apoio popular, de seus votos. Nós vemos o amplo apoio da sociedade e acreditamos que isso os sensibilizará, como já os sensibilizou anteriormente na Ficha Limpa”, afirmou Dellagnol.
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