Alvo da Lava Jato já foi condenado por esquema de corrupção na gestão Celso Daniel
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (1º) a 27ª fase da Operação Lava Jato, batizada de "Carbono 14". Ao longo do dia, a PF cumpre 12 mandados judiciais, sendo dois de prisão preventiva, dois de condução coercitiva e oito de busca e apreensão.
Um dos alvos dos mandados de prisão é o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal "Diário do Grande ABC", em Santo André (Grande São Paulo, onde a PF cumpre mandado de busca e apreensão.
Em novembro, Ronan --que também é proprietário da Expresso Nova Santo André, empresa de transporte coletivo-- já havia sido condenado a 10 anos e quatro meses de prisão por participação em um esquema de desvio de dinheiro de transportes na Prefeitura de Santo André entre 1999 e 2001. Ele recorreu e aguardava em liberdade.
O escândalo veio à tona após a morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em 18 de janeiro de 2002. Ele era apontado como provável coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
Segundo o Ministério Público Federal, as investigações da Lava Jato constataram que o pecuarista José Carlos Bumlai, que firmou um acordo de delação premiada, contraiu um empréstimo fraudulento junto ao Banco Schahin em outubro de 2004 no valor de R$ 12 milhões para quitar dívidas do PT.
O empréstimo foi pago quando a Petrobras contratou o banco como operador de um navio-sonda a custo de US$ 1,6 bilhão (em valores atuais).
Dos R$ 12 milhões de Bumlai, pelo menos R$ 6 milhões foram destinados justamente a Ronan Maria Pinto a pedido do PT, de acordo com as investigações.
Segundo a "Folha de S.Paulo", em sua delação, Bumlai relatou aos policiais que o PT de Santo André estava sendo chantageado por Ronan e que o valor foi destinado ao empresário era para ele não contar o que sabia sobre o caixa dois do diretório local e a relação desses recursos com o assassinato do prefeito Celso Daniel.
"Para fazer os recursos chegarem ao destinatário final, foi arquitetado um esquema de lavagem de capitais, envolvendo Ronan, pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores e terceiros envolvidos na operacionalização da lavagem do dinheiro proveniente do crime contra o sistema financeiro nacional", diz nota do Ministério Público.
Para que o dinheiro alcançasse o empresário, segundo o MPF, "há provas” de que o pecuarista utilizou o frigorífico Bertin e um empresário do Rio de Janeiro com intermediários, até que os valores chegassem à Expresso Nova Santo André.
"Dentre as pessoas indicadas para recebimento dos valores por Ronan, estava o então acionista controlador do Jornal Diário do Grande ABC, que recebeu R$ 210.000 em 9 de novembro de 2004. Na época, o controle acionário do periódico estava sendo vendido a Ronan Maria Pinto em parcelas de R$ 210.000. Suspeita-se que uma parte das ações foi adquirida com o dinheiro proveniente do Banco Schahin”, explica o comunicado do MPF.
A compra de ações consta na declaração de imposto de renda de 2005 (referente a 2004) de Ronan Maria Pinto, também segundo o MPF.
Outro lado
Em nota, a assessoria de imprensa do Ronan disse que o empresário reafirma não ter "relação com os fatos mencionados" e que está "sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas".
O texto diz ainda que "há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava Jato."
Procurados pelo UOL, os advogados de Delúbio Soares e Silvio Pereira, assim como a assessoria do PT, ainda não se manifestaram sobre o caso
Irmão de Celso Daniel
Em entrevista à rádio "Jovem Pan", Bruno Daniel, irmão de Celso, afirma que a Lava Jato poderá trazer respostas para o assassinato: “Eu acho que a Lava Jato avança e a gente tem a expectativa que haja esclarecimentos em relação a tudo o que aconteceu com meu irmão e outras pessoas que foram mortas depois dele”.
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