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Coordenador da Lava Jato compara corrupção a tentar tirar água de inundação com balde

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol - Rodolfo Buhrer/Reuters
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol Imagem: Rodolfo Buhrer/Reuters

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

06/05/2016 17h56

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirma que a investigação chegou a um momento-chave, ao atingir um núcleo político após a prisão do ex-senador Gim Argello (PTB-DF). “Não podemos generalizar e afirmar que todos os políticos são corruptos. Existem políticos honestos, mas as condições do Brasil favorecem a corrupção. Precisamos de reformas judiciais e políticas, diminuindo o ambiente propício à corrupção”, analisou ele, durante entrevista em que detalhou a denúncia contra o ex-parlamentar e outras 19 pessoas.

"O envolvimento de pessoas de tamanha importância na nossa República em corrupção é comparado a uma inundação que atinge nossas casas e tentamos tirar a água com balde, mas não é suficiente", avaliou o procurador.

De acordo com Dallagnol, houve aumento da pressão percebida e, mais do que isso, de ações voltadas a dificultar o trabalho da Lava Jato, como por exemplo a Medida Provisória 703/2015, que foi discutida no último dia 3 no Senado Federal, buscando alterar algumas regras. “Muitas dessas mudanças não têm sentido fora do contexto da Lava Jato”, diz Dallagnol.

Ele disse que, entre as 57 delações premiadas homologadas, 38 foram feitas enquanto os colaboradores estavam em liberdade. "Isso demonstra que não existem pressões em acordos de delação", afirmou, sobre as críticas de que a Lava Jato estaria deixando investigados na prisão por mais tempo para estimular as delações.

Entre as modificações, encontram-se alterações da negociação dos acordos de leniência e até mesmo isenção total de multa para empresas que assinarem os acordos com o governo em meio a uma investigação, podendo participar de contratos de administração pública. A relatoria é dos senadores Paulo Teixeira (PT-SP) e Gleisi Hoffmann (PT-PR).

De acordo com Dallagnol, as críticas estão sendo feitas de forma repetida, visando criar um clima contrário à operação. Ele afirma que a força-tarefa já passou por momentos críticos, especialmente quando denunciou grandes empreiteiras.

“Agora acontece a mesma coisa em relação a políticos. Antes, ainda tínhamos pessoas que precisavam de acordos de colaboração e, agora, essas portas estão se fechando. A diferença é que empreiteiros não têm poder político para mudar as regras do jogo”, diz.

A principal maneira de responder às denúncias, conforme o responsável pela Lava Jato, é continuar com o apoio da sociedade. “Se o apoio da sociedade não existir, teremos dificuldade em manter essa investigação”, diz.