Denúncia contra Lula é justa, mas tem interesse eleitoral, avalia Safatle
A denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro é justa, mas "eleitoralmente interessada", avalia o professor de filosofia da USP (Universidade de São Paulo) Vladimir Safatle.
"Aqueles que aplaudem a ação defendem que Lula fez a escolha de prática política e agora recebe as consequências pela complacência com o modo de governar baseado na corrupção. Já os que criticam apontam a ação como sendo eleitoralmente interessada. Mas ambos os lados têm razão", afirma Safatle.
O professor da USP defende o indiciamento do ex-presidente, contudo acrescenta ser necessário expandir as investigações a outros partidos e governos, que "agiram igual ou pior".
Lula fez suas escolhas e paga por elas. Mas a ausência de simetria e parcialidade quebra a moralização. É muito triste, inclusive, ver moralidade sendo usada de forma tão interessada."
Para ele, o pior inimigo da moralidade é a ausência da reciprocidade. "Como diz o velho Aristóteles, a boa política é formada por três princípios: equidade, proporcionalidade e reciprocidade. Mas não é algo que estamos vendo acontecer e isso é muito ruim", relata o filósofo.
Segundo Safatle, a verdadeira justiça seria aquela que não se restringe a um único lado da política.
Eleições de 2018
Na opinião dele, o indiciamento tem como principal foco as eleições de 2018. "Após o impeachment de Dilma, era preciso banir a principal ameaça de 2018, e as chances do ex-presidente ganhar a disputa são enormes. Isso era uma crônica de morte anunciada", aponta o filósofo, que acrescenta a possível inviabilidade do petista na disputa eleitoral pela Lei da Ficha Limpa.
Sobre o efeito do avanço do processo contra Lula nas eleições municipais, o professor da USP considera que "o que vamos ver nessas eleições são os brasileiros votando por exclusão, não mais por convicção."
Para ele, o Partido dos Trabalhadores perdeu a "capacidade de fazer a sociedade sonhar com um país diferente".
A principal lição para esquerda brasileira é a consequência de quando se abre mão do comprometimento político. Ela se rendeu à corrupção sistemática vista como condição para governabilidade."
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