Quadrilha de Cabral tinha secretários de governo e amigos, diz MPF
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral foi preso na quinta-feira (17) por suspeitas de chefiar uma quadrilha para o recebimento de propinas de construtoras responsáveis pela execução de obras contratadas pelo governo fluminense. Junto com ele, outras nove pessoas acabaram detidas pela Polícia Federal por supostamente integrarem a organização criminosa montada por Cabral.
Entre os presos, estão dois ex-secretário de governo --Wilson Carlos e Hudson Braga-- e amigos do ex-governador --Carlos Miranda e Carlos Bezerra. Saiba o que as investigações do MPF (Ministério Público Federal) apontam contra cada um dez presos, inclusive contra Cabral:
Sérgio Cabral
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral é o protagonista do esquema de propina que, segundo o MPF, movimentou mais de R$ 220 milhões ao longo dos oito anos que ele esteve à frente do Executivo fluminense. Entre 2007 e 2014, ele ganhou uma espécie de "mesada" de empreiteiras que atuavam em grandes obras no Estado. Além disso, recebeu indevidamente 5% dos valores dos contratos firmados pelo governo com essas empresas.
Cabral teria se preocupado em ocultar a origem dos recursos ilícitos. Por esse motivo, recebeu como propina obras de arte, minibuggies, eletrodomésticos e até vestidos de festa para a então primeira-dama, Adriana Ancelmo. Parte dos objetos adquiridos com dinheiro de propina foi apreendida pelos agentes da Polícia Federal.
O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa de Cabral, que não se pronunciou. A reportagem também ligou para o celular de um advogado do ex-governador, mas ninguém atendeu. Foram enviadas mensagens para esse celular assim como e-mails para o advogado, mas nenhuma resposta foi enviada. O diretório fluminense do PMDB informou que não iria comentar.
Wilson Carlos
Wilson Carlos é amigo de Cabral foi secretário de Governo nos dois mandatos do ex-governador. Antes disso, já havia trabalhado para Cabral quando ele ainda era deputado estadual e senador.
Carlos é suspeito de ser um “operador administrativo” da quadrilha montada para o recebimento de propina. Foi preso de forma preventiva em seu apartamento, na zona sul do Rio. De acordo com o MPF, o ex-secretário de Cabral era quem organizava o pagamento das propinas pagas ao ex-governador.
Carlos fixava os valores que deveriam ser repassados a Cabral por empreiteiras contratadas pelo governo. Ainda apresentava a representantes das companhias quem faria a coleta dos pagamentos indevidos.
Ele também é suspeito de ser proprietário de uma mansão em Mangaratiba localizada no mesmo condomínio em que Cabral mantém uma propriedade. O imóvel nunca foi declarado por Carlos à Receita Federal. O UOL não conseguiu entrar em contato com a defesa de Wilson Carlos.
Hudson Braga
Hudson Braga é outro integrante da equipe de governo de Cabral preso preventivamente suspeito de ser um dos mais importantes membros da quadrilha montada pelo ex-governador para o recebimento de propinas. Braga foi subsecretário da Secretaria Estadual de Obras na gestão Cabral. Na época, ele era subordinado a Luiz Fernando Pezão, então vice-governador que acumulava o cargo de secretário de Obras. Em 2013, Cabral renunciou ao governo. Pezão virou governador e Braga assumiu a secretaria.
De acordo com as investigações, Braga seria o segundo “operador administrativo” da quadrilha. Segundo o MPF, era ele quem organizava e cobrava o pagamento da chamada “taxa de oxigênio” cobrada pela Secretaria de Obras em cada grande projeto do governo estadual. Essa taxa correspondia a 1% do valor de obras executadas pelo Estado.
Braga ainda é suspeito de lavar o dinheiro recebido por meio de propina por meio de contratos fictícios firmados com algumas de suas empresas e por meio da compra de bens de luxo não declarados. O MPF suspeita que Braga seja dono de uma lancha Retcha e de um helicóptero.
O UOL entrou em contato com o escritório que representa Hudson Braga em outro processo na Justiça Federal, sobre improbidade administrativa, mas não conseguiu localizar nenhum advogado do ex-secretário.
Carlos Miranda
Presos preventivamente, Carlos Miranda era próximo ao ex-governador, de acordo com o MPF. Ele é amigo de Cabral e foi sócio dele SCF Comunicações e Participações Ltda.
Por conta dessa proximidade, Miranda é descrito em delações como a pessoa indicada pelo próprio Cabral para o recolhimento das propinas destinadas ao ex-governador. Miranda ia pessoalmente em escritórios de construtoras para receber os pagamentos. Era um “operador financeiro” da quadrilha.
O UOL não conseguiu entrar em contato com Miranda ou seus advogados de defesa. Nas empresas das quais Miranda é sócio, ninguém atendeu aos telefonemas da reportagem.
Carlos Bezerra
Carlos Bezerra é outro suposto “operador financeiro” da quadrilha montada por Cabral preso preventivamente. Ele também seria um dos responsáveis pelo recolhimento e distribuição de propinas pagas por empreiteiras a diferentes membros do governo do Estado. Além disso, faria a contabilidade paralela dos pagamentos ilícitos.
Bezerra já foi assessor especial da Secretaria de Estado da Casa Civil durante o governo Cabral. Também trabalhou em campanhas eleitorais do ex-governador. Além disso, é descrito pelo MPF como amigo íntimo do político. Bezerra aparece, inclusive, em fotos tiradas em festas ao lado do ex-governador e sua mulher.
O UOL não conseguiu entrar em contato com Bezerra.
José Orlando
José Orlando é apontado pelas investigações como “operador financeiro" braço-direito de Hudson Braga, outro suspeito de integrar a quadrilha. Orlando foi chefe de gabinete de Braga enquanto ele trabalhava na Secretaria Estadual de Obras. Mantinha o contato com empreiteiras para que os pagamentos ilícitos fossem feitos nos prazos acordados. Foi preso preventivamente.
Em e-mails interceptados por investigadores, Orlando cobrou empreiteiros quanto a atrasos no pagamento de “caixinhas”: “O prazo dos senhores esgotou hoje e nenhum de vocês dois me trouxe nada”, escreveu.
O UOL não conseguiu entrar em contato com Orlando ou seus advogados.
Wagner Jordão
Wagner Jordão é outro “operador financeiro” da quadrilha ligado ao ex-secretário Hudson Braga. João foi citado em delações como sendo outro responsável pelo recolhimento e distribuição do 1% de propina paga por empreiteiras à Secretaria Estadual de Obras para o custeio da chamada “taxa de oxigênio”.
Um executivo da Andrade Gutierrez chegou a entregar à Justiça uma planilha de pagamento de propinas feitos a Jordão, que foi preso preventivamente. De 2005 a 2016, Jordão, que chegou a trabalhar na Secretaria de Obras, teria recebido em sua conta bancária mais de R$ 2,2 milhões depositados em espécie.
O UOL entrou em contato com o escritório do advogado Ricardo Freitas Pereira, que defende Wagner Jordão Garcia. Segundo o funcionário que atendeu a ligação, Pereira não foi estava no local. A reportagem deixou seus contatos com o funcionário para que o advogado retornasse o contato, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Luiz Paulo Reis
Preso preventivamente, Luiz Paulo Reis é apontado como possível “testa de ferro” de Hudson Braga. De acordo com as investigações, ele é sócio do ex-secretário de Obras em diferentes empresas. Uma delas é um posto de combustível. Outra é uma companhia de construção civil.
Reis teve uma conversa com Braga interceptada por investigadores. Nela, ele trata de uma lancha Retcha com ex-secretário. O MPF suspeita que essa lancha pertença a Braga apesar de ele nunca ter declarado a propriedade do veículo à Receita.
O UOL não conseguiu entrar em contato com Reis ou sua defesa.
Paulo Fernando
Assessor de Cabral no governo entre 2007 e 2014, Paulo Fernando é apontado pelo MPF como um dos "operadores financeiros" da organização criminosa. Ele teria sido utilizado como "laranja" de Cabral, e os dois estariam em "situação de lavagem e ocultação de ativos". Sócio de muitas empresas, alugou um escritório no Leblon por R$ 42 mil mensais, espaço que teria sido cedido gratuitamente para uso de Cabral e de sua empresa. A cessão representaria, segundo o MPF, uma vantagem financeira superior a R$ 1 milhão. Cinco meses atrás, as duas empresas passaram a dividir formalmente o valor do aluguel.
Além disso, Luciana Rodrigues, assessora do ex-governador, era contratada desde 2014 por uma empresa de Paulo Fernando, sendo regularizada como empregada da "Objetiva" apenas em setembro desse ano. Uma lancha avaliada em R$ 5 milhões e um helicóptero --vendido a uma empresa americana há dois meses e meio-- também estavam registrados em nome de uma empresa do ex-assessor de Cabral, mas pertenceriam "de fato" ao ex-governador, segundo as investigações. Preso temporariamente, Paulo Fernando também teve ativos e bens bloqueados e foi alvo de mandado de busca e apreensão.
Em nota, o escritório Fragoso Advogados, responsável pela defesa de Paulo Fernandes Magalhães Pinto, diz que seu cliente "refuta veementemente a suposição de que seria 'laranja' de Sérgio Cabral". Segundo o comunicado, a lancha citada "pode ter sido emprestada a Cabral em raras ocasiões", sendo "descabida a suposição de que a lancha pertenceria ao ex-governador."
Já o helicóptero "nunca foi usado" por Cabral, afirma a defesa. Segundo a nota, a lancha pertence à família Magalhães Pinto Gonçalves. O helicóptero também era da família, mas foi vendido há alguns meses, diz a defesa. Os advogados dizem ainda que seu cliente e Cabral são colocatários de um conjunto de salas alugadas, após o fim do governo, para empresas de Magalhães Pinto.
Alex Sardinha
Autor de mensagem de e-mail obtida por decisão judicial de quebra de sigilo e enviada a um dos “operadores financeiros” da quadrilha investigada, Alex Sardinha se apresentou em nome da Construtora Oriente e encaminhou relatório detalhado do que seria uma prestação de contas da propina (“taxa de oxigênio”) devida pela empreiteira à organização criminosa, que estaria instalada na Secretaria Estadual de Obras do Rio.
O juiz disse reconhecer a existência de indícios de que ele participa ou participou de acordos criminosos “da mesma natureza” dos do grupo supostamente chefiado por Cabral. Decidiu, portanto, decretar a sua prisão temporária, justificando que “sua permanência em liberdade representa o efetivo risco de que reiteração delituosa”.
No site da Associação de Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro, Alex Sardinha da Veiga é listado como representante da Oriente Construção Civil. Uma funcionária da empresa disse ao UOL que nenhum representante da companhia poderia comentar a prisão dele e não poderia passar adiante nenhum contato da defesa de Veiga.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.