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"Um helicóptero depois do outro", diz piloto que levava Cabral e família a Mangaratiba

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

21/02/2017 17h30

Piloto do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) durante o seu primeiro mandato, André Benvenuti Alcântara afirmou em depoimento prestado nesta terça-feira (21) que levava o peemedebista, familiares, amigos e funcionários da família da capital fluminense para Mangaratiba com frequência. 

"Me mandavam levar, e eu levava", disse o piloto, que hoje trabalha na Polícia Civil do Estado. Segundo Alcântara, havia três helicópteros à disposição do governador. Em alguns momentos, disse, as aeronaves chegavam a decolar com dez minutos de diferença. "Acontecia de sair um helicóptero um pouco depois do outro."

A gente levava para Mangaratiba os filhos, a esposa, babá...

André Benvenuti Alcântara, ex-piloto de Sérgio Cabral

O piloto foi ouvido como testemunha em uma ação popular que apura se houve excessos no uso de helicópteros durante o mandato do Cabral no governo estadual. Preso desde novembro, o ex-governador prestou depoimento por videoconferência e afirmou que usava as aeronaves para se deslocar até a sua casa em Mangaratiba nos fins de semana por "questões de segurança".

"Toda semana chegavam denúncias, não só contra mim, mas contra a minha família. [o uso do helicóptero] Era uma recomendação do gabinete da subsecretaria do gabinete militar por questões de segurança”, afirmou.

Cabral afirmou que, antes dele, todos os governadores faziam uso dos helicópteros do governo e disse que foi o “primeiro governador a estabelecer regras” para o uso das aeronaves.

“O Brizola usava o helicóptero, outros governadores, não havia nenhuma determinação legal no sentido do uso dos helicópteros.”

Além de Cabral e Alcântara, foram ouvidos dois subsecretários que trabalhavam na seção de operação dos voos. Também presa, a mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, foi dispensada pela defesa. 

Cabral e a mulher estão presos preventivamente por força de mandados expedidos nas operações Calicute, Eficiência e Lava Jato, suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.

cabral depô - Márcio Mercante/Estadão Conteúdo - Márcio Mercante/Estadão Conteúdo
Cabral presta depoimento nesta terça em uma ação popular que apura se houve excessos no uso de helicópteros durante o mandato do peemedebista
Imagem: Márcio Mercante/Estadão Conteúdo

Os mandados foram expedidos pelos juízes Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no Rio, e Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba.

"Considerando a repercussão do caso, bem como o fato de que o réu e a informante encontram-se presos, a audiência deverá ser realizada por videoconferência", justificou a juíza Luciana Losada Albuquerque Lopes, da 8º Vara de Fazenda Pública.

Autor da ação, o procurador aposentado Cosmo Ferreira questionou as declarações de Cabral. "Levar babá, amigos, não é possível. Questão de segurança não faz sentido. Se ele corria riscos, o mais prudente é que não fosse para Mangaratiba", afirmou.

Ele pede o ressarcimento aos cofres públicos dos valores gastos em viagens de helicóptero feitas em caráter pessoal por Cabral quando ainda era governador.

Sem concorrente

Reportagem publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em 2013 revelou que apenas uma empresa, a offshore Synergy Aerospace Inc, sediada no Panamá e com capital social de US$ 10 mil, foi considerada habilitada na licitação que terminou com a venda ao Estado do Rio do helicóptero Agusta AW109 Grand New, avaliado em quase US$ 10 milhões (cerca de R$ 30 milhões, pelo câmbio atual), usado por Cabral em seus deslocamentos.

O então governador usava o aparelho sob alegação de medida de segurança. O processo de licitação para compra da aeronave foi obtido pela reportagem do jornal por meio da Lei de Acesso à Informação.

Quinta denúncia

Cabral foi alvo de uma quinta denúncia desde que foi preso, apresentada nesta terça pelo MPF (Ministério Público Federal) à 7ª Vara Federal. Além do peemedebista, o ex-assessor da Casa Civil do governo do Rio Ary Filho e o operador Carlos Miranda foram denunciados pelo crime de lavagem de dinheiro.

De acordo com o MPF, a denúncia é resultado da Operação Mascate e aponta que serviços de consultoria e aquisição de veículos e imóveis teriam sido simulados para lavar recursos ilícitos.

Os 148 crimes de lavagem de dinheiro pelos quais os três foram denunciados foram descobertos a partir de colaboração premiada na qual foram apresentadas provas de transações no valor de R$ 10,17 milhões, ocorridas entre 30 de agosto de 2007 e 28 de setembro de 2015.