Odebrecht depõe ao TSE e pode confirmar caixa 2 à chapa Dilma-Temer
O empreiteiro Marcelo Odebrecht prestou depoimento nesta quarta-feira como testemunha na ação movida pelo PSDB no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O tribunal começou hoje a colher depoimentos de delatores da Odebrecht na ação em que investiga se a chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer cometeu abuso de poder político e econômico nas eleições presidenciais de 2014 - ação que poderá levar à cassação do presidente Temer e à inelegibilidade da ex-presidente Dilma.
Marcelo Odebrecht foi ouvido numa sala de reuniões. Dentro, estavam ele, os advogados dele, de Dilma e de Temer, o ministro do TSE, Herman Benjamin, e um auxiliar. Os advogados do PSDB, partido que move a ação no TSE, não foram localizados pela reportagem. O depoimento foi gravado em áudio e vídeo.
Em pelo menos um depoimento, a Odebrecht descreve uma doação ilegal de cerca de R$ 30 milhões à coligação Com a Força do Povo, que reelegeu Dilma e Temer em outubro de 2014. O valor representa cerca de 10% do total arrecadado oficialmente pela campanha. Se Marcelo confirmar a doação, tanto Dilma como Temer seriam implicados.
Entre as prováveis questões ao depoente, estão o suposto uso de dinheiro pago como propina pela empreiteira em contratos com a Petrobras como caixa 2 da campanha à Presidência de Dilma e Temer e a afirmação do ex-diretor de Relações Internacionais da empreiteira, Cláudio Melo Filho, de que Temer teria negociado pessoalmente um pagamento de R$ 10 milhões ao PMDB em 2014.
Por determinação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o teor do depoimento de Odebrecht ao TSE é sigiloso até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida se cabe ou não segredo sobre o conteúdo das 77 delações firmadas por executivos da empreiteira. O depoimento ocorre na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, em Curitiba.
Chegada de Odebrecht ao TSE tem protesto
Após deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Marcelo Odebrecht chegou em uma viatura descaracterizada da Polícia Federal para prestar depoimento. Para evitar o assédio de jornalistas e curiosos que se aglomeram diante da sede do tribunal, o comboio entrou pela garagem.
Do lado de fora do TRE-PR, quatro manifestantes gritam palavras de ordem e tocam músicas --numa estridente caixa de som-- de exaltação ao juiz Sergio Moro e à Lava Jato. "Odebrecht, o que se espera de um príncipe é que ela fale toda a verdade", diz, num megafone, uma das manifestantes, fazendo referência ao apelido que o empresário ganhou de colegas de detenção na carceragem da Polícia Federal.
TSE deve ouvir outros 4 delatores
Benedicto Barbosa da Silva, ex-presidente da construtora Norberto Odebrecht, e Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, darão depoimento na quinta-feira, 2, no Rio de Janeiro. Na segunda-feira, em Brasília, será a vez dos ex-diretores de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho e Alexandrino Alencar deporem.
O relator da ação de investigação judicial eleitoral (AIJE), ministro Herman Benjamin, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, estará presente em todas as oitivas. Ao decidir ouvir os delatores, Herman busca robustecer o seu relatório, que já estava em fase final de preparação.
Contas de campanha
Em dezembro de 2014, as contas da campanha da então presidenta Dilma Rousseff e de seu companheiro de chapa, Michel Temer, foram aprovadas com ressalvas pelo TSE. No entanto, o processo foi reaberto porque o PSDB questionou a aprovação, por entender que há irregularidades nas prestações de contas apresentadas por Dilma. Segundo entendimento do TSE, a prestação contábil do presidente e do vice-presidente é julgada em conjunto.
A campanha de Dilma Rousseff nega qualquer irregularidade e sustenta que todo o processo de contratação das empresas e de distribuição dos produtos foi documentado e monitorado. No início do mês, a defesa do presidente Michel Temer sustentou no TSE que a campanha eleitoral do PMDB não tem relação com os pagamentos suspeitos. De acordo com os advogados, não se tem conhecimento de qualquer irregularidade no pagamento dos serviços.
*Com informações da Agência Estado e da Agência Brasil
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