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Barusco passou 'bastão da propina' para sucessor na Petrobras, diz Lava Jato

Pedro barusco - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Pedro Barusco foi um dos primeiros a fechar acordo de delação, em 2014
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

28/03/2017 11h45Atualizada em 28/03/2017 16h29

Réu em seis processos na Operação Lava Jato e já condenado em três, o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco passou o “bastão da propina” para seu sucessor no cargo, disse o procurador da República Roberson Pozzobon. Barusco, que cumpre prisão domiciliar, tem relação com Roberto Gonçalves, principal alvo da 39ª etapa da Lava Jato, realizada nesta terça-feira (28). Gonçalves teria sido destinatário de mais de US$ 5 milhões em propinas

"Quando Pedro Barusco saiu do cargo e foi para a Sete Brasil [empresa de investimentos investigada na Lava Jato], ele foi sucedido por Roberto Gonçalves. E, na sucessão do cargo, também se passou o bastão da propina", disse Pozzobon.

"Barusco conversou com executivos da UTC, da Odebrecht, e falou: ‘Olha, a partir de agora, quem vai receber propina em favor da gerência de Engenharia da Petrobras será Roberto Gonçalves. Conversem com ele’”, declarou Pozzobon.

16.nov.2015 - O ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves já havia sido preso em novembro de 2015 - 16.nov.2015 - Geraldo Buniak/AG/Estadão Conteúdo - 16.nov.2015 - Geraldo Buniak/AG/Estadão Conteúdo
O ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves já havia sido preso em novembro de 2015
Imagem: 16.nov.2015 - Geraldo Buniak/AG/Estadão Conteúdo

Barusco foi um dos primeiros a fechar acordo de delação na Lava Jato, ainda em 2014. Ele se comprometeu a devolver US$ 97 milhões aos cofres públicos.

Gonçalves, gerente da área de Engenharia da Petrobras entre março de 2011 e maio de 2012, foi preso preventivamente pela PF (Polícia Federal) na manhã desta terça-feira em Boa Vista.

Em setembro do ano passado, Gonçalves foi indiciado pela PF por corrupção, fraude a licitação e organização criminosa. Em novembro de 2015, ele já havia sido preso no âmbito da 20ª etapa da Lava Jato. Segundo a força-tarefa, na época, o "arcabouço probatório era bem menor".

Ele recebeu US$ 1,2 milhão em propinas, segundo o MPF (Ministério Público Federal), em pagamentos feitos por Ricardo Pessoa, diretor da UTC Engenharia, e Mario Goes, operador financeiro e intermediário entre executivos e agentes públicos. Pessoa e Goes confirmaram o repasse em depoimentos à Lava Jato.

"E foi nesse sentido [de repassar a propina ao novo gerente] que Goes passou a fazer pagamentos em dinheiro a Roberto Gonçalves e também via remessas no exterior”, disse Pozzobon.

Corrupção 'intergeracional'

Para o procurador da República, um fato que chama a atenção é “uma sucessão de pessoas não apenas no cargo de gerente de engenharia da Petrobras, mas também no recebimento das propinas”.

"Passados três anos de Lava Jato, verificou-se que a corrupção é intergeracional. Ela passa de geração em geração e, infelizmente, de pai para filho”, comentou Pozzobon.

Pozzobon diz que havia "um certo direito adquirido à propina". "Mesmo após os funcionários corrompidos saírem da estatal, eles continuavam recebendo por um, dois ou três anos valores das empresas corruptoras quando não tinham qualquer influência. E hoje nós vemos como uma verdadeira herança a propina”.

'Paralelo'

A 39ª fase da Lava Jato, chamada de "Paralelo", evidencia "a sofisticação dos esquemas de lavagem de dinheiro utilizados para o pagamento de propina decorrente de contratos da Petrobras", segundo a força-tarefa da operação. O principal alvo da etapa é Gonçalves.

De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), Gonçalves teria recebido US$ 1,2 milhão em propinas. O valor foi pago por Ricardo Pessoa, diretor da UTC Engenharia, e Mario Goes, operador financeiro e intermediário entre executivos e agentes públicos, segundo os procuradores. Pessoa e Goes confirmaram o repasse em depoimentos à Lava Jato.

De acordo com informações obtidas pela Lava Jato, uma apuração interna da Petrobras considerou Gonçalves responsável por “parte das irregularidades encontradas nas licitações e contratos do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), como a contratação direta, em 2011, do consórcio TUC, formado, dentre outros, pela Odebrecht e pela UTC Engenharia”, disse o MPF.

Movimentações no exterior

Na Suíça, Gonçalves também é investigado. Segundo as autoridades do país, foram identificadas cinco contas bancárias no país relacionadas ao ex-gerente.

“Uma delas está registrada em nome da offshore Fairbridge Finance AS, que tem Roberto Gonçalves como beneficiário final”, segundo o MPF.

Apenas em 2011, essa conta recebeu cerca de US$ 3 milhões de outras offshores, estas ligadas ao departamento de propinas da Odebrecht.

Outra conta, da offshore Silverhill Group Investment Inc. --que também tem Roberto Gonçalves como beneficiário final--, recebeu, somente em 2014, mais de US$ 1 milhão provenientes da conta em nome da offshore Drenos Corporation, vinculada a Renato Duque, ex-diretor da Petrobras.

A conta de Duque foi “abastecida por valores oriundos da conta em nome da offshore Opdale Industries, que tem por beneficiário final Guilherme Esteves de Jesus, acusado de ter intermediado propinas em contratos da Petrobrás para o Estaleiro Jurong”, de acordo com o MPF.

Gonçalves, segundo documentos obtidos pelas autoridades suíças, transferiu, em abril de 2014, parte do saldo da conta da Fairbridge Finance SA para outras na China e nas Bahamas.

“Essa conduta demonstra, além da reiteração de crimes de lavagem de dinheiro, o propósito de impedir o bloqueio dos ativos criminosos e frustrar a aplicação da lei penal”, diz o MPF, que considera que, “apesar da tentativa de esconder o patrimônio, ainda foi possível o sequestro de mais de US$ 4 milhões de conta ligada a Roberto Gonçalves”.

Segundo os procuradores, a prisão de Gonçalves foi pedida em função da prática de várias condutas de ocultação de dinheiro ilícito por Roberto Gonçalves, com nível significativo de sofisticação, é indicativo de “prática criminal em série, de caráter habitual”.

Outros mandados

A Justiça também expediu cinco mandados de busca e apreensão contra Miguel Júlio Lopes e Gildo Justino do Prado, sócios da corretora de valores Advalor. De acordo com a Lava Jato, eles estariam ligados a esquemas de lavagem de dinheiro e ao pagamento de vantagens indevidas a funcionários da Petrobras, como Gonçalves.

Goes, Barusco e Eduardo Musa, ex-gerente da área Internacional da Petrobras, “afirmaram que se valeram dos serviços da Advalor para receber vantagens indevidas provenientes de contratos da Petrobras”, segundo o MPF.

Entre 2010 e 2014, a Advalor movimentou mais de R$ 6 milhões de Barusco, Gonçalves, Goes, além do ex-funcionário da Petrobras Celso Araripe e do ex-executivo da Odebrecht Rogério Araújo.

“Assim, as medidas de busca e apreensão representam o aprofundamento das investigações, com vistas à coleta de provas sobre essas movimentações financeiras”, diz o MPF.

Segundo a PF, a 39ª fase chamar-se Paralelo é “uma simples alusão à atuação clandestina à margem dos órgãos de controles oficiais do mercado financeiro por parte dos investigados”.

O UOL entrou em contato com a Advalor, mas o atendente informou que não havia ninguém disponível para apresentar um posicionamento da empresa a respeito da operação desta terça.

A defesa de Roberto Gonçalves disse que foi surpreendida com a prisão. "Meu cliente estava visitando parentes em Boa Vista, Roraima", disse o advogado James Walker Júnior. "Ainda não tivemos acesso aos autos e a todo conteúdo que motivou o decreto prisional". Walker irá a Curitiba para conversar com seu cliente.

A reportagem aguarda o posicionamento da defesa do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco.