Para evitar retaliação, Odebrecht fez pagamentos a Moreira Franco, diz delator
O delator Benedicto Barbosa da Silva Júnior disse que autorizou o pagamento de R$ 4 milhões ao atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco (PMDB), por ele ser uma pessoa próxima ao presidente Michel Temer e para evitar uma "retaliação na área da aviação caso pedido não fosse atendido".
Um dos oito ministros do governo Temer alvos de inquérito nesta rodada da Lava Jato, Moreira Franco chefiou a Secretaria de Aviação Civil entre o período de março de 2013 a janeiro de 2015, durante o governo Dilma. De acordo com sua assessoria de imprensa, o ministro não vai se manifestar por ora sobre o assunto.
Delatores da Odebrecht afirmaram que durante reuniões realizadas no ano de 2014, Moreira Franco pediu recursos ao grupo baiano, a pretexto da campanha eleitoral realizada naquele ano. Nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, seu nome aparecia associado ao apelido "Angorá".
Conhecido como BJ, o ex-executivo Benedicto Júnior chefiou a Odebrecht Infraestrutura e era um dos principais elos do grupo baiano com o meio político. Ele afirmou, em sua delação premiada, que "autorizou o pagamento em razão de ser Moreira Franco uma pessoa muito próxima do 'núcleo duro' do governo federal, sendo um dos mais fortes representantes do PMDB ligado a Michel Temer".
Ainda em seu depoimento, o delator afirmou que "havia risco de retaliação na área da aviação caso o pedido não fosse atendido, especialmente ao Aeroporto do Galeão, em que poderiam ser criadas dificuldades, pois havia um grande conflito no setor privado da aviação".
BJ completa: "e Moreira Franco era a pessoa que podia pender para um dos lados do conflito, havendo um risco em não atender o pedido dele".
Concessão de R$ 20 bilhões
Em seu depoimento, o delator Paulo Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transporte, afirma que na época de lançamento do lançamento do edital da segunda rodada de concessões de aeroportos, durante o ano de 2013, a Odebrecht tinha "sinalizado interesse [a Moreira Franco] na manutenção de cláusulas que aumentariam suas chances na disputa."
Ainda de acordo com o delator, os pedidos da Odebrecht foram atendidos por Moreira Franco, que teria feito, em troca, o pedido de ajuda financeira ao grupo baiano.
Com as cláusulas mantidas, o consórcio liderado pela Odebrecht venceu o leilão para administrar o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, pelo valor de R$ 20 bilhões.
Ainda de acordo com a PGR, os pagamentos foram realizados pela Odebrecht ao atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que teria sido indicado por Moreira Franco.
"Dos documentos apresentados pelos colaboradores constam planilhas do sistema “Drousys” que apontam pagamento a pessoa de apelido “Primo”, em localidades que correspondem ao escritório de Eliseu Padilha", lê-se no despacho do ministro Edson Fachin, relator dos processos da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
Ainda de acordo com o MPF (Ministério Público Federal), “há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistente na solicitação por Eliseu Padilha e Moreira Franco de recursos ilícitos em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB e de Michel Temer, a pretexto de campanhas eleitorais”.
Assim como Moreira Franco, o ministro Eliseu Padilha não se manifestou a respeito da abertura de inquérito no STF. O presidente Michel Temer afirmou, em diversas ocasiões, ter pedido apoio financeiro à Odebrecht para as campanhas do partido na eleição de 2014, mas disse não ter "autorizado, nem solicitado" que as doações fossem feitas de forma irregular.
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