Propina era paga a políticos em envelope lacrado e com senha, dizem executivos da Odebrecht
Relato de executivos da Odebrecht apontam que o pagamento de propina em dinheiro vivo a políticos era feito mediante senha, em envelope lacrado. A informação consta em delações premiadas e faz parte do inquérito 4424, que autorizou investigação contra o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Vital do Rêgo.
Segundo o inquérito, para pagamento de propina, havia a marcação de um local e horário, e o intermediário das autoridades recebiam uma senha --que teria que ser apresentada pelo intermediário.
"De acordo com o procedimento narrado pelo colaborador para repasse da propina, em cerca de dois dias antes da data da entrega, a equipe de HILBERTO SILVA entregava, por meio de portadores diversos, a Sérgio Machado [ex-diretor da Transpetro] envelope lacrado contendo o endereço, senha e horário da entrega dos valores", afirma o inquérito.
Hilberto era o responsável pelo chamado Setor de Operações Estruturadas, que seria o departamento responsável pelo pagamento de propinas e doações paralelas, o caixa 2.
Sergio Machado, diz o diretor, não costumava dar detalhes sobre quem seriam os beneficiários dos pagamentos, mas teria pedido diretamente para a campanha ao Senado, em 2014, de Vital do Rêgo.
O inquérito aponta que o então senador da Paraíba Vital do Rêgo (PMDB) recebeu doações por meio do caixa 2.
Segundo depoimento de José de Carvalho Filho (diretor de Relações Institucionais da Odebrecht), Vital teria solicitado --e recebido-- uma doação de R$ 350 mil, em 2014. O pedido fora informado a ele por outro diretor do grupo, Fernando Reis, da Odebrecht Ambiental.
"[Vital teria] apresentado um assessor dele e depois passado a senha e o endereço de entrega para ele", informou.
Para o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Janot, a conduta "não se trata de mera doação eleitoral irregular" e "pode configurar verdadeiro ato de corrupção com um lastro de dependência entre recebedor e doador."
"Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação indevida em razão da função pública que se almeja ou que ocupa, a pretexto de campanha eleitoral, sem qualquer comprovação de que os valores foram efetivamente utilizados na campanha eleitoral. Por essa razão, há fortes indícios de que se está diante de crimes graves que precisam ser minuciosamente investigados", justifica no inquérito.
Em nota, Vital alega que "desconhece os fatos narrados" pelos delatores, chama de "falsas acusações" e diz que nunca negociou doações irregulares.
"Ele nunca teve relação de proximidade com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e está à disposição da Justiça para os esclarecimentos necessários", informa.
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