Lula diz que "quem marca data é Moro" e que não há provas contra ele
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na tarde desta segunda-feira (24) que o eventual adiamento do depoimento ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, previsto para o dia 3 de maio, "não é problema meu" e que "quem marca [a data do depoimento] é o juiz Moro".
"Eu não marquei dia 3 e nem desmarquei dia 3. A hora que for marcado o meu depoimento, eu estarei em Curitiba ou onde quer que seja, porque dentre todos, do Ministério Público, do Poder Judiciário e da imprensa, quem deseja a verdade só é o companheiro Lula”, disse, apontando para si mesmo.
O ex-presidente disse ainda que quer comparecer ao depoimento por ser "a primeira grande oportunidade em que eu não vou ser atacado e defendido pelas revistas, pelas televisões, pelos rádios, ou por quem quer que seja".
"Eu vou ter, de viva voz, o direito de me defender. É o direito que eu tenho de falar, porque faz três anos que eu estou ouvindo", disse, em referência aos três anos da Operação Lava Jato. "Eu estou muito tranquilo, não estou preocupado com a data. A data quem marca é o juiz Moro”, completou.
O petista participou, em Brasília, do seminário "Estratégias para a economia brasileira: desenvolvimento, soberania, inclusão", promovido pela Fundação Perseu Abramo, ao lado de outras lideranças do partido.
Lula também falou sobre o andamento das investigações contra ele. "Agora parece que a prova contra mim é um pedágio", afirmou. Na semana passada, a defesa de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, entregou à Justiça documentos para tentar comprovar que o petista foi beneficiado pela reforma de um tríplex em Guarujá (SP).
Entre eles, está o registro de que dois carros em nome do Instituto Lula passaram pelo sistema automático de cobrança dos pedágios a caminho do Guarujá entre 2011 e 2013. Não há, entretanto, informações que comprovem que as viagens tiveram como destino o apartamento no edifício Solaris.
Ainda sobre a Operação Lava Jato, Lula disse não ter "vergonha de ser político" e citou indiretamente a lista de inquéritos autorizados pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin contra 98 pessoas --entre elas 24 senadores e 39 deputados federais.
"Companheiros e companheiras, nós não nascemos para ter medo de lista. Nós nascemos para provar que eles é que estão criminalizando o que ontem eles não criminalizavam. Então é uma confusão de interesse de destruir a política desse país. E nós não temos que ter vergonha de ser políticos. Porque na hora que a política acabar, como eles querem acabar, na hora que desmoralizar todo mundo, o que vai dar nesse país é pior do nós temos agora", declarou.
"O povo está descontente com os políticos? Ótimo. Que quero que fique mais descontente, pra quando chegar nas próximas eleições votar em gente melhor. Se o cara acha que eu não presto, ótimo. Então se candidate e seja você o senador, o deputado ou o presidente. O que você acha que vai resolver o problema do país. O que não dá é você negar a política e indicar um fascista, um nazista, para ser presidente desse país", completou.
Tríplex
O petista também comentou o depoimento do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que disse que Lula era o dono de um tríplex no Guarujá.
Eu vi agora a pressão que fizeram em cima do Léo lá no depoimento, uma coisa quase que obrigando um cara que já está condenado a 26 anos de cadeia... O cara está lá condenado a 26 anos. Fala: vou falar até da minha mãe. Nós temos que ter claro como as coisas acontecem."
Lula citou uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, que exibiu, segundo ele, uma "quantidade de delatores vivendo maravilhosamente bem". "Tem uns que moram em casa com piscina, tem outros que moram com a praia atrás, tem outros que moram em condomínio que só tem desembargador juiz e tal", relatou.
"Eu acho que está chegando a hora de parar com falatório e mostrar prova. Tem que aparecer em cima do papel. Eu quero que eles mostrem um real numa conta minha fora desse país ou indevida", declarou o petista.
Ovação de petistas
Ao entrar no auditório onde acontece o evento, Lula foi recebido a gritos de "Brasil urgente, Lula presidente" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro". Antes, foi cercado por simpatizantes e posou para fotografias com alguns deles.
Anunciado antes de sentar à mesa como grande líder do partido, Lula foi saudado pelos governadores petistas do Piauí, Wellington Dias, e do Acre, Tião Vianna, como “cacique” e “irmão maior da Amazônia brasileira, respectivamente.
Além dos dois, estão sentados ao lado do ex-presidente o presidente do PT, Rui Falcão, a senadora Gleisi Hoffman (PR), líder da legenda no Senado, o deputado federal Carlos Zarattini (SP), líder da sigla na Câmara, e Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.
Durante a sua fala, Wellington Dias defendeu a candidatura de Lula nas eleições do ano que vem e foi ovacionado pelos participantes do evento, que lotaram o auditório do Centro Internacional de Convenções do Brasil, na Asa Sul da capital federal.
"Não pode ter um segundo golpe no Brasil!", repetiu três vezes o governador piauiense. "O novo golpe seria querer um tapetão. Contra a lei, impedir que um homem chamado Luiz Inácio Lula da Silva correr à Presidência da República. Aqui está em jogo a nossa honra e a nossa coragem", declarou.
A senadora Gleisi Hoffmann, por sua vez, fez menção ao que chamou de “perseguição e caça que fazem a Lula” para defender o partido. “Não baixamos a cabeça. Aqui não tem bandido. Aqui tem pessoas que podem ter errado. Mas aqui tem gente que se preocupa com o Brasil [...] Nós não pegamos a mala e viajamos para o exterior”, afirmou.
Adiamento pedido pela PF
A Polícia Federal e o governo do Paraná pediram nesta segunda à Justiça Federal do Estado que mude a data do depoimento do ex-presidente. A petição protocolada pelo governo é assinada pelo secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita de Oliveira.
No documento, Oliveira cita o "possível deslocamento de movimentos populares" para Curitiba "em virtude da semana de comemoração do Dia do Trabalhador (1º de Maio), o que pode gerar problemas de segurança pública, institucional e pessoal". Com isso, o secretário pede a Moro que avalie "a viabilidade de redesignar data e/ou local" para o depoimento de Lula.
Já o pedido feito pelo superintendente regional da PF no Paraná, delegado Rosalvo Ferreira Franco, pede a Moro apenas "mais tempo para realizar as tratativas com os órgãos de segurança e de inteligência para a audiência que será realizada."
Mais cedo nesta segunda, a "Folha de S. Paulo" noticiou que Moro já teria decidido mudar a data do depoimento para o dia 10 de maio, a pedido da PF.
Lula será ouvido como réu na ação penal em que responde por ocultação de bens. Ele é suspeito de ser o real dono de um apartamento tríplex no edifício Solaris, no Guarujá (SP), construído pela empreiteira OAS e da qual a empresa é dona no papel.
A empresa também teria pagado o armazenamento de bens do presidente entre 2011 e 2016. O valor total da vantagem indevida seria de R$ 3,7 milhões. Este valor seria decorrente de propinas de R$ 87,7 milhões obtidas via contratos da Petrobras com a OAS nas refinarias Abreu e Lima e Getúlio Vargas.
Na quinta (20), também em depoimento a Moro, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro afirmou que Lula é o real dono do imóvel. Ainda acusou o ex-presidente de pedir a ele que destruísse provas sobre pagamentos de propina ao PT. Pinheiro não apresentou provas desta declaração, nem disse se fez o que Lula teria pedido.
A defesa de Lula acusou o empreiteiro de mentir para ter sua delação premiada aceita. "Léo Pinheiro no lugar de se defender em seu interrogatório, contou uma versão acordada com o MPF como pressuposto para aceitação de uma delação premiada que poderá tirá-lo da prisão. Ele foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado tríplex do Guarujá. É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel", diz o advogado Cristiano Zanin.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.