Para "provar inocência", Aécio deixa presidência do PSDB; ministros tucanos ficam no governo
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado de sua função nesta quinta-feira pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, anunciou na tarde desta quinta-feira (18) que está deixando o cargo de presidente do PSDB. O mineiro alegou que vai se dedicar a provar sua inocência, após ser citado e gravado pelo empresário Joesley Batista em delação premiada feita à Procuradoria-Geral da República e homologada nesta quinta pelo STF.
“Em razão das ações promovidas no dia de hoje contra mim e minha família, quero afirmar que, a partir de agora, minha única prioridade será preparar minha defesa e provar o absurdo dessas acusações e o equívoco dessas medidas”, diz Aécio em nota oficial.
O senador informou que seu substituto será o colega de Senado Tasso Jereissati (CE), um dos sete vice-líderes do partido, que assume interinamente. A informação foi confirmada pelo líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), em entrevista coletiva no fim da tarde. Em nota, Tasso disse que os ministros tucanos permanecerão no governo.
"Mantendo sua responsabilidade com o país, que enfrenta uma crise econômica sem precedentes, o PSDB pediu aos seus quatro ministros que permaneçam em seus respectivos cargos, enquanto o partido, assim como o Brasil, aguarda a divulgação do conteúdo das gravações dos executivos da JBS", disse o novo presidente do PSDB em nota.
Mais cedo, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), informou que a bancada pediria que os ministros tucanos deixassem seus cargos no governo federal. O PSDB conta atualmente com quatro ministros no governo: Antonio Imbassahy (Governo), Bruno Araújo (Cidades), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Aloysio Nunes Ferreira (Relações Internacionais).
"O Tasso vai fazer uma conversa com o Temer hoje mais tarde. Mas eu acho que sair [do governo] só porque temos esse momento de dificuldade não é uma boa providência. O PSDB não tem tradição de, por notícias ruins, abandonar a missão que está cumprindo. Vamos avaliar com mais calma e com mais prudência", declarou o líder tucano no Senado, Paulo Bauer.
A decisão de Temer de não renunciar, segundo o senador, foi de foro íntimo. "A gente não pode fazer um juízo a respeito de uma decisão pessoal. E eu acredito que ele conhece exatamente os fatos que foram apontados pela Justiça ou pelo processo de delação, e ele deve ter segurança pessoal em relação ao que de fato aconteceu", disse o tucano.
Interinidade
A princípio, Tasso presidirá o partido de forma interina. "Pode ser três, quatro, seis meses, quem sabe. É o tempo que o Aécio precisa para se defender lá, né? E se tudo der certo, o Aécio volta. Se não, a gente vai ter que tomar outra providência", declarou Paulo Bauer sobre a interinidade de Tasso.
No início da tarde, Trípoli havia informado que o deputado Carlos Sampaio (SP) fora indicado pela bancada da Casa e seria o escolhido para presidir a sigla interinamente, com a anuência da bancada do Senado e do próprio Bauer.
Após o anúncio, Sampaio lembrou que ainda precisaria ter seu nome confirmado pela Executiva do PSDB, mas a parcimônia não impediu que ele fosse congratulado por colegas no Salão Verde, na Câmara.
De manhã, Edson Fachin proibiu Aécio Neves de exercer as funções de senador. Em sua decisão, o ministro impôs duas medidas cautelares ao tucano: a proibição de contatar qualquer outro investigado ou réu no conjunto de fatos revelados na delação da JBS e a proibição de se ausentar do país, devendo entregar seu passaporte.
A Procuradoria-Geral da República também pediu a prisão do tucano, mas Fachin, responsável pela Lava Jato na Corte, negou o pedido. Ao contrário do que foi informado inicialmente, o ministro tomou uma decisão monocrática, e não levará o pedido ao plenário do Supremo.
Também pela manhã, escritórios e residências de Aécio foram alvos de uma operação da Política Federal, e sua irmã, Andrea Neves, foi presa. Ela também é acusada de pedir dinheiro para Joesley Batista, um dos donos da JBS, em nome do irmão.
Em um dos trechos da gravação feita por Joesley, Aécio pede R$ 2 milhões para contratar o criminalista Alberto Toron para defendê-lo na Lava Jato. No diálogo, o empresário pergunta como poderia fazer a entrega das malas com os valores. "Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança", propôs Joesley. O senador respondeu: "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho".
Em outra gravação, Joesley e Aécio conversam sobre tentativas de barrar a Operação Lava Jato e anistiar o caixa dois no Congresso. A transcrição do áudio foi publicada na tarde desta quinta-feira (18) pelo site Buzzfeed.
Leia abaixo, na íntegra, a nota de Aécio Neves sobre sua saída da presidência do PSDB:
Comunicado do senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB
Em razão das ações promovidas no dia de hoje contra mim e minha família, quero afirmar que, a partir de agora, minha única prioridade será preparar minha defesa e provar o absurdo dessas acusações e o equívoco dessas medidas.
Me dedicarei diuturnamente a provar a minha inocência e de meus familiares para resgatar a honra e a dignidade que construí ao longo de meus mais de trinta anos de vida dedicada à política e aos mineiros em especial.
O tempo permitirá aos brasileiros conhecer a verdade dos fatos e fazer ao final um julgamento justo.
Para isso, decidi licenciar-me hoje da Presidência do PSDB que ocupo há mais quatro anos com extrema honra e dedicação. O Brasil precisa que o PSDB continue a ser o fiador das importantes reformas que vêm mudando o país.
Depois de ouvir inúmeros companheiros e seguindo o que determina o nosso Estatuto, estou apresentando à Executiva o nome do senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará, para assumir nessa interinidade a presidência do partido.
Aguardarei com firmeza e serenidade que as investigações ocorram e estou certo de que, ao final, como deve ocorrer num país onde vigora o Estado de Direito, a verdade prevalecerá e a correção de todos os meus atos e de meus familiares será reconhecida.
Senador Aécio Neves
Presidente Nacional do PSDB
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