Por "perfil incontrolável", advogado abandona defesa de Eduardo Cunha
O criminalista paranaense Marlus Arns anunciou nesta quinta-feira (18) que não defende mais o ex-deputado federal Eduardo Cunha. A decisão foi tomada um dia depois da divulgação de que o dono da JBS, Joesley Batista, estaria pagando uma mesada ao ex-presidente da Câmara para que ele se mantivesse em silêncio.
"O escritório Arns de Oliveira & Andreazza Advogados Associados, a partir de hoje (18), não advoga mais para o ex-deputado Eduardo Cunha, sendo que substabelece sem reservas para os advogados que já estão na defesa", divulgou a assessoria de imprensa do criminalista.
O UOL apurou que o fato de Cunha receber propina da JBS mesmo estando preso foi considerado a "gota d'água" pelo advogado, que optou por renunciar à defesa. Arns avalia que o seu agora ex-cliente tem um "perfil incontrolável".
Também responsável por processos de Cunha no âmbito da Lava Jato, o advogado Ticiano Figueiredo, de Brasília, afirmou que esteve ontem (17) com o ex-deputado no Complexo Médico-Penal de Pinhais e que, “até o momento”, não houve mudança na disposição do peemedebista em não fechar qualquer tipo de acordo de delação. Ele preferiu não comentar a saída de Marlus Arns da defesa do cliente pelo escritório no Paraná.
No final de março de 2017, Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, em decisão do juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde tramita os casos de primeira instância da Lava Jato. Marlus Arns era o advogado de Cunha neste caso. O MPF (Ministério Público Federal) denunciou Eduardo Cunha por receber propina em contrato da Petrobras para a exploração de petróleo no Benin, na África.
O que há na delação
Joesley Batista, um dos donos da JBS, encontrou Temer no dia 7 de março no Palácio do Jaburu. O empresário registrou a conversa com um gravador escondido. Em um trecho, Joesley inicia um diálogo sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após perguntar qual era a atual relação entre Temer e o ex-deputado, o empresário diz que zerou "tudo o que tinha de pendência" com Cunha. Mais para frente, no diálogo, Joesley afirmou: "eu tô bem com o Eduardo". Ao que Temer respondeu: "e tem que manter isso, viu".
Na quarta-feira (17), ao divulgar em primeira mão a delação de Joesley Batista, o jornal O Globo relatou que a resposta "tem que manter isso" seria a um aviso de Joesley de que estaria pagando uma mesada para manter o silêncio de Eduardo Cunha na cadeia. O diálogo, porém, tem trechos inaudíveis, tornando inconclusiva uma possível referência a um aval de Temer aos pagamentos mensais.
Em nota publicada ontem, Temer confirmou o encontro, mas disse que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha" e negou ter participado ou autorizado "qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".
Batista disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a Cunha depois de sua prisão e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango. Um homem de confiança de Cunha, Altair Alves Pinto teria recebido os valores. A casa dele no Rio de Janeiro foi alvo de um mandado de busca e apreensão.
Nesta mesma operação, Cunha recebeu ordem de prisão preventiva, mesmo estando detido em Curitiba desde o dia 19 de outubro do ano passado. Ele se encontra preso no Complexo Médico-Penal dos Pinhas, na região metropolitana de Curitiba.
* Colaborou Janaina Garcia, em São Paulo
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