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Brasília tem restos de bomba e vidros espalhados após protesto

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

25/05/2017 10h50Atualizada em 25/05/2017 17h25

A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, amanheceu nesta quinta-feira (25) com rastros do protesto violento que aconteceu na tarde desta quarta que reuniu 35 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal.

Em alguns pontos do gramado da Esplanada, também era possível perceber restos das bombas usadas pela Polícia Militar para dispersar os manifestantes. Além de terem vidraças quebradas, os prédios foram pichados. "Polícia assassina, verme e fascistas", dizia um trecho das mensagens. Diversas paradas de ônibus, com paredes de vidro, também foram destruídas. Cada uma, segundo o DFTrans, custa R$ 18 mil.

No local, funcionários da limpeza recolheram materiais que foram utilizados para depredar os ministérios da Cultura, Trabalho, Tecnologia, Integração Social, Saúde, Fazenda, Planejamento, Minas e Energia e um dos cartões postais da cidade: a Catedral.

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Militar faz a segurança de prédio depredado durante protesto da quarta-feira (24) na Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Imagem: Jéssica Nascimento/UOL

Dois, dos oito prédios, foram incendiados. Armados, soldados do Exército também fizeram cordões de segurança entre os locais. O presidente Michel Temer (PMDB) havia autorizado, por decreto, o uso de tropas das Forças Armadas para fazer a segurança dos prédios públicos da Esplanada, mas revogou a medida na manhã desta quinta após críticas da oposição, da base aliada e do Judiciário.

Alguns servidores, que foram liberados do trabalho, também ajudam a retirar pichações dos Ministérios.

Segundo o Serviço de Limpeza Urbana, cerca de 100 garis envolvidos na limpeza da manifestação continuam o trabalho de catação na Esplanada e uma maior concentração está no Estádio Mané Garrincha, no momento. Até agora, já foram recolhidas 11 toneladas e meia de lixo.

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Servidores ajudam a limpar pichações em fachada de ministério, em Brasília
Imagem: Jéssica Nascimento/UOL

Durante a manhã, o secretário de Segurança Pública, Edval Novaes, foi conferir o rescaldo do protesto. Questionado sobre o pequeno efetivo de policiais militares, ele garantiu que fez o que foi possível. "Nós disponibilizamos 3.000 homens para trabalhar. Isso é 25% do nosso efetivo. Para um protesto que prometia ser pacífico, era mais do que suficiente. Todos fomos pegos de surpresa."

No protesto, oito manifestantes foram presos e 49 pessoas ficaram feridas, duas delas gravemente - um homem que teve a mão dilacerada por um explosivo e outro com uma perfuração no maxilar por arma de fogo. A vítima que levou o tiro está no Hospital de Base de Brasília e encontra-se estável e fora de perigo. Ainda não há informações sobre a origem do disparo. Houve também oito policiais machucados.

Durante o ato, diversos manifestantes tentaram invadir a cerca de contenção, na avenida das Bandeiras, quando estava combinado com os organizadores que aquele limite não poderia ser ultrapassado. “Já tivemos manifestações maiores, e isso não culminou em danos como tivemos hoje”, disse o secretário.

A polícia militar empregou efetivo inicial de cerca de 3.000 policiais, 89 veículos e duas aeronaves. Pelo Corpo de Bombeiros, estiveram no local 586 servidores e 30 carros. Da Polícia Civil, foram mobilizados 45 profissionais, além de 40 agentes do Detran.

Servidores desaprovam destruição

Diversos servidores públicos se surpreenderam ao chegarem na Esplanada dos Ministérios. Muitos tinham ido embora mais cedo na tarde de ontem e não tinham ideia da destruição dos prédios. A servidora do Ministério da Agricultura Socorro Lira disse que ficou ''perplexa'' com a cena. Segundo ela, há outras maneiras de se protestar.

"Eu me tremi quando vi tudo quebrado e queimado. Eles [manifestantes] não devem colocar a vida da gente em risco. Não precisa dessa violência. É nosso direito protestar. Mas violência? Jamais. Nunca que eu iria para o meio dessa confusão. Eu tenho 45 anos de Brasília e nunca vi nada igual. Tinha guerra, bomba e fogo para todo lado", disse.

Clauber Rodrigues, 49, é servidor do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e trabalha no térreo do prédio, em que grande parte foi destruída. Ele estava lá no momento que começou a confusão e disse que várias pessoas chegaram a passar mal.

"Ainda bem que os seguranças do ministério agiram rápido. Levamos um susto. Estávamos concentrados quando ouvimos os barulhos das pedras e imediatamente nos mandaram evacuar o prédio. Estou muito triste. Destruição desnecessária."

Sobre a presença dos soldados do Exército, os servidores aprovam e pedem que os homens permaneçam por lá -- eles falaram à reportagem do UOL antes da revogação do decreto.

"Me sinto mais segura com os soldados aqui. Até deixei meu carro longe, caso haja um novo protesto e novas destruições. Mesmo assim, sei que o povo não está aguentando mais. É tanta decepção que eles agem assim", opinou a servidora do Ministério da Agricultura Celina Maria, 61.

Já para Rubens Magalhães, que trabalha há mais de 20 anos no Ministério da Saúde, os manifestantes não pensaram no risco de vida que os servidores passaram. "Nós estávamos trabalhando quando houve todo o tumulto. Estávamos tranquilos, sem machucar ninguém. Não consigo entender pessoas que invadem e queimam prédios. Não temos nada com isso. Uma grande sacanagem o que fizeram."