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"Líder" de esquema da Carne Fraca avança em negociação e deve citar Serraglio em delação

O ministro Osmar Serraglio, durante a posse no cargo no Ministério da Justiça - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - 7.mar.2017
O ministro Osmar Serraglio, durante a posse no cargo no Ministério da Justiça Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - 7.mar.2017

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

29/05/2017 18h57

Apontado como "líder e principal articulador do bando criminoso" --nas palavras do juiz federal Marcos Josegrei da Silva-- investigado pela operação Carne Fraca, o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, tem sua delação premiada ao Ministério Público Federal perto de ser concluída. Faltam poucas reuniões para que ele termine de prestar informações e o pacote seja submetido à homologação.

O ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que em conversa telefônica grampeada pela Carne Fraca se refere a Gonçalves como "grande chefe", é um dos alvos da delação, apurou o UOL. Por conta do foro privilegiado do político --mesmo que não assuma o Ministério da Transparência e Controle, ele é deputado federal--, a colaboração deverá requerer a participação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Gonçalves comandou o Mapa no Paraná entre 2007 e 2014 e de junho de 2015 a abril de 2016. No fim do mês passado, foi acusado pelo MPF de crimes como organização criminosa, corrupção passiva privilegiada, prevaricação (agir contra sua função para para satisfazer interesse pessoal), concussão (exigir vantagem indevida) e violação de sigilo profissional. 
 
Para o MPF, as investigações mostraram que "o esquema no Paraná era comandado por Daniel Gonçalves Filho e pela chefe do Setor de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa/PR), Maria do Rocio Nascimento, que trabalhavam em Curitiba. Outros fiscais agropecuários participavam das irregularidades e mantinham contato direto com a dupla que liderava a quadrilha. Da mesma forma, representantes das empresas envolvidas atuavam de tal forma a manter o funcionamento do esquema criminoso".
 
Poucos dias depois da denúncia, começou a tratar de sua delação. Já contratara, antes, o advogado paranaense Adriano Bretas, que também é responsável pelas delações premiadas do ex-ministro Antonio Palocci, o ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido, ex-PT-MS) e o doleiro Alberto Youssef.
 

A conversa com o ministro

Na decisão em que deflagrou a Carne Fraca, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Criminal Federal de Curitiba, relatou a conversa entre Gonçalves --que era grampeado, com autorização judicial, pela PF-- e Serraglio, então deputado federal.
 
"Em conversa com o Serraglio, Daniel é informado acerca de problemas que um frigorífico de Iporã (620 km a noroeste de Curitiba, e próxima a Umuarama, cidade em que o peemedebista, gaúcho, construiu carreira política) estaria tendo com a fiscalização. Logo após encerrar a ligação, Gonçalves ligou para Maria do Rocio [Nascimento, também apontada como comandante do esquema], contando-lhe que o fiscal de Iporã quer fechar o frigorífico. Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. Ela então obedece à ordem e em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, informação esta depois repassada a Serraglio", anotou Josegrei.
 
É nessa conversa que o político saúda Gonçalves como "grande chefe". "Ela dá uma boa pista do que há na delação [contra Serraglio]", disse ao UOL uma fonte que acompanha as conversas do ex-superintendente regional do Mapa com os procuradores do MPF.
 
Após a gravação vir à tona, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse ter sido pressionada por deputados federais paranaenses do partido para não demitir Gonçalves: Serraglio e Sérgio Souza. Um assessor de Souza, Ronaldo Troncha, disse à PF que o atual ministro da Justiça participou da articulação para nomear o agora delator para o cargo que ocupou entre 2007 e 2016.
 

Outro lado

Procurada pela reportagem para comentar a presença do ministro na delação de Daniel Gonçalves Filho, a assessoria de Osmar Serraglio --ainda instalada no Ministério da Justiça-- respondeu o seguinte: "A única informação a respeito é de que, a princípio, trata-se de proposta de delação apresentada. Aparentemente o assunto está ainda em andamento, sem conclusão ou homologação. Quanto ao 'grande chefe' relembramos que isso já foi tema de diversos pronunciamentos públicos do ministro. Ele já contextualizou o termo exaustivamente".
 
Em entrevistas nos dias seguintes à operação, deflagrada em 17 de março, Serraglio disse que ligou para Gonçalves porque o frigorífico ficava a 50 km da cidade dele, Umuarama, para "defender o setor que defendo sempre, o setor agropecuário". 
 
Nota divulgada pelo Ministério da Justiça no dia 13 de março, quando Serraglio era o titular da pasta, afirmou que "o minsitro soube hoje, como um cidadão igual a todos, que teve seu nome citado em uma investigação. A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo Juiz Federal é a de que não há qualquer indício de irregularidade nessa conversa gravada".