Serraglio recusa Ministério da Transparência e volta para a Câmara
O ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR) decidiu não aceitar o convite do presidente Michel Temer (PMDB) para assumir o ministério da Transparência. Dessa forma, Serraglio voltará para a Câmara e o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado com uma mala de dinheiro pela Polícia Federal, pode perder o foro privilegiado.
Em nota, Serraglio agradece a Temer e diz que procurou "dignificar" o cargo. "Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Agradeço o privilégio de ter sido Ministro da Justiça e Segurança Público do nosso país. Procurei dignificar a confiança que em mim depositou. Volto para a Câmara dos Deputados, onde prosseguirei meu trabalho em prol do Brasil que queremos."
No domingo (28), o Palácio do Planalto informou que faria uma troca de postos entre Serraglio e o então ministro da Transparência, Torquato Jardim. No entanto, desde então, Serraglio se manteve em silêncio e não confirmou que aceitaria a troca. Jardim assumiu a pasta da Justiça.
Segundo apurou a reportagem do UOL, Serraglio se reuniu nesta segunda (29) com o líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP). O objetivo de Rossi era convencer Serraglio a aceitar o ministério.
Entretanto, Serraglio teria ficado extremamente chateado com a forma como as negociações foram feitas entre a bancada do partido e o Planalto e, assim, recusado o "convite".
A confiança do Planalto de que Serraglio aceitaria a pasta era tanta que a Presidência chegou a confirmar Serraglio no novo cargo.
Logo após voltar de São Paulo, Temer seguiu para o Planalto, onde se encontrou com o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi. Rossi teria sido o responsável por articular a ida de Serraglio para a Transparência. Segundo apurou o UOL, o líder teria assegurado ao Planalto de que estava "tudo resolvido". Pela manhã, ele participou de evento empresarial em São Paulo.
Loures era suplente de Serraglio e, com a volta do ex-ministro a Câmara, perde o posto.
Uma saída política para que Rocha Loures não perca o foro privilegiado é convidar um deputado federal do PMDB do Paraná para o Ministério da Transparência ou o da Cultura, também vago. Dessa forma, ao assumir por ser suplente, Rocha Loures seguiria com uma cadeira na Câmara.
Pouco mais de 2 meses no Ministério da Justiça
A saída de Serraglio do Ministério da Justiça vinha sendo discutida há pelo menos um mês pela bancada do PMDB na Câmara junto ao Planalto e passou longe de ser amigável. Segundo apurou a reportagem do UOL, Serraglio foi considerado um ministro "fraco e incompetente" pelos aliados mais próximos de Temer.
"No primeiro mês já deu para ver que a escolha tinha sido totalmente errada. Com um mês, Serraglio já estava queimado. Ele ficou o quê? Menos de dois meses? Todo mundo sabia que ia sair. Já era esperado. O inesperado foi sexta [dia em que a presidente do BNDES, Maria Silvia, pediu demissão]", afirmou um assessor de Temer.
Serraglio, porém, acreditava contar com o respaldo do presidente e chegou a dizer a interlocutores recentemente que "se tem uma pessoa que não vai cair nesse governo, sou eu”.
Temer deu posse ao ex-ministro da Justiça em 7 de março, data em que o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, gravou conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, onde Temer e a família moram.
No áudio, Temer supostamente não teria se oposto a crimes relatados por Batista e teria dado aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do doleiro Lúcio Funaro, ambos presos na operação Lava Jato.
Com a delação de executivos da JBS, da qual a gravação faz parte, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu abrir inquérito para investigar se Temer cometeu crimes de corrupção passiva, formação de organização criminosa e obstrução de Justiça, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Justificativas para saída
Algumas justificativas alegadas por assessores de Temer para a saída de Serraglio da Justiça são a ausência dele em reuniões sobre o Plano Nacional de Segurança no Planalto, o diálogo ruim com indígenas e o envolvimento dele na operação Carne Fraca - que apurou irregularidades em frigoríficos no país.
Além de não cuidar dos efeitos negativos na exportação de carnes, que tiveram de ser amenizados pelos ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores, Serraglio teve o nome citado na investigação da Polícia Federal. Foi interceptada ligação telefônica entre o ministro e Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, na qual Serraglio chama Filho de “grande chefe”. Segundo a PF, Gonçalves Filho era "o líder da organização criminosa" que atuava no órgão. Serraglio teria tentando interferir em favor de uma empresa. Subordinada ao Ministério da Justiça, a PF, no entanto, afirmou que não viu indícios de ilegalidade na conduta do ministro.
A gota d'água para a saída de Serraglio teria sido a ausência dele nos encontros preparatórios para o protesto de quarta-feira (24) que transformou a Esplanada dos Ministérios em cenário de guerra. Embora a informação não conste na agenda oficial de Temer, Serraglio teria se reunido com o presidente pelo menos seis vezes na última semana, afirmam membros de sua equipe.
Na sexta passada, o então ministro da Justiça chamou os manifestantes de vândalos, mas não comentou o possível excesso da Polícia Militar do Distrito Federal, que foi flagrada disparando contra pessoas no local com armas de fogo. A entrevista coletiva, convocada pelo Planalto, foi encerrada por uma assessora de Temer antes que todas as perguntas feitas pelos jornalistas fossem respondidas.
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